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Marcas deixam de priorizar lojas e apostam em venda diferente

O estilista João Pimenta em seu ateliê em São Paulo, de onde passou a vender suas criações desde o fechamento da loja - Haroldo Saboia/UOL
O estilista João Pimenta em seu ateliê em São Paulo, de onde passou a vender suas criações desde o fechamento da loja Imagem: Haroldo Saboia/UOL

Adriana Terra

Do UOL, em São Paulo

12/07/2013 07h09

“Parece que eu estou fazendo o caminho contrário, né?”, brinca João Pimenta enquanto se prepara para ser fotografado. Desde agosto de 2012, após fechar a loja que mantinha no bairro paulistano da Vila Madalena, o estilista decidiu focar na criação de peças sob medida, atendendo aos clientes com hora marcada em um misto de showroom e ateliê localizado na mesma região. Em um espaço discreto, Pimenta hoje trabalha, faz reuniões e recebe os compradores.

“Optei por isso, porque estava com muita vontade de fazer o sob medida. As pessoas que entram aqui acham que é um formato mais moderno e, por incrível que pareça, o lugar é super simples, não tem aquela ostentação de uma loja sofisticada”, conta o estilista de moda masculina, que desde 2010 mostra suas criações no São Paulo Fashion Week, principal semana de moda brasileira. Os custos de manter um comércio em uma área onde “não para de subir prédio” também influenciaram na mudança: Pimenta diz gastar menos atualmente, além de ter mais tempo para o cliente do que quando tinha a loja.

O estilista não é o único a deixar o modelo tradicional de vendas de lado. Outras marcas têm buscado alternativas à loja -- principalmente aquelas que, embora bem conhecidas no mundo da moda, são pequenas e lutam para se manter.

  • AgNews

    As estilistas Carô Gold (esq.) e Pity Taliani ao fim de seu desfile no São Paulo Fashion Week. A dupla nunca teve loja e prefere vender em multimarcas

Há dez anos na ativa, a Amapô nunca teve loja. “Obviamente a gente tem o desejo, mas para eu ter um ponto bom [em São Paulo] é muito caro”, conta Carô Gold, estilista da marca ao lado de Pity Taliani. Segundo ela, a venda em grandes sites de e-commerce tem sido uma boa novidade para a grife, que também comercializa suas peças em lojas multimarcas.

“Para mim é melhor estar dentro de um site que investe muito em divulgação, em marketing. Eu não tenho o alcance que a Dafiti tem, de a pessoa abrir um site de culinária e 'piscar' a calça da Amapô do lado. No fim, isso acaba sendo melhor do que abrir uma loja”, opina Carô. “Abrir uma loja seria mais uma ação de marketing do que uma ação para captar dinheiro, mais um luxo. Mas acho que, em termos de venda, não tem tanto potencial quanto esses novos recursos. Também não entendo muito disso, mas é o que eu estou percebendo”, diz a estilista.

Segundo apurado, uma loja pequena em uma área valorizada da região central de São Paulo, mas fora do eixo dos Jardins, consome uma média de R$ 8 mil apenas entre aluguel -- o maior vilão do ponto físico -- e contas (luz, telefone, água). Sem incluir salário de funcionários, gastos com a manutenção do local e outros encargos comuns a um comércio.

  • Divulgação

    A marca À Dor Amores fechou sua loja e passou a receber e clientes e amigos no ateliê para festas e vendas

Festa no ateliê

Marca com o mesmo tempo de estrada que a Amapô, responsável por lingeries que já estamparam diversos ensaios sensuais de revistas brasileiras, a paulistana À Dor Amores fechou sua loja na rua Augusta no fim de 2012 para atuar em duas frentes: receber os clientes no ateliê, em eventos ou com hora marcada, e vender online. “Foi importante ter um ponto fixo por dois anos e meio, mas perdeu o sentido”, diz Marcita Amores, estilista da grife.

Ela explica que a loja, além de ter um custo alto de manutenção, tomava muito tempo da marca, pois exigia uma produção em maior escala, o que não é o foco da À Dor Amores. Nos últimos meses, a grife vem investindo em sua recém-inaugurada loja online e fazendo eventos sazonais com música e gastronomia no ateliê, que fica dentro da própria casa de Marcita.

“As pessoas querem novidade. A pessoa não quer só comprar uma roupa, ela quer ouvir um som, encontrar pessoas. Se você conseguir se organizar com uma loja virtual que funcione e conseguir fazer esses eventos, fica muito mais interessante para o consumidor e para a gente também, que não fica estagnada com a loja”, aposta a estilista.

Direto com o estilista

Com cinco anos de existência, a Der Metropol desfila na Casa de Criadores e vende em um conceituado e-commerce internacional. Mas, no Brasil, o comércio de suas peças é feito de maneira mais informal. “Eu dei preferência para trabalhar com a venda direta”, conta o estilista Mario Francisco.

“Vendo basicamente pelo Facebook [a página da marca na rede social conta com aplicativo de loja], a grande maioria dos meus clientes me encontrou ali. Muita gente escreve direto no meu perfil e acabo tendo uma relação próxima, até de amizade com os clientes”, explica o estilista de moda masculina.

Para ele, a ausência de uma loja não é um empecilho. “Não adianta simplesmente você ter um ponto, não pode ser um lugar de curiosidade, tem que ser um lugar que minimamente se pague”, afirma Mario. “Não é uma coisa simples. Para quem é pequeno, é muito difícil querer abraçar tudo. Você tem que focar”, acredita o estilista.

:: Onde encontrar ::

João Pimenta
ateliê/showroom na rua dos Pinheiros, 1239, São Paulo
Tel.: 11 3034-2415.

Amapô
sites de e-commerce Dafiti, Farfetch, Gallerist e Moda Agora, além de lojas multimarcas.

À Dor Amores
www.adoramores.tanlup.com

Der Metropol
www.facebook.com/dermetropol