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Aos 71 anos, Carolina Herrera vende aristocracia para a mulher moderna

CAROLINA VASONE

Editora de UOL Estilo

20/12/2010 07h00

"Tudo o que você possa pensar, já foi feito por Saint Laurent." Esparramada elegantemente em um sofá no hotel Emiliano, em São Paulo, Carolina Herrera, em entrevista ao UOL Estilo, soluciona, com uma frase, a grande questão sobre a originalidade na moda. "O look safári, o look africano, o que Marc (Jacobs) acabou de mostrar para a Louis Vuitton, as hot pants, os looks com transparência, turbantes, a coleção russa. Tudo, tudo, tudo o que você possa pensar."

  • Keiny Andrade/UOL

    A estilista Carolina Herrera


Aos 71 anos, Carolina Herrera opina não só como estilista - carreira que começou aos 40, em 1981 - mas também como consumidora de moda. Era com Yves Saint Laurent, seu designer preferido, que costumava vestir-se quando ainda vivia em Caracas, na Venezuela. Filha de Maria Cristina Passios e Guillermo Acevedo, que foi ministro da Venezuela e governador de Caracas, ela começou a frequentar cedo as altas rodas da sociedade mundial. Aos 13 anos, viu seu primeiro desfile, o de Cristóbal Balenciaga, em Paris. Costureiro que vestia sua mãe, e mais tarde, vestiria sua sogra. Aos 30, já era considerada uma das mulheres mais bem-vestidas de sua época e musa de artistas como Andy Warhol e Robert Mapplethorpe.


Incentivada por Diane Vreeland, a lendária editora da Vogue America, e de quem era amiga, Carolina mudou-se para Nova York, lançou sua marca, parou de se vestir com outros costureiros para usar sua própria grife e fez muito sucesso. O que poderia ser uma história de conto de fadas do "jet set" mundial, porém, tem mais conexão com as mulheres contemporâneas do que se imagina. Divorciada num tempo em que moças de boa família não se divorciavam (foi casada com o fazendeiro Guillermo Tello e, depois, com Reinaldo Herrera, editor da "Vanity Fair", com quem vive até hoje), mãe de quatro garotas, determinada em construir uma carreira, Carolina Herrera também revela uma personalidade multifacetada, com os interesses variados que ela tanto gosta na sua clientela atual. "Minhas musas são as mulheres modernas de hoje. Eu amo o jeito como elas vivem. Elas são independentes, querem ser glamourosas, elas trabalham, tem filhos. Elas fazem muitas coisas como você, como minha filha Carolina (Jr., à frente da linha de perfumes da grife) também, que trabalha e tem três filhos e gostam de ser femininas, de ficarem bonitas. E elas têm muitos interesses, porque não é só o que elas vestem que importa; elas têm que ser cultivadas, ler bastante, fazer um monte de coisas", empolga-se.

  • Keiny Andrade/UOL

    A estilista Carolina Herrera e a filha Carolina Herrera Jr., responsável pela linha de perfumes da marca


Dona de um nome reconhecido no mundo todo seja pelos perfumes, seja pelas roupas, Carolina Herrera parece conversar como quem está do outro lado, o da sua clientela. Ou ainda de sua clientela em potencial. Ao abrir em 2001 sua segunda linha, a CH, que desembarcou em São Paulo em junho deste ano no shopping Cidade Jardim, a estilista almeja conquistar o segmento da moda mais casual. Sem perder, jamais, o glamour. "Eu gosto de luxo nas coleções. Nunca fiz nada diferente disso. As mulheres gostam de luxo. É muito especial. A simplicidade às vezes é entediante. Você tem que ter alguma coisa que atraía os olhos, porque há muitas roupas por aí", acredita.
 

Cabelo, maquiagem e figurino irretocáveis, pose de sílfide, Carolina Herrera é paradoxal. Simples e sofisticada. Ao mesmo tempo informal e aristocrática. Um tipo de aristocracia, no entanto, agradável, não opressora, e que Herrera parece querer transmitir à moda para as mulheres de hoje que tanto admira.

  • Keiny Andrade/UOL

    A estilista Carolina Herrera no final de seu desfile para o Verão 2011 em Nova York, onde a marca se apresenta (13/9/2010)


Com planos de abrir mais de uma loja CH em São Paulo e outra no Rio de Janeiro em breve, a designer afirma conhecer muitas mulheres brasileiras, algumas bem elegantes. " Mas há dois estilos diferentes. No Rio de Janeiro, é como estar em férias num resort durante todo o dia. Há o melhores biquínis e os melhores corpos do mundo. São Paulo é diferente, mas as mulheres gostam de moda aqui, não? Sei que viajam e compram muito em Nova York, Paris, Milão", palpita.


Sobre a moda brasileira, sabe dizer pouco. "Conheço o Carlos Miele, ele é muito talentoso. E aí conheço os biquínis, Rosa Chá e Lenny.  Mas não conheço muito", afirma, para rapidamente completar: "Quando são mostradas as coleções no Brasil? Então devo vir aqui e ver para conhecer melhor!" O São Paulo Fashion Week a aguarda com prazer, Mrs. Herrera.