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Crise leva americanas a vender jóias de ouro

Rajesh Mirchandani <BR><br/> De Orange County para a BBC News

04/03/2009 10h07

Em uma mansão de um bairro de classe alta o vinho é abundante, assim como as risadas, e os canapés são recusados com elegância por mulheres vaidosas que querem manter a linha.

CRISE LEVA AMERICANAS A VENDER JÓIAS DE OURO



Cerca de 15 mulheres estão reunidas em uma sala de jantar espaçosa nesta casa confortável no condado de Orange County, na Califórnia, mostrando todas as suas joias.

A renda no rico condado é 25% mais alta do que a média do Estado e o desemprego é mais baixo. Mas até aqui, a recessão americana está sendo sentida. O preço dos imóveis caiu quase 30% e agora cerca de uma em cada 250 casas corre o risco de ser retomada pelo banco por falta de pagamento da hipoteca.

Os ricos dos Estados Unidos estão sofrendo com a crise, por isso esta é uma reunião diferente: é uma festa do ouro. As convidadas trazem joias velhas que não querem mais e as vendem. É a festa do tupperware dos tempos difíceis, um verdadeiro adeus-aos-balangandãs.

Festas do ouro também são realizadas em outros Estados. Mas, na Califórnia, empresas como a de Erin Stevenson - que tem cerca de 11 representantes que organizam até três festas por semana - nunca estiveram tão ocupadas.

Na casa da anfitriã, Stephanie West, que recentemente teve uma aposentadoria prematura após anos no setor de aviação, Erin e sua equipe de compradoras examinam a qualidade e pesam os balangandãs das convidadas.

A própria Stephanie tem uma sacola cheia de joias de ouro que possui há anos, presentes de namorados antigos que ela nunca vai voltar a usar. Várias outras trazem o mesmo: artigos antes tão apreciados e hoje presentes indesejados.

Erin paga cerca de 60% do preço de mercado, e vende o ouro para uma fundição por cerca de 95% da cotação atual. As mulheres são pagas mais de US$ 900 por onça (28 gramas) e não veem motivos para reclamar do negócio.

Aqui pelo menos, as festas do ouro não são uma luta pela sobrevivência. São mais uma forma que a classe média de cinto apertado encontrou para conseguir um dinheiro extra.

Muita gente diz que vai gastar o dinheiro obtido em extravagâncias - uma peça de arte ou uma refeição especial para a família.

Amie Larson, que diz ter quatro empregos, diz que está vendendo o ouro que recebeu de presente do ex-marido para financiar a festa de aniversário do parceiro atual.

Depois que o ouro é pesado e separado por pureza, Erin calcula o valor total a ser pago para cada convidada. O vinho ajudou a criar um clima relaxado, mas quando os cheques são preenchidos é que a festa realmente começa a esquentar. E as quantias não são módicas.

A anfitrião Stephanie Hunt recebeu US$ 477 e a cabeleireira Amie Larson, US$ 416. Já a convidada Bebe Bach foi a que mais ganhou - um cheque de US$ 541. Outras mulheres levaram entre US$ 100 e US$ 200.

Uma me disse: "São US$ 100 a mais do que eu trouxe comigo". Com a recessão castigando os Estados Unidos, parece que até os moradores mais ricos estão valorizando cada centavo.