Topo

Poema sombrio de Verlaine inspira inverno "streetwear bijou" da Chanel

Modelos desfilam coleção da Chanel entre carvão e fumaça cenográfica - Antonio Barros/UOL
Modelos desfilam coleção da Chanel entre carvão e fumaça cenográfica Imagem: Antonio Barros/UOL

CAROLINA VASONE

Enviada especial a Paris

08/03/2011 13h38

Os primeiros acordes de "A Forest", do "The Cure", tocaram e as grandes placas brancas com o símbolo da Chanel em cada lado da passarela começaram a descer, como pontes levadiças.  Simultaneamente, saía uma modelo de cada ponta e logo os vários metros por onde desfilavam se transformava numa rua de luxo, cercada de carvão que forrava de preto o chão do Grand Palais e soltava uma fumaça (cenográfica) que subia pelas laterais da passarela. O "streetwear bijou" da maison francesa era inspirado por um poema sombrio do francês Paul Verlaine, simbolista do final do século 19, poeta popular na França.

Uma floresta escura, como na música do "The Cure" (em versão gravada especialmente para o show por uma orquestra, com intervenções dos versos da canção original, produção assinada por Michel Gaubert), protagonizava os versos de Verlaine, que serviram de ponto de partida para Lagerfeld investir na mistura "rua x boutique" que incluiu jeans cinza estonados justíssimos usados por baixo de uma versão pop do clássico tailleur Chanel, sapatos abotinados sem salto e um número muito maior de calças curtas, com barra italiana, pregueadas e largas do que saias.  Todo o espírito da maison de Coco, porém, estava presente nos looks, mas numa versão jovem, rebelde e luxuosa.

Jaqueta de tweed com camisa mais longa, calças curtas e botina. Jeans manchado, brilho misturado com lã, calças no lugar de vestidos de noite e muitos, muitos macacões. Da ode à roupa que se impõe como rica (a coleção do Verão 2011) à riqueza da confecção e dos materiais, usada de maneira displicente e corriqueira, Karl Lagerfeld consegue fazer com que todo mundo mude de vontades a cada estação: nada de querer ser a princesa Chanel do verão passado, o negócio é ser a rebelde roqueira Chanel do próximo inverno.
É claro que a versão Chanel de rebeldia sinistra segue um padrão Chanel.  Ainda assim, são poucos os que conseguem fazer com que um macacão inteiro de renda preta com golona de couro vire um "tem que ter" da estação. Karl Lagerfeld é um destes.