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Seminário Folha: "Gente é mais importante do que capital", diz dono da Ellus, sobre marcas de sucesso

CAROLINA VASONE

Editora de UOL Estilo

28/04/2010 17h14

No último dos dois dias do seminário “Construindo Marcas de Sucesso na Moda”, organizado pela Folha de S.Paulo e pela consultoria em moda Azov, um ponto ganhou ênfase no discurso de quase todos os palestrantes: a importância do profissional qualificado para o sucesso não só de criação, mas de manutenção de uma marca de moda de sucesso.

 

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    Na montagem, o dono da grife Ellus, Nelson Alvarenga (à esq), e o modelo Jesus Luz durante desfile da marca no SPFW

Dono da Ellus e sócio da InBrands (a holding de moda da qual fazem parte Herchcovitch, Isabela Capeto, a Luminosidade e a Richards, além da própria Ellus), Nelson Alvarenga foi a grande estrela da bateria de “raios x” de grifes desta quarta (28). Entre as dicas de estratégia de negócio dadas à plateia de cerca de 450 pessoas, Alvarenga citou a dificuldade que a InBrands enfrenta hoje para formar equipes que executem os projetos do grupo. “Gente é mais importante do que capital. Temos capital e ‘know how’, mas não temos gente para tocar. Isso acontece hoje na InBrands”, disse.

 

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    A modelo Raquel Zimmermann desfila a grife Animale da coleção outono-inverno no SPFW

Fundador da grife cujas peças são atualmente distribuídas para mil multimarcas no Brasil e no mundo (dos EUA à Ásia), o empresário contou um pouco da história da Ellus, que completa 38 anos em 2010 e é líder no ranking de vendas de jeans de luxo no Brasil. “Hoje somos um clássico. Isso não quer dizer que não tenhamos a obrigação de sermos modernos e totalmente atualizados”, afirmou.

 

Em quase quatro décadas de varejo de moda, Alvarenga lembrou os nove planos econômicos e as seis trocas de moedas pelos quais a grife passou desde 1972, quando foi inaugurada. “Faz [quase] 20 anos que só damos lucro. Só perdemos dinheiro em 1990, 91 e 92, por causa do plano Collor”, conta. Para os que querem abrir um negócio de moda, aconselhou. “Vocês são afortunados, porque estão entrando no mercado num momento de ciclo virtuoso. O Brasil está bastante arrumado na questão macro[econômica]. O próximo passo é o micro, o que significa [a busca por] excelência.”

 

Num discurso apaixonado, o criador da Ellus embargou a voz ao falar sobre os planos de investimento da InBrands nos nomes promissores para o futuro da moda brasileira: “Nós estamos gerando e educando filhos”. No final da palestra, chamou a responsável pela parte de recursos humanos do grupo ao palco e insistiu para que os interessados em trabalhar na holding entrassem em contato com ela.

 

Num tom parecido, Katia Alfradique, diretora comercial da Animale, fez questão de salientar o plano de carreira “verdadeiro, em que os profissionais podem crescer”, como uma das estratégias de sucesso da marca carioca. “Isso eu chamo do segredo: o time profissional”, afirmou.

 

Com lucro de R$ 4,365 milhões em 2009 e peças a preço médio de R$ 305, a Animale acredita também no foco nas 46 lojas próprias (não tem nenhuma franquia) e no produto mais comercial na arara. “O que é conceitual demais não vende”, acredita Kátia, referindo-se às coleções extremamente sofisticadas e complexas que a grife apresenta no São Paulo Fashion Week e que, infelizmente, são diluídas de tal maneira na coleção comercial que pouco sobra do perfume inicial, salvo um ou outro tom da cartela de cores.

 

Associada da Animale por meio de uma fusão, a também carioca FARM, depois de Alvarenga, foi a responsável pela palestra mais interessante da manhã, representada pelo sócio e um dos idealizadores da grife, Marcello Bastos.

 

Criada em 1997, a marca de moda jovem que hoje tem em sua sede até salão de beleza para as funcionárias começou sua trajetória de sucesso num estande de quatro metros quadrados na feira carioca Babilônia Hype. Com preços abaixo do mercado para o seu segmento e araras sempre abastecidas de novidades, a grife hoje tem 800 funcionários, 27 lojas, 1300 produtos diferentes por coleção e o maior valor de venda por metro quadrado entre as marcas de moda feminina brasileira do shopping Iguatemi de São Paulo.

 

Embora a combinação de peças que seguem tendência de moda com rapidez de oferta de novos produtos a preços razoáveis soe como fórmula de “fast fashion”, Marcello garante o contrário. “É um ‘slow fashion’. Fazemos toda a coleção seis meses antes”, contou ao UOL Estilo. Além disso, as lojas têm investimento de decoração e arquitetura sofisticado, o que nem sempre acontece em grandes cadeias de moda barata e rápida. “Sempre quisemos vender muito volume e ter um conceito. Não o melhor conceito, mas um conceito bacana.”

 

Marcas menores e voltadas para o público masculino, a Reserva e a Mario Queiroz também acreditam que dá para vender e imprimir informação de moda de qualidade às roupas. “O homem brasileiro não entende o ‘high fashion’. Queremos fazer moda de verdade, com conceito, mas totalmente comercial”, disse Rony Meisler, sócio da grife Reserva. Estilista há 25 anos e coordenador da parte de moda do IED (Instituto Europeu de Design), Mario Queiroz tem opinião parecida, e vai além. “O cliente quer que você o surpreenda. Às vezes a jaqueta ‘esquisita’ vende muito mais rápido que a t-shirt na loja.”