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Morre a estilista francesa Sonia Rykiel, a rainha do tricô e das listras

25/08/2016 10h52

De silhueta esbelta, vestida de preto e com cabelos ruivos, a "rainha do tricô" Sonia Rykiel, morta nesta quinta-feira aos 86 anos, fez da liberdade e da sensualidade as chaves de uma moda chique e alegre, inscrita no movimento de libertação do corpo feminino. 

Figura familiar de Saint-Germain-des-Prés, onde estabeleceu sua principal boutique, a inventora da "démode" (um estilo sem complexos no qual cada pessoa adapta a moda a sua personalidade), nascida como Sonia Flis em Paris em 25 de maio de 1930, estreou no setor por acaso.

Nascida em um ambiente abastado, de pai francês e mãe romena, a mais velha de cinco filhas seguiu o caminho habitual de uma jovem de boa família. Ingressou em um instituto para meninas em Neuilly (Hauts-de-Seine), se casou e tinha apenas um sonho: ter dez filhos. Mas, ao ficar grávida, não encontrou roupas que gostasse, e começou a criar vestidos e pulôveres justos, vendidos na loja de seu marido, no famoso distrito XVI de Paris. O chamado "Poor Boy Sweater" teve um sucesso imediato e chegou à capa da revista Elle: as mulheres brigavam para levar uma peça.

Seis anos depois, em pleno Maio de 68, Sonia Rykiel abria sua primeira boutique no Quartier Latin. Naquele momento não sabia nada de moda, nem costurar, nem tecer, e as dúvidas tomavam conta dela a todo momento.

"Todos os dias dizia a mim mesma: 'Vou fechar, porque não sei o que faço, não sei nada", confessaria anos mais tarde. A jovem pendurou algumas roupas na vitrine, acompanhadas por livros. "Jamais pude separar a literatura da moda, formam parte da mesma história", dizia esta amante das letras, que escrevia sobre seus pulôveres palavras como "amor", "artista" ou "sexo", na forma de pequenos manifestos.

Início na moda
Após 10 anos de dúvidas, Rykiel decidiu apostar no mundo da moda. Uma moda distante das tendências, que ela concebia para uma mulher ativa, interessada pela atualidade mundial, "intelectual" e livre, como as mulheres que nos anos 80 tiravam seus sutiãs e proclamavam alto e forte que seu corpo lhes pertencia.

Hedonista e sedutora, a criadora utilizava especialmente o tricô "pela ternura, pela doçura", o veludo, as lantejoulas. Foi Rykiel quem lançou as costuras invertidas. Fez do preto a cor da feminilidade e da sedução, e tornou famosos seus pulôveres de listras coloridas, decorando suas roupas com temas ou palavras em lantejoulas.

Sonia Rykiel preconizou a "démode", convidando as mulheres a rejeitar os "diktats" dos estilistas para criar seu próprio armário, adaptado ao seu corpo e a sua personalidade.

Estilista na literatura
Paralelamente à moda, esta mulher sedutora que adorava mentir, esta hedonista que se entregava ao prazer do chocolate, do vinho e dos charutos, também se dedicou à escrita.

Com muitos escritores em seu círculo de amigos, entre eles outra célebre ruiva, Régine Deforges, publicou uma dezena de livros, incluindo a compilação de contos dedicada as suas netas, "Tatiana Acacia: 12 contes" (1993), e "N'oubliez pas que je joue", onde abordou sua doença, o mal de Parkinson (2012).

O negócio ficou sempre em família. Seu clã era indispensável a ela e sempre se cercou de entes queridos, sua irmã Danièle e, sobretudo, sua filha Nathalie, que trabalhava com ela desde a década de 1980. Também tinha um filho, Jean-Philippe, que se dedicou à música.