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Peças que podem ser usadas de diferentes maneiras são aposta das joalherias de luxo

Colar Etoile Filante da Chanel é uma das joias mutáveis da grife francesa - Divulgação
Colar Etoile Filante da Chanel é uma das joias mutáveis da grife francesa Imagem: Divulgação

Do The New York Times, em Paris

16/12/2012 07h42

As joias mutáveis vêm sendo, há tempos, a matéria-prima da alta joalheria, oferecendo aos clientes a chance de usar uma peça de mais de uma maneira. Elas apareceram pela primeira vez perto da virada do século 1920, quando joalheiros criaram tiaras que podiam ser desmontadas para ser usadas como colares e peças de cabelo que podiam ser usadas como broches. O ideal de versatilidade criou raízes e resiste até hoje.

Este ano, vários joalheiros de luxo estão apresentando novas e versáteis criações que exibem a engenhosidade de seu design e “know-how”. Na Bienal dos Antiquários em Paris, Boucheron, Bvlgari, Cartier, Chanel, Chaumet e Van Cleef & Arpels estão exibindo peças únicas que podem ser divididas para que sejam usadas juntas, como um conjunto, ou separadamente.

Coco Chanel lançou sua primeira linha de joias em 1932 com várias peças versáteis, inclusive um colar que podia se transformar em três pulseiras e um broche. A Chanel presta agora homenagem ao 80º aniversário de sua fundadora por meio de sua nova Coleção 1932, que inclui o Etoile Filante – um “sautoir”, ou colar extralongo, formado por uma cascata de correntes com diamantes em forma de baguete, presos por um grande diamante que pode ser removido e usado como broche. 

Tiara com pingente ou brincos 

Chaumet, mestre da metamorfose, vai também oferecer uma nova versão do “sautoir” que pode ser transformado para adornar não só o pescoço, mas também os ombros ou os quadris. O joalheiro está dando novos ares para um adorno de cabeça clássico ao apresentar várias tiaras mutáveis.  

Em uma das tiaras, o motivo central (um diamante de cinco quilates lapidado em forma de pera) pode ser removido e usado como pingente em um colar; em outro, um “aigrette” -- ornamento de cabelo com penas – adornado com uma opala da Etiópia de 40 quilates e lapidada em cabochão (lapidação lisa, com um lado plano e outro convexo, como uma abóbada), pode ser usado numa faixa de cabelo (como sua peça central) ou como um broche ou um pingente de colar; um terceiro vem com pérolas penduradas que podem ser destacadas para se transformar em brincos com pingentes.

Boucheron, enquanto isso, vai exibir a primeira coleção de sua nova diretora criativa, Claire Choisne. Para esta coleção, chamada L’Artisan du Reve, Claire foi aos arquivos da marca para reinterpretar o “savoir-faire” e os códigos do joalheiro por meio de um prisma contemporâneo.
“Entre eles estão muitas criações que podem ser usadas de maneiras diferentes, como um broche que pode ser colocado no ombro ou até mesmo no cabelo, tornando-se diferentes acessórios”, disse Claire, por e-mail, ressaltando que todos os nove “capítulos” da coleção têm peças com “opções de uso intercambiáveis, ou aspectos técnicos específicos que trazem movimento às criações”. 

Engenhosidade

O broche Bouquet d’Ailes, com esmeralda, safira colorida e diamantes, pode também ser usado como grampo de cabelo; o colar Nature de Cristal, feito de diamante e cristal, possui um pingente destacável que pode ser usado como broche enquanto o bracelete também tem um pequeno adorno de diamante decorando o fecho, que pode ser destacado e usado como broche ou pingente.

Choisne disse que para criar uma peça que tem múltiplas opções de uso, o designer precisa levar em consideração o aspecto estético, qual o visual da peça quando usada de maneiras diferentes assim como os aspectos técnicos embutidos que permitirão que ele fique no lugar. “Por exemplo, o broche/grampo possui um alfinete com um mecanismo de fechamento com mola”, disse ela. “E mais importante, estes mecanismos devem ficar escondidos quando usados, portanto esculpido para adaptar a forma e o movimento da joia criada”, ressalta. 

O desafio em criar tal peça está em apresentar uma joia que você nunca imaginaria que poderia se transformar, disse Pierre Rainero, diretor de imagem, patrimônio e estilo da Cartier. “O joalheiro sempre precisa usar as técnicas mais sofisticadas para esconder os mecanismos da peça,” disse Rainero.

Cinco por uma

A Cartier vai apresentar várias peças mutáveis, inclusive um colar de platina com brilhantes, ônix e briolettes de rubi, ou pedras lapidada em forma de pera. Ele pode ser usado de cinco modos diferentes: como colar curto, colar longo, quatro pulseiras, broche ou brincos. Para ir ao encontro da demanda cada vez maior de designs tão versáteis, a Cartier vem desenvolvendo suas pesquisas para fornecer criações mais sofisticadas e desafiadoras, segundo Rainero.

Os expositores da Bienal não são os únicos joalheiros a apresentar peças novas e versáteis. A Graff Diamonds acabou de mostrar sua coleção Sautoir, que inclui um colar expansível que pode ser usado como um fio único e longo ou dois fios separados. A Graff também criou um broche duplo de esmeralda e diamante que pode ser usado de várias maneiras – como broche duplo, como dois broches simples ou como uma gota, pendurada elegantemente em um colar.

“O processo de criação das peças mutáveis não é tão simples quanto o de uma peça única, pois muitos outros fatores devem ser levados em consideração, inclusive a perfeição e facilidade da mutação, além da garantia que as intrincadas composições e os fechos sejam discretos, independentemente de como o item será usado”, disse o joalheiro Laurence Graff, por e-mail. “Estas peças são a verdadeira essência da alta joalheria”.

François Delage, CEO da joalheria De Beers Diamonds, disse: “Acreditamos que na alta joalheria temos clientes interessados em peças que sejam versáteis e que possam ser usadas para criar diferentes visuais para ocasiões especiais.” Ao longo do verão, a De Beers lançou uma nova coleção de oito peças únicas, chamada “A Natureza Imaginária”, que Delage descreve como a coleção de alta joalheria mais criativa da empresa.

Uma das peças é uma gargantilha ou colar curto e delicado de diamantes lapidados em pera, adornado com um broche destacável com um diamante de 8,49 quilates, também em forma de pera. Pode ser usado de três maneiras: “A gargantilha usada sozinha é a interpretação contemporânea de um clássico; o broche pode ser usado como peça central, para criar um visual dramático, ou o broche pode estar preso ao colar, para a representação máxima de um tapete vermelho”, disse Delage.