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Marcas de moda "conceitual" enfrentam problemas para sobreviver no país; saiba por quê

Devido seu design "conceitual", os sapatos da Louloux conquistaram fãs por todo país. Eles são feitos com material excedente de produção de diversas industrias e há apenas cerca de 34 pares por modelo. O da esquerda custa R$ 269 e o da direita R$ 169 - Divulgação
Devido seu design "conceitual", os sapatos da Louloux conquistaram fãs por todo país. Eles são feitos com material excedente de produção de diversas industrias e há apenas cerca de 34 pares por modelo. O da esquerda custa R$ 269 e o da direita R$ 169 Imagem: Divulgação

Julia Guglielmetti

Do UOL, em São Paulo

05/11/2012 09h00

Moda é arte? Essa é uma das questões mais polêmicas que envolvem o mundo da moda. Alguns se arriscam a dizer que sim, que estilistas são artistas e criam roupas que funcionam nas passarelas como verdadeiras obras de arte, envolvendo conceito, composição, cores e formas. Já outros negam, pois raramente se vê este tipo de peça sendo vendido em lojas, que ao invés disso, costumam ter as araras ocupadas com tendências.

No Brasil, apesar dos desfiles com roupas "malucas" apresentados durante as semanas de moda, a esmagadora maioria das marcas oferece em suas lojas produtos muitas vezes comuns e com venda certeira. Durante um passeio de 20 minutos em qualquer shopping, não é difícil encontrar a mesma peça em no mínimo duas ou três marcas diferentes.

Para entender melhor a razão das roupas "obras de arte" serem tão difíceis de se encontrar no país, o UOL conversou com  João Pimenta, Fernanda Yamamoto e Cristiano Bronzatto, da Louloux, estilistas que ainda acreditam que moda deve ter conceito.

  • Divulgação

    As peças de Fernanda Yamamoto são muitas vezes trabalhas na moulage. O vestido da esquerda custa R$ 404,40 e a blusa da esquerda R$ 261

"Para mim, o conceito é o mais importante, pelo menos pra se começar uma moda, senão não se constrói uma linguagem, só se constrói roupas", conta o estilista de moda masculina João Pimenta. 

Apesar vender peças com design, a estilista Fernanda Yamamoto acredita que ainda há pouco espaço para este tipo de moda no país. "Infelizmente a maior parte das pessoas é 'maria vai com as outras' e usa o que vê nas novelas", diz. "A mulher que compra na minha marca tem uma personalidade forte e não liga para tendências. Não liga para o que é ditado, pra cor que está usando, pro comprimento curto ou pra roupa justa. Ela procura um produto especial".

João Pimenta complementa que o grande problema da moda brasileira é não existir esse espaço e culpa não apenas os consumidores, mas também da imprensa que "não tem paciência pra isso", opina. "A Casa de Criadores, por exemplo, que é um dos poucos eventos que são voltados para a experimentação, recebe críticas da mídia dizendo ser conceitual de mais".

Recentemente o estilista fechou as portas da sua loja própria, agora vende apenas para multimarcas e atende clientes em sua oficina, onde cria roupas sob medida. Para ele, a moda conceitual tem dificuldades de sobreviver no país. "Eu tenho uma vida super difícil, carrego minha marca de uma maneira bem complicada. Por achar o conceito super importante, eu não causo interesse num empresário de moda, ele olha pra mim e pro meu trabalho e tem medo. Eu não tenho respaldo de ninguém pra fazer minhas coleções", lamenta.

  • Alexandre Schneider/UOL

    João Pimenta trabalha com moda masculina conceitual e cria roupas sob medida para seus clientes

Para sobreviver, muitas marcas utilizam um artifício para aumentar as vendas: criar na mesma coleção peças com design e outras mais comuns, comerciais. "As peças comerciais são o que dão volume. Precisa haver um mix, não dá pra viver só de conceito", diz Fernanda Yamamoto. "Mas são produtos comerciais com a minha cara, com a cara da marca", completa.

Já o sapateiro Cristiano Bronzatto conta não enfrentar esse tipo de problema e que por justamente vender peças com design a Louloux vem crescendo cada vez mais. Otimista, ele acredita que no Brasil há espaço para todo tipo de moda e arte e que sua marca não precisa compensar as vendas com peças "básicas" ou dentro da tendência para sobreviver. "Desde o início criamos as nossas peças livremente, essa é a nossa essência e, principalmente, a essência das nossas fãs. Nós não perdermos a nossa identidade apenas por uma questão comercial e esse é um conceito que vem dando muito certo e no qual acreditamos bastante".

O que você acha? No Brasil há espaço para marcas conceituais? Compra esse tipo de roupa? Deixe sua opinião no espaço para comentários abaixo.