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Moda periguete da rua Augusta, em SP, é alvo das baladeiras; estilo cresce pelo Brasil

A modelo Ana Paula Minerato, do "Pânico", posou para um editorial baladeiro na famosa rua Augusta, de São Paulo. Veja as fotos no álbum abaixo - Leandro Moraes/UOL
A modelo Ana Paula Minerato, do "Pânico", posou para um editorial baladeiro na famosa rua Augusta, de São Paulo. Veja as fotos no álbum abaixo Imagem: Leandro Moraes/UOL

Ciça Vallerio

Do UOL, em São Paulo

18/10/2012 07h06

As garotas de programa deram lugar para as baladeiras no Baixo Augusta, região central que se transformou no polo da ferveção paulistana. Essa virada não aconteceu nas disputadas calçadas, mas no comércio de roupas sensuais vendidas nas lojas que se espremem entre botecos e casas noturnas.

Se antes modelitos provocantes eram vendidos para as meninas que faziam ponto pela redondeza, agora a grande clientela é formada por estudantes, patricinhas e até quarentonas descoladas que frequentam a noite da capital paulista. Todas querem um look poderoso para “causar” na balada, no que se popularizou como moda periguete: roupas coladas ao corpo para revelar as curvas, decotes generosos e especialmente vestidos curtíssimos.

A comerciante Milla Tassinari, dona da loja Milla Modas e Acessórios, está no mesmo endereço há 14 anos e acompanhou essa mudança. “Vendia basicamente para as garotas de programa da região”, conta. “Tempos atrás, não colocava nada provocativo na vitrine para não afugentar as clientes mais conservadoras, pois sempre tenho peças para todo tipo de mulher. Hoje, no entanto, os vestidos sensuais precisam estar na vitrine, pois são os que mais têm procura, principalmente pelas baladeiras.”

Roupa “sensual” é a maneira como os comerciantes da região se referem aos seus produtos. Fogem da expressão “periguete” como o diabo foge da cruz. Isso porque já foram alvo de preconceito por investirem nesse nicho. Todos têm uma história para contar. “Já ouvi muito comentário maldoso”, lembra Milla. “Mas, como virou moda, várias daquelas que falavam mal vêm aqui com a filha para comprar.”

Para se ter uma ideia, muitas mulheres precisam criar coragem para entrar em uma loja com essa pegada. “Tem gente que mora na região, sempre passou na frente, mas nunca pisou aqui por preconceito. Já escutei isso de quem se tornou nossa cliente”, conta Alegra Yedid, uma das sócias da tradicional Au Bottier, especializada na fabricação de sapatos femininos ousados desde a década de 1960 e que há cinco anos passou a vender uma coleção própria de roupas sensuais.

Não é de hoje que a moda periguete ou sensual invadiu a balada e deixou de ter conotação de roupa para garota de programa – ou para a mulher casada fazer uma graça com o maridão. Mas foi com o estrondoso sucesso da personagem Suelen, da novela "Avenida Brasil", da Rede Globo, interpretada por Ísis Valverde, que o look ganhou os holofotes e passou a ser reconhecido como um estilo da moda, que anda cada vez mais democrática. 

A moda periguete nunca teve tanta procura. Foi esse nicho que ajudou a bombar o lucro da Au Bottier. Quando as roupas sensuais foram incluídas na estante entre seus famosos calçados, elas representavam 10% das vendas da Au Bottier. Hoje, essa fatia saltou para 30%. Mireille Fichmann, outra sócia e irmã de Alegra, explica a virada: “O pudor acabou e até mesmo quem criticava quer se sentir mais sensual, ter o momento poderosa. E a noite é propícia para isso.”

Originalmente do Tatuapé, a loja StiloRave.com foi parar na região sinônimo de boemia. Quando aterrissou no Baixo Augusta, há pouco mais de dois anos, quem mais gastava eram as garotas de programa. Com o fim de vários inferninhos, porém, elas (quase) saíram de cena e logo foram substituídas por patricinhas frequentadoras de raves. “Hoje vendo mais para elas e para os turistas”, conta a proprietária, Khetlay Fernandes. “Mas o público GLS sempre foi cativo”, diz. 

Abigail Araújo, proprietária do box Rosa Dourada Fashion, que fica escondidinho em um minishop da rua, conta que a mulherada de outras tribos também passaram a comprar looks cada vez mais ousados. “As funkeiras preferem shortinhos bem curtos ou leggings com top”, revela. “Já as roqueiras, compram vestidinhos curtos, mas sempre pretos com algum brilho.” Nos seus quase 10 anos nesse nicho, ela notou outra mudança. “Hoje esse tipo de roupa tem até em shopping, antes só dava para encontrar aqui na rua Augusta”, diz ela, lamentando o fim da exclusividade.

Negócio em expansão

“O Brasil tem expertise de fazer roupa popular, de periguete. A gente também tem que olhar para isso”. A frase do famoso estilista Alexandre Herchcovitch ecoou, após entrevista para a Folha de S.Paulo, em junho. Marcas que apostam nesse segmento não têm do que reclamar. Até mesmo entre aquelas que nasceram fora do eixo Rio-São Paulo.

Um exemplo é a Labellamafia, que começou na cidade de São João, em Santa Catarina, há cinco anos e se tornou uma marca conhecida no país. De 2011 a 2012, cresceu 200%, passando de 10 mil para 30 mil peças vendidas por mês no site, nas franquias e por meio das revendedores. Atualmente, a empresa conta com quase 300 funcionários e pretende no próximo ano expansão que prevê exportação para os Estados Unidos, México, Portugal, Espanha e Holanda.

Como muitos empresários do ramo, a idealizadora da Labellamafia, a jornalista Alice Matos não gosta que sua marca seja associada à moda periguete. “Roupa justa e curta não é sinônimo de vulgaridade”, defende-se Alice, que é modelo e atual campeã catarinense de fisiculturismo, na categoria biquíni (versão menos musculosa). “Uma mulher pode ser vulgar nas atitudes mesmo com um vestido longo.”

Outra marca de Santa Catarina que se prepara para alçar novos voos é a Kula Clubwear, que existe há cinco anos em Balneário Camboriú. Assumidamente periguete, o foco das vendas sempre foi a internet, mas a empresa irá investir em lojas em 2013. Em Goiânia (GO), a coleção da Pit Bull Jeans ganhou fama na região e a empresa se prepara para inaugurar uma loja no Rio de Janeiro.

O estigma do estilo “a la Suelen” fez com que as marcas cariocas XPTO e My Place desistissem de participar desta reportagem. Outras, porém, não se intimidam. É o caso da grife Planet Girls, que escolheu como garota propaganda da coleção verão a atriz Ísis Valverde.