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Mancinelli, o alfaiate dos cardeais, faz 80 anos em plena atividade

O alfaiate Raniero Mancinelli - Vicenzo Pinto/AFP
O alfaiate Raniero Mancinelli
Imagem: Vicenzo Pinto/AFP

Cidade do Vaticano

23/06/2017 17h21

A poucos dias da introdução de cinco novos cardeais no Vaticano, o alfaiate italiano Raniero Mancinelli corre com o corte e a costura dos trajes para os novos príncipes da Igreja. Mancinelli, que fará 80 anos em julho, viu clientes de todos os cantos do mundo católico desfilarem pela sua pequena loja familiar, a poucos metros do Vaticano.

Trata todos com familiaridade, desde a feira filipina indecisa que pondera a compra do cálice mais barato até o jovem padre brasileiro que adquire metros de bordados dourados, passando pelo irlandês que se espreme em uma túnica litúrgica brilhante de tamanho único. "Você vai ser o primeiro papa negro", diz Mancinelli a um bispo africano enquanto toma suas medidas. "Espero que não", responde rapidamente o religioso.

No entanto, por trás dos sorrisos, se nota certa apreensão. O alfaiate precisa de tempo para se dedicar, no seu ateliê atrás da loja, à confecção da vestimenta de quatro dos cinco novos cardeais. Para isso, confia na sua antiga máquina de costura italiana "Necchi", de 1950. "Esta é a Ferrari" da costura, assegura orgulhoso. Para elaborar o traje tradicional de cada cardeal, ele precisa de ao menos uma semana.

O tempo urge

Em 28 de junho Francisco introduzirá cinco novos cardeais, naturais de El Salvador, Espanha, Laos, Mali e Suécia. Alguns deles vieram pessoalmente a Roma com ocasião da nomeação, anunciada há um mês, e aproveitaram para encomendar o traje. outro enviou as medidas através de um assistente.

Às vezes, o trabalho de Mancinelli é facilitado quando ele tem que vestir clientes de longa data para o seu grande dia, embora admita: "Eu ainda tenho que verificar as medidas um pouco, para ver se eles engordaram na barriga!"

A vestimenta dos cardeais, que no passado incluía mais batinas de seda e véus bordados à mão, hoje é menos pomposa, mas ainda deve ser de cor vermelho-sangue, como manda a tradição.

A peça-chave, que simboliza a função de conselheiro do papa, é o barrete quadrado com uma borla no meio, que o pontífice colocará na cabeça dos novos "príncipes da Igreja" quando eles se ajoelharem diante dele, em um dos rituais mais solenes e espetaculares celebrados na basílica de São Pedro.

Vestimenta mais simples

A batina, a faixa de seda e a mozeta (capa curta que cobre os ombros) devem ser entregues ao Vaticano poucos dias antes do grande evento. Os tecidos leves e suaves utilizados devem vir de fornecedores oficiais e devem ter o mesmo tom de vermelho.

Os pequenos luxos que os servos orgulhosos de Deus compravam para marcar a ocasião no passado não são tão populares desde a eleição, em 2013, de um papa que defende "uma Igreja pobre para os pobres". "Eles compram apenas o básico agora", disse Mancinelli.

"Com Francisco, os cardeais querem as coisas um pouco mais simples. Antes usávamos apenas seda, e agora misturamos seda e lã, tecidos que são um pouco mais baratos, um pouco mais modestos", acrescenta. Quando foi nomeado bispo, o então futuro papa argentino Jorge Bergoglio comprou de Mancinelli a pequena cruz de metal que ainda usa.

A grande cruz de ouro com pedras preciosas se tornou uma peça de museu: a Igreja do papa Francisco não quer ser identificada com riqueza e ostentação. Alguns prelados até optam por uma cruz de madeira, de preço modesto. As vestimentas também se tornaram menos extravagantes ao longo dos anos, especialmente desde a década de 1960.

A capa longa foi eliminada, assim como o chapéu plano e os sapatos com fivelas. Muitos agora usam um calçado normal, e inclusive as meias de cor púrpura deixaram de ser obrigatórias. A batina preta de uso diário já não precisa ter 33 botões - principalmente quando o cardeal tem baixa estatura.

A maior façanha de Mancinelli foi ter vestido e equipado 12 novos cardeais de uma vez, conta. E por enquanto ele não tem nenhuma intenção de pendurar as tesouras.