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Nova leva de marcas busca a silhueta masculina feita para ela

A marca Tomboy Tailors, de São Francisco, é especializada em confeccionar ternos sob medida para mulheres que gostam de moda masculina - Divulgação
A marca Tomboy Tailors, de São Francisco, é especializada em confeccionar ternos sob medida para mulheres que gostam de moda masculina Imagem: Divulgação

Bridget Huber

Do The New York Times

05/09/2013 07h54

Mary Going, 46, uma ex-consultora para ONGs em Oakland, na Califórnia, queria vestir um terno para o casamento com sua mulher em 2008, mas se viu em um processo de compras desmoralizante.

Nada servia. Às vezes, não tinha um provador. E os vendedores olhavam de um jeito estranho quando se tocavam que ela não estava comprando presente para um filho. “Eles não queriam me atender”, disse Mary. “Dava para sentir”.

Ela rapidamente aprendeu que não estava sozinha, e em 2012 abriu uma loja virtual de ternos, chamada Saint Harridan, especializada em ternos masculinos clássicos cortados para mulheres. A loja une-se a uma nova leva de marcas de moda e blogs de estilo pouco tradicionais que tem como público-alvo mulheres masculinizadas, homens transgêneros, os andróginos e as molecas – nicho pouco explorado de consumidoras que se identificam como “masculine of center”, uma termo de estudo de gênero para mulheres que vestem e agem de maneira tradicionalmente associada aos homens.

  • Reprodução

    Imagem de divulgação da loja Saint Harridan,em Oakland, na Califórnia, traz a frase "igualdade veste bem". Na loja, os costumes (paletó e calça) saem a partir de R$ 1.563

É um grupo há muito tempo considerado “tragicamente cafona”, disse Jack Halberstam, um professor transgênero na University of Southern California e autor, mais recente, de “Feminismo Gaga: Sexo, Gênero e o Fim do Normal”. “Nem a roupa masculina ou feminina serve em você, e o mercado tem absolutamente nada que faz você ficar bem”.

Isso está mudando, graças a empresas como a Saint Harridan, assim como a Tomboy Tailors, uma alfaiataria sob medida em San Francisco; a HauteButch, linha de roupas de Santa Rosa, Califórnia; e a Marimacho, marca do Brooklyn, em NY, que faz camisas, coletes e moda praia inspirada nos trajes masculinos dos anos 1920, Uma empresa, a Wildfang, de Portland, Oregon, foi fundada por veteranos da Nike e diz que quer libertar a moda masculina, “uma gravata-borboleta por vez”.

A Tomboy Tailors tem uma loja de varejo na região do Union Square em São Francisco, mas a maioria é apenas online. Confirmando a tendência estão blogs de estilo como dapperQ, que se coloca como uma “GQ” para o masculino não-convencional, e Qwear, que atualiza o look chique-vintage para mulheres. Pense em lenços no bolso do paletó, brogues e suspensórios popularizado por tantos blogs de moda masculina.

O visual subverte as normas de gêneros, disse Susan Herr, 51, fundadora da dapperQ, com sede no Brooklyn. “Não é travestismo para mim usar um terno”, disse ela. “É travestismo para mim usar um vestido”.

  • Divulgação

    A marca Wildfang, de Portland, investiu em campanha estrelada por famosas e ícones LGBT. Na foto, estão a atriz Kate Moennig (esq.), a baterista Hannah Billie (de gravata borboleta) e a jogadora de futebol Megan Rapinoe (dir.)

Incerta se haveria interesse o suficiente em uma empresa como a Saint Harridan, Mary usou o Kickstarter para testar o território e levantar os R$ 193 mil necessários para atingir o mínimo da fábrica. Ela acabou arrecadando mais de R$ 305 mil de 1.108 doadores em pouco mais de um mês.

Neste segundo semestre, a Saint Harridan planeja entregar seus primeiros ternos, que custam entre R$ 1.550 e R$ 1.870 e são produzidos nos Estados Unidos a partir de lã italiana. O site também vende gravatas, camisetas e canivetes. Mary espera também acrescentar suéteres e calças no futuro.

Colocar a ideia em prática trouxe outros desafios. Diferentemente dos ternos tradicionais para mulheres, que normalmente destacam as curvas femininas como peitos e quadril, as peças da Saint Harridan criam uma silhueta masculina. Para isso, todo e qualquer aspecto do terno teve de ser redesenhado. Os ombros ficaram mais estreitos para vestir corpos mais miúdos, as lapelas foram ajustadas para que ficassem retas sobre o busto e as calças foram desenhadas para que acomodassem o quadril.

Mary quer ver corpos femininos em ternos masculinos no banco, no altar de um casamento, na rua, em todos os lugares. Para ela, é parte de uma mudança maior nas normas de gênero. “Masculinidade não é apenas para os homens”, disse ela.