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Grifes de luxo "descobrem" o Brasil e abrem lojas fora do eixo Rio-SP

A recifense Luciana Mapurunga acompanha as tendências de moda e comemora a chegada das grifes internacionais à capital pernambucana - Aqruivo pessoal
A recifense Luciana Mapurunga acompanha as tendências de moda e comemora a chegada das grifes internacionais à capital pernambucana Imagem: Aqruivo pessoal

Claudia Silveira

Do UOL, em São Paulo

05/12/2013 07h26

A administradora de empresas Luciana Mapurunga mora no Recife, gosta de se vestir bem e acompanha as tendências de moda, mas, quando queria renovar o guarda-roupa com peças das suas marcas internacionais preferidas, tinha que esperar as viagens a São Paulo ou ao exterior, onde a oferta de lojas de alto padrão é maior.

De uns meses para cá, no entanto, Luciana tem observado a abertura de filiais das suas grifes favoritas pertinho de casa, o que tem colocado a capital pernambucana no mapa do varejo de luxo nacional e diminuído a dependência da capital paulista como centro de compras.

Assim como Recife, Curitiba e Brasília também vêm atraindo as marcas de luxo mais desejadas, criando um movimento de descentralização do consumo, que não depende mais do tradicional eixo Rio-São Paulo.

A inauguração do Shopping RioMar, há pouco mais de um ano, no Recife, trouxe para a cidade grifes como a inglesa Burberry, a americana Coach e a italiana Diesel. Outra italiana, a Prada, já garantiu seu espaço e inaugura ainda em dezembro sua nova loja com mais de 500 m².

Luciana já não espera mais pelas viagens para renovar o guarda-roupa. “Entre comprar aqui ou em São Paulo, vou sempre preferir aqui. A diversidade dos produtos, da mesma forma que encontramos lá, também será um diferencial”, observa.

Existir variedade de produtos disponíveis na loja também é uma das exigências do empresário e ator curitibano Tiago Bialli. Assim como Luciana, ele costumava comprar as principais grifes quando viajava para São Paulo ou ao exterior. Agora Bialli encontra algumas das lojas preferidas na capital paranaense mesmo, embora considere que há poucas opções de produtos. “Mas eles conseguem os itens num piscar de olhos”, afirma.

Vínculo emocional com a cidade

Para Carol Garcia, professora da pós-graduação em varejo de moda da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, os consumidores já tinham acesso às marcas localmente. Cidades como Brasília e Recife têm grandes lojas multimarcas recheadas de grifes. “Elas foram pioneiras no varejo de luxo nessas capitais e, há cerca de uma década, já trabalham com o posicionamento dessas marcas nesses mercados”, observa Carol, diretora da Agência NAU, que presta consultoria a varejistas. O que muda com a abertura da loja própria da grife, observa ela, é “que ocorre uma facilidade geográfica e uma maior vinculação emocional com a cidade onde ora [a marca] se instala”.

Essa “facilidade geográfica” levou o empresário Bialli ao recém-inaugurado Shopping Pátio Batel, que abriu as portas em setembro deste ano em Curitiba e abriga marcas como Burberry, as americanas Kate Spade e Tory Burch e as francesas Louis Vuitton e Sephora, além da italiana Ermenegildo Zegna. Ainda estão para ser inauguradas lojas de grifes como Carolina Herrera, Michael Kors, Coach e até uma nova filial da rede de fast fashion inglesa Topshop.

Uma das marcas que têm contribuído para essa descentralização do varejo de luxo no país é a Kate Spade, que chegou ao Brasil em 2010, abriu filiais no Rio e em São Paulo e, três anos depois, desembarcou em Curitiba. Segundo Elsa Rizo, diretora da grife no país, “abrir uma loja fora do eixo Rio-São Paulo foi um passo natural no processo de expansão da marca”, e “o fato da curitibana ser antenada com a moda” foi um dos diferenciais para a grife se instalar na capital paranaense.

Outra empresa do segmento que desembarcou no Sul do país foi a Tory Burch, que inaugurou no final de setembro, em Curitiba, a quinta filial em solo brasileiro, depois de conquistar consumidoras com três butiques em São Paulo e uma no Rio. Para a estilista que dá nome à marca, as mulheres de Curitiba “são sofisticadas e clássicas, mas procuram por algo novo também”.

Diferenças regionais

Oferecer ao consumidor de fora do eixo Rio-São Paulo uma variedade de produtos que atendam à demanda e estilo de vida local faz parte do planejamento estratégico das empresas. A diretora da Kate Spade no Brasil, por exemplo, reconhece que as consumidoras nas diferentes capitais têm suas diferenças, mas no final, segundo ela, “todas são brasileiras, femininas e estão sempre atrás da pitada de glamour para compor o look”.

Elsa Rizo acrescenta que todas as lojas da grife no Brasil recebem a mesma coleção, mas que o mix de produtos é pensado de acordo com “a localização, o clima e com o estilo das consumidoras”. Afinal, o inverno do Rio de Janeiro é diferente do de Curitiba, que teve até neve neste ano.

Conquistar o consumidor da nova cidade oferecendo o mesmo padrão de atendimento do Rio ou de São Paulo é uma das estratégias da joalheria Tiffany & Co., que chegou ao Brasil em 2001 e somente dez anos depois começou sua expansão pelo país. Em 2011, foi inaugurada uma filial em Brasília, seguida de uma no Rio em 2012, e há alguns meses foi a vez de Curitiba.

"Nós estudamos o mercado curitibano antes de abrir uma loja no Pátio Batel, por exemplo, exatamente para poder oferecer opções de joias que tenham a ver com os gostos locais. Neste sentido, temos um mix alinhado com o consumidor daquela cidade, e o mesmo princípio se aplica a todas as lojas", afirma Luciana Marsicano, diretora-geral da Tiffany & Co. no Brasil.

Estabilidade e PIB alto

Apesar de a curitibana, a brasiliense ou a recifense serem vistas como sofisticadas ou antenadas, a chegada dessas lojas tornou-se possível não apenas por causa do gosto delas. Para Ricardo Teixeira, professor de estratégias empresariais da Fundação Getúlio Vargas, a estabilidade econômica que o Brasil vem desfrutando nos últimos anos é o motivo principal dessa descentralização do consumo de luxo, inclusive por causa do maior poder de compra da população.

“O número de milionários brasileiros vem crescendo no Rio e em São Paulo, mas nos outros estados também. Há pessoas com alto poder aquisitivo em outras capitais graças ao desenvolvimento regional”, observa Teixeira.

Um reflexo desse desenvolvimento regional é o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, divulgado no final de novembro pelo IBGE e referente a 2011. Segundo dados do instituto, o Distrito Federal lidera o ranking de PIB per capita brasileiro (R$ 63.020,02), número que representa quase três vezes a média do país e quase o dobro do de São Paulo (R$ 32.449,06), que tem o maior PIB do país e é o tradicional endereço das grifes de luxo e dos seus consumidores. Pernambuco fica à frente entre os estados do Nordeste, com PIB per capita de R$ 11.776,10, mas atrás do Paraná, que tem R$ 22.769,98 de PIB per capita.

Além desses números, as grifes de luxo nacionais e estrangeiras estão interessadas também na infraestrutura que essas capitais têm a oferecer. O "boom" da chegada dessas butiques a Brasília, Recife e Curitiba se deu após a inauguração de centros de compras voltados para o consumidor de alto padrão. A primeira foi Brasília, que em 2010 ganhou o Shopping Iguatemi e atraiu a primeira filial da Tiffany & Co. fora da capital paulista e a única loja do designer de sapatos Christian Louboutin fora do eixo Rio-São Paulo.

Até o Rio de Janeiro, que já era destino de compras, atraiu marcas inéditas na cidade - e até no país - após a inauguração do shopping de luxo Village Mall, no final de 2012. Junto com o empreendimento, a primeira loja da Michael Kors abriu as portas no Brasil, assim como novas butiques da Red Valentino, Louis Vuitton e Gucci.

Compras por impulso

O professor da FGV Ricardo Teixeira observa que as grifes que se expandem pelo país contam com a compra por impulso como aliada, porque o produto está ali na vitrine, acessível na hora, e a consumidora que tinha planejado só um cineminha no domingo à tarde pode não resistir ao apelo visual. “Em vez de se programar para comprar as roupas da estação de uma vez só, a pessoa vai passar a comprar aos poucos, à medida em que for precisando”, observa.

Para quem ficou na dúvida sobre os preços praticados nas demais cidades em comparação aos do Rio e de São Paulo, as empresas consultadas pela reportagem afirmaram que a faixa de preço é a mesma em todo o Brasil.

:: Onde encontrar as butiques internacionais fora de Rio e São Paulo ::

Brasília
Shopping Iguatemi (SHIN CA 4, Lago Norte, telefone: 61 3577-5000): Burberry, Christian Louboutin, Ermenegildo Zegna, Gucci, Louis Vuitton, Tiffany & Co.

Curitiba
Shopping Pátio Batel (avenida do Batel, 1.868, telefone: 41 3069-8301): Burberry, Ermenegildo Zegna, Kate Spade, Louis Vuitton, Prada, Tiffany & Co., Tory Burch, Versace Collection e, em breve, Coach e Carolina Herrera

Recife
Shopping RioMar (avenida República do Líbano, 251, telefone: 81 3878-0000): Burberry, Diesel, Coach e, em breve, Prada