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Chanel resgata tradição artesanal com costureiras na passarela de Paris

Chanel mostrou a coleção Inverno de alta-costura nesta terça-feira (5) - Getty Images
Chanel mostrou a coleção Inverno de alta-costura nesta terça-feira (5) Imagem: Getty Images

06/07/2016 12h50

A alta-costura reivindicou sua excelência artesanal na coleção de Karl Lagerfeld para Chanel apresentada nesta terça-feira (5), enquanto a indústria da moda vive uma era de mudanças.

Um dia depois da maison Dior usar os códigos do legado de seu fundador com uma coleção de branco e preto, Lagerfeld fez o mesmo com um desfile que colocou em cena as costureiras dos ateliês da Chanel.

As modelos perambulavam pela passarela enquanto, em segundo plano, se via as funcionárias da confecção, engomadeiras e "petites mains" (como são chamadas essas verdadeiras operárias da moda) costurando, cortando e alfinetando. "Sem essas damas, a alta-costura não existiria", disse Lagerfeld. "É divertido que a gente possa ver como se faz o grande luxo."

A coleção de 70 looks teve múltiplas variantes do famoso "tailleur" inventado por Coco Chanel, com a inovação para o Inverno 2017 de ombros chanfrados.

A reivindicação da tradição artesanal e de seu legado soou como uma marcação de território por parte das duas maiores maisons da moda francesa, Dior e Chanel.

A tática é importante principalmente frente aos ventos de mudanças sobre a indústria causados pelo fast fashion e marcas iconoclastas como Vetements, que estão alterando o calendário tradicional das temporadas para aumentar a renda.

As "petites mains", como são chamadas as costureiras da marca, estavam na passarela - Getty Images - Getty Images
As "petites mains", como são chamadas as costureiras da marca, estavam na passarela
Imagem: Getty Images


"Isso é verdadeiramente artesanal, não são peças por si só", disse Lagerfeld. "No tenho nada contra a 'fast fashion', mas isso é outra história", disse o "kaiser" da moda.

Fazer, sonhar e vender
O cenário de seu próprio ateliê no desfile montado no Grand Palais --o verdadeiro está a poucas seis quadras dali, na rue Cambon-- incluiu apenas as costureiras e não as dezenas de artesãs que trabalham plumas, plissados e couro, e que participam da fabricação de cada modelo de alta-costura.

Como Lagerfeld não dá ponto sem nó, exibir a árdua tarefa de fabricação dos modelos (alguns dos quais demandam centenas de horas de trabalho) permite mostrar "porque são tão caros".

A top britânica Edie Campbel encerrou o desfile como uma noiva usando jaqueta rosada com gola de plumas e calças amplas em acetinadas. "Adoro uma noiva de calças", disse Lagerfeld. "Da próxima vez vou colocar uma de mais de quarenta anos, mas vestida de azul-marinho", acrescentou.

A Semana de Alta-Costura termina nesta quarta-feira (6) com o esperado desfile de Valentino e a provável última coleção conjunta a cargo de Maria Grazia Chiuri e Pierpaolo Piccioli: a italiana está a ponto de ser nomeada para a criação da Dior, substituindo o belga Raf Simons.

Outros estilistas que apresentaram suas coleções em Paris também defenderam o estatuto da alta-costura, seu apoio à criatividade e ao modo de vida ocidental, entre eles o italiano Giambattista Valli.

A "couture" (alta-costura), disse Valli em entrevista à AFP, "traz luz a um mundo duro e sombrio, traz leveza, mas também trabalho, além de fazer sonhar e permitir compartilhar esses sonhos com as pessoas que amamos".