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Emoção no desfile de Lacroix, brilho em Armani, sobriedade em Lins

07/07/2009 16h35

PARIS, França, 7 Jul 2009 (AFP) - "Christian Lacroix forever". Esta era uma das frases lidas em um cartaz em meio a aplausos intensos: o público do desfile de alta-costura de Christian Lacroix demonstrou toda a sua admiração pelo estilista, na esperança de que ele siga criando quando, justamente, sua Casa corre o risco de fechar.

Somente 280 convidados puderam assistir ao desfile, o mais esperado da semana de alta-costura parisiense para a próxima temporada outono-inverno, e que poderia ser o último da marca de Lacroix.

Em um salão do Museu de Artes Decorativas, Lacroix apresentou uma coleção mais curta do que o habitual em suas criações, muito sombrio, com uma paleta de cores predominantemente preta e em tons de azul-escuro, iluminada por bordados dourados.

O público aplaudiu sua parisiense em vestido trapézio azul-noite com costas desnudas, capa preta com pala bordada em ouro, além de outros modelos marcantes, como um vestido branco estampado com traços pretos como pinceladas no tecido.

Saias plissadas apareceram bordadas com miçangas, as mangas dos casacos com bordados de ágata, e laços adornando um vestido justo assimétrico.

A noiva, tradicional modelito no final de grandes desfiles, lembrava uma santa com um vestido de babados em renda e bordados dourados, com botões de rosas coloridos em contraponto com o branco do tecido brilhoso.

Esta coleção de 24 modelos foi produzida com as reservas de tecido da Maison e com o apoio do bordador Hurel e do design de sapatos Roger Vivier. As modelos não cobraram cachê para este desfile.

"É uma coleção muito radical, muito concentrada, declarou Christian Lacroix em entrevista à AFP. "Em uma situação como esta, tem que se encontrar a quintessência do que se ama", acrescentou.

Para o estilista, nos tons escuros da coleção "não há nenhuma conotação de luto". "Gosto muito da cor preta. Teria que ser uma coleção bastante abstrata, gráfica, como uma pincelada", disse Lacroix.

Suas clientes não aceitam que tenha se fechado um capítulo na história da moda. "Não posso acreditar que seja o fim", Chistian Lacroix "é tão multifacetado, tem tanto talento que tem que existir um cavaleiro branco" que o salve; "do contrário, ele seguirá de outra maneira", declarou Barbara Wirth, decoradora e amiga do estilista.

Na Maison Giorgio Armani o ambiente era festivo, com uma coleção glamurosa de lantejoulas e strass, lamês dourados e prateados, em um verdadeiro guarda-roupa de estrela concebido para brilhar. Quando o tecido é discreto, como nos looks de lã cinza ou veludo negro, grandes colares prateados ou zíperes-jóias trazem brilho à coleção. As jaquetas de veludo aparecem bordadas com cristais, as camisas com botões de jóias, os simples tops de rede de seda com brocados de strass.

No extremo oposto, Gustavo Lins, o único brasileiro presente, propôs uma coleção apurada e serena, mantendo os temas de suas criações anteriores, com inspiração na arquitetura e no minimalismo de cores e detalhes de linhas assimétricas. "É a síntese de tudo o que fiz desde o princípio" a partir de quimonos, do vestuário masculino, da porcelana, disse o estilista.

Lins reestrutura os "trenchs", as jaquetas e as camisas com colarinho ou mangas de quimono, criando vestidos fluidos de construção sofisticada, adornados com colares de pele e porcelana. "O que me interessa é criar roupas que podem durar pelo menos sete anos, que sejam sólidas e que sua identidade imaginária resista ao tempo", disse à AFP o estilista brasileiro, que se declara "afligido" por uma "sociedade em que tudo acontece muito rápido, em que se consome demais, em que ninguém sabe quem é quem".