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Não conhece esse rosto? É só esperar, ele será o modelo do momento

O modelo Clark Bockelman foi um dos "new faces" a desfilar para Calvin Klein em sua apresentação mais recente. Na foto, ele posa em plataforma do metrô em Nova York - Karsten Moran/The New York Times
O modelo Clark Bockelman foi um dos "new faces" a desfilar para Calvin Klein em sua apresentação mais recente. Na foto, ele posa em plataforma do metrô em Nova York Imagem: Karsten Moran/The New York Times

Guy Trebay

Do The New York Times

31/08/2013 08h17

Em um corredor do lado de fora de uma sala de reuniões no sexto andar de um prédio em Manhattan, cinco jovens excepcionalmente bonitos largados contra as paredes, parecendo deuses do Olimpo temporariamente descansam. Era o meio da tarde e os homens foram chamados para uma reunião secreta, muitos deles voaram especialmente de Houston ou outros cantos do país para se encontrar com aqueles que decidiriam seu destino.

Dentro da sala, um comitê foi montado. Composto por pessoas cuja tarefa é, entre outras coisas, determinar os ideais atuais da beleza masculina. A reunião era um casting preliminar para o desfile masculino de Calvin Klein, em Milão. Poucos trabalhos na indústria de modelos têm tanto peso quanto um para a Calvin Klein – e por motivos simples.

Modelos em um desfile de Calvin Klein têm um contrato exclusivo que os impede de aparecer  em qualquer outra passarela (naquela temporada), voam para Milão, são hospedados em hotéis em vez de sofás em casas padrão para modelos, e são pagos por seu tempo e talento valores que podem chegar, segundo especialistas, a R$ 22 mil, uma soma particularmente generosa quando os padrões da indústria foram enxugados. Muitos dos modelos masculinos podem esperar ganhar não mais do que R$ 1.020 para aparecer nas principais passarelas. Acima de tudo, eles têm uma chance para alcançar o estrelato.

“Fazer um desfile da Calvin Klein é incrível”, disse George Brown, co-diretor da agência Citizen Models de Nova York. “Significa que você tem uma chance de fazer a campanha, e como as propagandas deles estão entre as maiores do mercado, isso significa milhões de dólares em anúncios em revistas”.

Assim como ser selecionada pela Prada pode transformar uma mulher da noite para o dia de uma doce desconhecida escandinava em, segundo Brown, uma “garota de seis dígitos”, um casting na Calvin Klein lança o nome do modelo para o topo das listas de sites como o Models.com, que exerce influência considerável em mercados como Coreia do Sul e Japão.

“A Calvin é o trabalho que todos querem”, disse Ivan Bart, chefe da IMG Models, a agência que representa Gisele Bündchen, Lara Stone e Kate Moss, ao lado de Joan Smalls e Karlie Kloss, respectivamente números 1 e 2 do ranking do site. “Lembra no passado como ficávamos na Times Square esperando o novo ‘outdoor’ da Calvin?”. Entrar no desfile da Calvin Klein, acrescentou Bart, “ainda é a oportunidade de virar esse novo rosto, o novo Marky Mark”.

Nenhum dos jovens aguardando na sala da Calvin Klein tinha nascido quando a famosa imagem de Mark Wahlberg, sem camisa e de cueca, foi reproduzida em revistas e “outdoors” em todo o país há 22 anos, mas sem problemas. Como muitas outras campanhas da Calvin Klein, essa entrou na cultura, ajudando a mudar permanentemente a maneira como os homens são vistos e sexualizados.

“Já foi dito que Ralph Lauren era o dono do romance e Calvin Klein do sexo”, disse Sam Shahid, diretor de arte responsável por muitas campanhas famosas da Calvin Klein. “O próprio Calvin era muito físico, muito atlético, muito voltado para o corpo, e a beleza clássica sempre foi muito importante para ele”.

Então, também é para Italo Zucchelli, que celebra uma década como diretor criativo de moda masculina da Calvin Klein.

“Masculinidade é muito importante para mim”, disse Zucchelli durante o casting. “Sim, é um desfile de moda, então no fundo o que importa são as roupas”, acrescentou. No entanto, como Stefano Tonchi, editor da “W”, apontou recentemente, moda é mais do que só roupas.

E Zucchelli se preocupa com a imagem tanto quanto com a indústria indumentária.

“O que estamos querendo projetar é um sentimento muito forte de americanismo”, disse ele. “Parte da minha fantasia é para que as roupas melhorem a forma humana e o lado masculino dos homens”.

A cara real desse americanismo e masculinidade foi determinada em boa parte por Jennifer Venditti, agente de casting com uma reputação de olheira em shoppings, nas ruas e campus de faculdades e por vasculhar as redes sociais. Jennifer estava lá no casting, junto com o stylist Panos Yiapanis e Nian Fish, uma produtora da agência de moda KCD.

  • Karsten Moran/The New York Times

    O modelo Ronald Epps, que não passou no casting para o desfile da Calvin Klein, em Nova York

Nos últimos meses, Jennifer buscou a fundo pelo país pretendentes que se encaixem nesta atual visão de Zucchelli, trabalhando com um molde que pedia altura uniforme de não menos do que 1,85m, para corpos esguios, mas musculosos e “imponderáveis” como “atitude confiante” para complementar o requisitado rosto de maxilar marcado e sorriso perfeito.

“Tem muita coisa rolando a respeito do que é masculinidade, mas os rapazes na Calvin têm de ter presença”, disse Jennifer. “Eles têm de ter essa qualidade que as pessoas vão dizer ‘quero ser assim’”.

A sala ficou vibrante quando entrou Clark Bockelman e, em seguida, Ronald Epps.

Com seus traços esculpidos e um andar confiante, aprendido ao estudar vídeos de desfiles antigos da Calvin Klein, o jovem Epps de 20 anos – atleta de corrida na Pensilvânia que trabalha como zelador em um Whole Foods da Filadélfia – claramente impressionou o comitê.

Mas enquanto Zucchelli e Jennifer estavam mostrando entusiasmo, Yiapanis mostrou reservas quando à altura do modelo. “Não acho que ele tenha mais de 1,85m”, disse Yiapanis. “Alguém tem uma fita para que possamos medir?”

Uma fita foi introduzida. Epps mal raspou no 1,85m. Apesar de parecer estranho que um centímetro possa ficar no meio do caminho entre a obscuridade e um trabalho que pode mudar a vida de um jovem, Yiapanis insistiu em um casting que fosse uniforme.

No fim, Epps não passou.

Já Bockelman foi o menino dos olhos. Um loiro bem ao gosto dos galãs de Hollywood, o jovem de 21 anos da região agrícola de Indiana estava estudando geografia quando um conhecido apresentou o pretendente de 1,88m  para Bruce Weber, fotógrafo de moda e conhecido lançador de estrelas, ainda que alguém sobre quem Bockelman jamais tinha ouvido falar.

“Não tinha ideia de quem era Bruce, mas eu o conheci numa quarta-feira e na sexta tinha fotografado o meu primeiro editorial”, disse Bockelman. “Achei que podia tentar ser modelo e talvez ganhar uns duzentos dólares”.

As fotos desta sessão apareceram no CR Fashion Book, a revista produzida pela editora e stylist Carine Roitfeld, outra poderosa da moda conhecida por encontrar novos talentos (ela foi importante para a carreira de Tom Ford).

“Estou trabalhando, não diria que muito, mas consigo pagar o aluguel e fazer compras no mercado”, disse Bockelman após o fim do casting e os especialistas terem por unanimidade escolhido como “exclusivo” e colocado em prática planos de trazê-lo para Milão.

“Clark é um ícone americano perfeito”, disse Shahid, que foi apresentado ao modelo por Weber, seu frequente colaborador. “É algo dos anos 1950, este tipo loiro masculino que lembra Troy Donahue e Tab Hunter”, acrescentou.

“As mulheres o amam, os caras gays o amam e os caras héteros querem ser ele”, disse Shahid. “Estamos nesse momento ‘Made in USA’. Como é que ele pode não dar certo?”