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Weider Silvério faz boas referências a Michael Jackson em noite fraca de encerramento na Casa de Criadores

VITOR ANGELO<br><br>Colaboração para o UOL

28/11/2009 02h43

Infelizmente o último dia das coleções da Casa de Criadores, apresentadas nessa sexta-feira (27), no Shopping Frei Caneca, em São Paulo, foi o mais fraco desta edição Inverno 2010, com os desfiles do projeto Ponto Zero, Geraldo Couto, André Phergom, Diva, Prints I Like, Weider Silvério e Gustavo Silvestre.

  • Marcelo Soubhia/AgFotosite/UOL

    O estilista Weider Silvério mostrou coleção inspirada no cantor Michael Jackson


Sem um destaque principal, a programação acabou ressaltando problemas que já haviam aparecido ao longo da semana, mas que, em meio a lampejos de boas ideias e o brilho da personalidade de alguns estilistas, acabaram esquecidos. É muito importante que as criações tenham um bom acabamento, o que aconteceu raramente nas coleções apresentadas no evento. Os estilistas também não devem tentar dar um passo maior do que a perna. Um exemplo é o excesso de ombreiras mal feitas, engenhosamente "experimentais" para camuflar a falta de técnica. Ombros fortes são tendência, mas quando um estilista ainda não possui "know how" ou personalidade para fazê-los deve procurar outras saídas, até porque não precisam necessariamente seguir tendências. Outro fato diz respeito à edição dos desfiles, muitas vezes mal contadas, narradas de forma repetitiva ou confusas. Isso tem melhorado, mas é preciso um acerto definitivo, para que as coleções fiquem para além do amadorismo.

A noite começou com o Ponto Zero, projeto (e premiação) para alunos das escolas de moda que se mostrou mais travado e menos interessante que o Lab e até mesmo que o Fashion Mob, que teve uma participação anárquica e feliz ao fim dos desfiles desta sexta. Desfilaram no Ponto Zero: Leandro Gabionette (Universidade Anhembi Morumbi), Ana Paula Becker (Centro Universitário Belas Artes), Bruno Gonzaga (Fundação Armando Álvares Penteado), Alice Sinzato e Helena Luiza Kussik (Santa Catarina Moda Contemporânea), Cynthia Hayashi (Santa Marcelina), Cristiane Carla Soares (Senac) e Ana Beatriz Almeida e Claudia Leimi Yasumura (USP). De todos, o que se mostrou com mais personalidade de moda foi Bruno Gonzaga com uma cartela de cores ousada, uma bacana brincadeira com texturas e um belo vestido de paetês colorido. Ao final, foi anunciada a vencedora Cynthia Hayashi, responsável por apresentar uma coleção que lembrou um pouco o trabalho da estilista Erika Ikezili -e isso é um elogio -, com um interessante trabalho de formas e aplicações de pequenos tecidos sobrepostos.

Geraldo Couto olhou para o filme "De Olhos Bem fechados", de Stanley Kubrick, e mostrou bons minivestidos com brilho e um uso inteligente do lamê. O ponto alto foram os últimos looks dourados em paetês. O vestido final, longo no mesmo material, no entanto, não funcionou, com a modelo Marina Dias tendo de segurá-lo para poder andar. Menos ainda deram certo as aplicações de rosas.

André Phergom acertou nas camisas de meia-malha e nos moletons, em sua coleção dedicada a Portugal. Mas em nome da obsessão por ombreiras nessa temporada, caiu na cilada das proporções da alfaiataria, fazendo blazers em que o ombro estava nitidamente fora do lugar, mesmo . Esse mesmo erro nos ombros aparece na marca Diva. Apesar de um certo exagero cenográfico, a estilista Andréa Ribeiro fez alguns vestidos de festa interessantes como os acinturados de silhueta 50. A marca Prints I Like foi até o art noveau e o gótico para montar uma coleção fluida com cara de inverno brasileiro, mas ainda com alguns problemas de acabamento como as costas do último look.

Michael Jackson foi o ponto de partida para a graciosa coleção de Weider Silveiro. As estampas da lua nos tops fazendo referência ao moonwalk, o brilho no barrado dos vestidos, as medalhas e principalmente os vestidos curtíssimos, como o feito de canutilhos, foram o momento forte do dia. Ele ainda desconstruiu a jaqueta militar que o cantor adorava e, com os canutilhos, criou a boa sacada das dragonas. Weider se descuidou por não se descolar da imagem da grife Balmain, que durante duas temporadas fez referência à mesma jaqueta, aos ombros estruturados e ao brilho de minivestidos que aparecem também no desfile do estilista. Aqui não é uma questão de cópia, que fique bem claro, mas de imagem. A imagem produzida pela marca francesa e captada por Weider fez seu olhar não ser livre o suficiente. Mesmo assim, foi um bom momento de uma noite difícil.

Encerrando a 26ª Casa de Criadores, Gustavo Silvestre trouxe sua sempre inquietante pesquisa com os trabalhos manuais. O ponto russo e o chenile aparecem preciosos na coleção do estilista pernambucano, mas com uma edição confusa no começo, o que atrapalhou o segundo bloco de looks que era muito bom.