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Figurino não precisa ser "maravilhoso" para ganhar o Oscar; saiba mais sobre os indicados à categoria

Bárbara Stefanelli

Do UOL, em São Paulo

25/02/2012 07h00

Além de premiar os melhores filmes, diretores e artistas, o Oscar também não esquece aqueles que trabalham nos bastidores de uma produção, como os figurinistas. Neste domingo (26), acontece em Los Angeles (EUA) a 84ª edição da maior premiação do cinema e cinco filmes concorrem à categoria de Melhor Figurino (“A Invenção de Hugo Cabret”, “Anônimo”, “Jane Eyre”, “O Artista” e “W.E. - O Romance do Século”).

Muito importantes para a narrativa de um filme, as roupas do elenco devem retratar a época da trama e a classe social e até gosto ou estado de humor do personagem, além de, claro, encantar a quem assiste e criar visuais marcantes, que colaborem para o desenvolvimento do enredo. O longa-metragem que melhor atingir esses quesitos, levará a estatueta, como é o caso dos vencedores “Titanic”, “Moulin Rouge”, “Maria Antonieta” e “Memórias de uma Gueixa” em outras edições da premiação.

Menos pode ser mais

Segundo Claudia Kopke, que criou as roupas de “O Bem Amado”, “Tropa de Elite 2” e “2 Filhos de Francisco”, o sucesso de um bom figurino nem sempre depende de visuais exuberantes. “Temos uma tendência de pensar que o figurino deve ser maravilhoso e grandioso, mas nem sempre isso é positivo. Um bom figurino tem de servir ao filme que está contando, não pode roubar a cena nem ficar maior que o personagem”, explica a especialista que, atualmente, também produz o visual do programa “Esquenta!” (Globo).

Curiosidades dos figurinos indicados:

- “A Invenção de Hugo Cabret”: Sandy Powell é a figurinista queridinha de Scorsese e já trabalhou com o diretor em outros longas. Neste filme, ela optou por um figurino principal para cada personagem. Há pouca variação nas roupas
- “Anônimo”: Segundo a figurinista alemã Lisy Christl, todos os vestidos usados pela rainha Elizabeth retratada no filme são inspirados em roupas que a monarca usou na vida real. Para a pesquisa, ela se inspirou no livro “Queen Elizabeth's Wardrobe Unlock'd”.
- “Jane Eyre”: Além de se inspirar em fotografias da época, o figurinista Michael O`Connor revelou que se baseou em quadros do pintor alemão Franz Xaver Winterhalter para criar as roupas do longa. As roupas são inspiradas na era vitoriana.
- “O Artista”: Apesar de ser em preto e branco, existem muitas cores por trás do figurino do filme francês. O vestido da primeira cena em que Bérénice Bejo aparece, por exemplo, é laranja. As roupas são inspiradas nas melindrosas, nas divas de Hollywood e no charme da década de 1930.
- “W.E. - O Romance do Século”: Arianne Phillips, a figurinista do filme, também é stylist pessoal de Madonna. Para retratar as joias da personagem Wallis Simpson, Duquesa de Windsor, ela pediu para as joalherias Cartier e a Van Cleef & Arpels criarem réplicas dos acessórios.


Para David Parizotti, figurinista de filmes como “Bicho de Sete Cabeças”, “Durval Discos” e “Encarnação do Demônio” (dirigido por José Mojica Marins, o lendário Zé do Caixão), os trajes de cinema devem carregar o mesmo significado das roupas da vida real. “A moda pessoal revela e distingue as pessoas, dando identidade e informações sociais, culturais, acadêmicas e sobre a vida delas. O mesmo se aplica aos figurinos dos personagens, pois temos de mostrar quem eles são dentro da história.”

Além de todo o estudo desses estilistas de cinema para que o figurino se adapte adequadamente à trama, eles ainda têm de lidar com um fator que, às vezes, pode se tornar um grande problema: o artista que muitas vezes se preocupa mais com a sua imagem do que com a de seu personagem.

“As mulheres, principalmente, são mais difíceis [de vestir], pois tem aquela coisa de estar no personagem, mas de querer ser linda ao mesmo tempo. (...) Sempre quero que o ator se sinta bem, isso ajuda em tudo. Mas vou até um limite de insistência, se não der para ele abrir mão, eu entendo”, explica Claudia.

Figurino no Brasil

Enquanto os grandes estúdios de Hollywood contam com um imenso acervo e tecidos à disposição, além de orçamentos milionários, por aqui, o cenário é bem diferente. David Parizotti explica que, no Brasil, essa cultura de figurino de cinema ainda é fraca e, entre outros problemas, também sofre com a falta de atenção de marcas que, muitas vezes, preferem ceder suas peças para editoriais de modas e outros tipos de publicidade mais imediatas, como novelas e TV.  “Nesses casos, compramos as peças como clientes normais”, explica.

No entanto, em “Encarnação do Demônio”, lançado em 2008, o figurinista teve a sorte de trabalhar com o apoio (e as peças) de Alexandre Herchcovitch. “Foi uma experiência ótima e enriquecedora à obra. Fizemos reuniões, trocas de referências e compreendemos o que o roteiro pedia. (...) Ter muitas peças do acervo de Herchcovitch à disposição do figurino foi um prêmio para o filme; inclusive, por causa de seu baixo orçamento. E a parceria agregou, além de visual, valores de moda e modernidade ao nosso velho amigo Zé do Caixão.”

Sobre as diferenças na hora de criar figurinos nacionais e hollywoodianos, a estilista Claudia Kopke brinca, revelando o seu preferido ao Oscar: “Eu teria que nascer europeia para fazer roupas como a de 'Anônimo' [filme indicado à categoria de Melhor Figurino]. É um senhor figurino e eu teria que estudar muito para chegar lá. Acho esse figurino muito interessante, porque não mostra só a nobreza, mas também retrata o dia a dia das pessoas da época”.

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