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Passarela do SPFW fala de natureza, glamour e política

02/11/2013 07h00

A programação do último dia de São Paulo Fashion Week fez jus a seu tema deste ano: deslocamentos. A jornada começou com desfile do estilista Lino Villaventura no CEU Casa Blanca, na zona Sul da cidade; seguiu com a agenda oficial no Parque Villa-Lobos; e terminou com a visita da ministra da Cultura Marta Suplicy ao desfile da coleção masculina de Alexandre Herchcovitch.

A passagem de Marta, que também assistiu à última apresentação da noite e da semana, a de Samuel Cirnansck, é estratégica em ano em que o setor enfrenta polêmica por conta da aprovação pelo MinC de três projetos de desfiles dos estilistas Ronaldo Fraga, Pedro Lourenço e Herchcovitch para que captem verba por meio da Lei Rouanet de incentivo à cultura. Um dos principais pontos de crítica dos que se opõem à aprovação é justamente o acesso da população aos desfiles.

"A moda não é só um desfile com 400 pessoas. O povo já tem acesso à moda. Os desfiles da São Paulo Fashion Week estão em todas as televisões. Estamos criando uma cultura de moda. A população sabe sim o que é moda", declarou a ministra nesta sexta-feira, 01,, em conversa com a imprensa logo após o desfile masculino de Alexandre Herchcovitch. "Sem contar que todos os projetos tinham uma parte dedicada à contrapartida para a população, como apresentações extras, cursos e exposição", continuou.

Frio na barriga

A iniciativa da SPFW de levar o desfile de Lino Villaventura ao CEU, em parceria com a prefeitura da cidade, o que já havia ocorrido na edição passada com o desfile de Ronaldo Fraga, vem ao encontro desta demanda. Lino apresentou os mesmos looks desfilados na noite de quinta-feira, no Parque Villa Lobos, para 450 alunos que lotaram o teatro do CEU. E falou de seu processo de criação, influências, e de como é o trabalho na moda. "Estou muito feliz em estar aqui, e com o mesmo frio na barriga que senti ontem. É a primeira vez que assisto ao meu próprio desfile e isso me deixou mais nervoso ainda", comentou.

Já durante a tarde, no parque, quem abriu a programação foi Reinaldo Lourenço, que evocou um glamour displicente ao estilo das francesas, Reinaldo Lourenço propôs um inverno digno de atenção. Na passarela, elementos clichês, mas certeiros, que representam o luxo: o dourado, o leopardo e as sandálias com meia-calça fina.

A linha do estilista começa com calças, ternos e saia lápis, sempre em cortes retos e com a cintura bem marcada. Esse estilo de saia, aliás, promete ser hit da estação e, na coleção de Reinaldo, ela ganha fendas longas. A estampa de leopardo é disfarçada nas cores roxa e vermelha e colore casacos longos, sobretudos e micro e macro camisetas. O dourado e o prateado iluminam vestidos longos e curtos, rentes ao corpo, e que são destaques pelos recortes que criam grafismos e que têm o tule e o musseline como forro. O tule aparece também com foco em transparência.

Em seguida, a Amapô reviveu o espírito da década de 1970, traduzido em cinturas bem altas boca em sino e muitas flores. A barriga de fora, o cropped, o jeans com jeans e a mistura de estampas: todos esses elementos característicos da década renascem na passarela da marca. Reconhecida pelo excesso de cores e estampas, nessa estação, a marca vem mais contida e concentrada em uma pesquisa de época bem interessante.

Alexandre Herchcovitch, por sua vez, ocupou em seguida a passarela com uma coleção masculina poderosa e pesada, inspirada no cangaço brasileiro. Nesta linha, referências ao militarismo dos cangaceiros, bolsas à tiracolo, estampas de jaguatirica (a onça brasileira) e até mesmo vestidos, em uma coleção andrógina e ao mesmo tempo muito masculina. "Quis homenagear o cangaço, um movimento que sempre primou pelo estilo de sua indumentária. É uma releitura muito particular, mas muito brasileira também", declarou o estilista.