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Em salão de negócios, marcas explicam diferença entre loja e passarela

No showroom da Uma durante o salão de negócios Salão +B, as peças eram exatamente as mesmas da vistas no desfile da marca no SPFW um dia antes - Divulgação
No showroom da Uma durante o salão de negócios Salão +B, as peças eram exatamente as mesmas da vistas no desfile da marca no SPFW um dia antes Imagem: Divulgação

Caroline Pereira

Do UOL, em São Paulo

03/11/2013 08h15

As imagens de um desfile de moda não raro geram espanto em espectadores desavisados. Topetes gigantes, sapatos esquisitos e composições improváveis leva muita gente a se perguntar; mas quem usaria isso na rua? A estilista curitibana Juliana Moriya explicou: “Quando mostramos a coleção é sempre mais conceitual, ou seja, é aquele look que várias pessoas teriam medo de usar”. Ela e muitos outros criadores exibem as chamadas “peças conceituais” com o objetivo de mostrar de onde veio a inspiração para a estação, quais são as tonalidades mais presentes, as texturas e outros aspectos que dão característica à marca.

Juliana, que desfilou por três anos na Casa de Criadores de São Paulo e apresentou suas peças no salão de negócios Salão +B, que aconteceu paralelamente ao SPFW, costuma misturar as opções mais comuns com outras de proporções exageradas ou acessórios mais ousados em um desfile. Ronaldo Fraga, um dos principais nomes da moda brasileira, exibiu nesta edição do São Paulo Fashion Week uma pincelada do seu trabalho inspirado em aspectos da cultura brasileira. “Na hora de mostrar as roupas, a gente coloca metade da coleção, e, nas lojas, existem muito mais opções. Levamos todo objeto da pesquisa para ser desfilado”, disse.

Valdemar Iódice, que desfila com sua marca, Iódice, no Fashion Rio, sempre pensa em um tema que será guia para a estação. “Partimos de inspiração e tema, para a matéria-prima e a silhueta. Apostamos sempre em uma proposta”, falou. Mesclando roupas conceituais com outras comerciais, o desfile desta edição do evento, que acontece de 4 a 9 de novembro na capital carioca, terá algumas opções com proporções um pouco diferente do que será levado à venda. “Para a loja, é uma; e, para desfile, é outra”, completou.

  • A Uma faz questão de apresentar no SPFW uma coleção comercial, que será absorvida também nos salões de negócios e showroom da marca. "A única grande diferença que temos são as botas, que estavam com solado mais fino para facilitar o movimento dos dançarinos. Nas lojas, elas serão mais pesadas", comentou Raquel

Muitas vezes o que se vê nas semanas de moda é exatamente a mesma proposta vendida nas lojas, mas apresentada de uma maneira mais ousada. O styling (combinação das peças) das passarelas tem liberdade, mas na hora de colocar à venda, as roupas são divididas por categorias mais lógicas como cor, tipo de tecido e tamanho para facilitar na hora da escolha. “Às vezes, para a coleção comercial tem uma peça que deriva da cor do guarda-chuva que foi usado no desfile. Esse tipo de relação também acontece”, explica a estilista Karin Feller, que também desfila na Casa de Criadores e esteve no Salão +B.

Um exemplo deste styling diferenciado pode ser visto na apresentação da Uma, que aconteceu no primeiro dia desta edição do São Paulo Fashion Week. A marca levou peças idênticas para passarela e salão, mas que, durante o desfile, estavam sobrepostas e vestidas de acordo com a mensagem que a estilista Raquel Davidowicz queria passar. “A única grande diferença que temos são as botas, que estavam com solado mais fino para facilitar o movimento dos dançarinos. Nas lojas, elas serão mais pesadas”, comentou Raquel.

Carol Brandão, da Maria Bonita Extra, explica que a marca, embora exibisse algumas opções com proporções mais inusitadas, acabava vendendo tudo que mostrava no desfile. “Fazíamos pequenos ajustes e deixávamos as criações um pouco diferentes, com um laço maior, ou um pouco mais de brilho, mas sempre vendíamos, porque as clientes gostavam e pediam”, disse. Algumas marcas, no entanto, optam pela exposição praticamente literal do que estará em um lookbook ou nos manequins das lojas. É o caso da estilista brasileira Sinesia Karol, que desfila sua marca homônima em Miami e Nova York, nos Estados Unidos.

O mesmo não acontece com a marca Isolda, que deixa a magia do desfile somente para a apresentação. “Já vieram clientes pedir o que estava na passarela, mas reservamos aqueles looks só para aquele momento de magia”, contou Juliana Afonso Ferreira, responsável pelo marketing da marca. O desfile da Isolda, assinada pela estilista baiana Alessandra Afonso Ferreira, inclui o que a mulher-inspiração da marca pode gostar. “Pensamos em um estilo de vida completo, até a música que ela ouviria, que é a trilha do nosso show”, acrescentou Juliana.

Resumir ao máximo o espirito da coleção é o objetivo da Wasabi quando se apresenta no Fashion Rio. Praticamente tudo o que é desfilado vai para as lojas, incluindo o styling mais ousado. “Colocamos um pouco mais de tinta na passarela e acessórios mais divertidos, mas praticamente tudo é vendido”, disse Ana Wambier que assina as coleções junto com a estilista Daniela Sabbag.

Para compreender as tendências e o que cada marca pensa sobre seu próprio trabalho, é importante acompanhar o que os estilistas apresentam, mas, na hora de comprar, é preciso ter em mente que nem sempre as opções que foram mostradas estarão disponíveis.