Topo

Brasileiro que trabalhou na Balmain relata convívio com família Kardashian

Marcelo D"Abreu Salgado estagiou na Balmain, em Paris - Otavio Guarino/Divulgação
Marcelo D'Abreu Salgado estagiou na Balmain, em Paris Imagem: Otavio Guarino/Divulgação

Julia Guglielmetti

Colaboração para o UOL

10/02/2017 04h05

Entre 2014 e 2016, o brasileiro Marcelo D’Abreu Salgado, 27 anos, vivia o sonho de muitos profissionais de moda: morava em Paris e trabalhava em uma das maiores grifes do mundo, a Balmain. O estágio lhe rendeu experiência, passe livre para festas com famosos e até abraço em Kanye West.

Na capital fashion, ele foi estudar moda na renomada École de lá Chambre Syndicale de la Couture Parisienne e, para conseguir trabalho na área, mandou seu currículo --tipo gente como a gente-- para diversas casas. Até que foi chamado pela Balmain para uma entrevista e exibiu suas aquarelas bem tropicais. Foram elas que lhe renderam o "job". 

Em depoimento ao UOL, o estilista conta as principais curiosidades que viveu na casa de luxo. Criar vestidos para Kim Kardashian e pintar os sapatos de Alessandra Ambrósio com esmalte foram apenas algumas delas. Leia a seguir:

Convívio com celebridades era corriqueiro

Kim Kardashian e Kanye West em campanha da Balmain de 2014 - Divulgação/Balmain - Divulgação/Balmain
Kim Kardashian e Kanye West em campanha da Balmain de 2014
Imagem: Divulgação/Balmain

Era sempre função dos estagiários abrir a porta quando a campainha tocasse. Durante o ano todo, ninguém queria ir, mas na época das provas de roupa, sabíamos que apareceriam modelos famosas e outras celebridades. Daí todo mundo se digladiava para abrir. Um dia dei a sorte de dar de cara com o [rapper] Kanye West. Ele sorriu e me abraçou. Fiquei em choque e tremendo. Outro funcionário teve até que se desculpar por mim.

Além da presença constante da família Kardashian/Jenner/West, também encontrava com outros famosos nas festas da marca. Rihanna, Bella Haddid, Jared Leto e Courtney Love. A gente dançava batendo bumbum com eles.

Elogio de Kim Kardashian

Kim também está sempre por lá. É uma cliente tão assídua que tem até manequim próprio (foto abaixo, à dir.), com as suas medidas. Ela vestia 42 de quadril e 36 na parte de cima, ou seja, era complicadíssimo confeccionar suas roupas. Muitas vezes fazíamos verdadeiros 'frankensteins' e cortávamos vestidos ao meio para dar certo

Ela era como uma entidade, chegava sem ser anunciada e nem tocava a campainha. Um dia eu estava concentrado no computador com fones de ouvido. Senti alguém se aproximar por trás, mas não dei muita bola. Quando reparei, estava todo mundo me olhando. Virei e era ela, que veio bem devagarzinho ao lado do meu rosto e elogiou meu trabalho.

Marcelo registrou Kim Kardashian saindo da Balmain, em Paris (à esq.) e o manequim feito sob medida para ela  imagem: Reprodução/Instagram/@marcelo_d.abreu

Gambiarras não são exclusividade dos brasileiros

Era comum o Olivier Rousteing [diretor criativo da marca] mudar de ideia sobre a cor de algum look pouco tempo antes do desfile. Uma vez tínhamos uma peça inteirinha bordada com canutilhos verdes (foto abaixo), mas ele decidiu que a queria preta. Como não dava tempo de refazer, compramos muitas canetinhas permanentes e pintamos tudo.

O pior é que, como um canutilho raspava no outro, a tinta descascava e tivemos que retocar inúmeras vezes. No final, o resultado ficou bem bonito. No dia do desfile uma jornalista me perguntou de qual material aquilo era feito. Fingi que não ouvi e saí andando. Foi até engraçado.

Em outra ocasião, fizemos a prova de roupa com a [modelo] Alessandra Ambrósio algumas horas antes do show. O look era marrom e o sapato era dourado e branco. Claro que não combinou. Então, a caminho do evento e com a top no táxi, fomos pintando o calçado com esmalte de unha preto.

Balmain, pintando canetinha - Reprodução/Instagram/@marcelo_d.abreu e Divulgação - Reprodução/Instagram/@marcelo_d.abreu e Divulgação
Marcelo e seus colegas da Balmain pintam look de canutilhos com canetinha permanente
Imagem: Reprodução/Instagram/@marcelo_d.abreu e Divulgação

Às vezes o dia parecia um filme

Eu trabalhava para a primeira assistente do diretor criativo, o que me tornava seu segundo assistente. Era minha responsabilidade preparar o seu chá detox todas as manhãs. Às vezes, eu estava no metrô e minha chefe ligava desesperada dizendo que ele chegaria em 15 minutos e que precisava da sua bebida na mesa. Aí eu saia correndo e derrubava tudo, bem cena de "O Diabo Veste Prada" mesmo.

Chá deixado por Marcelo na mesa do Olivier todas as manhãs (à esq.) e cena do filme "O Diabo Veste Prada"  imagem: Arquivo pessoal e Reprodução

Brasileiras no backstage da Balmain - Reprodução/Instagram/@marcelo_d.abreu - Reprodução/Instagram/@marcelo_d.abreu
As tops brasileiras Isabeli Fontana, Carol Ribeiro e Alessandra Ambrósio posam no backstage do desfile, na semana de moda de Paris
Imagem: Reprodução/Instagram/@marcelo_d.abreu

Os desfiles eram uma loucura

Nos bastidores dos desfiles, cada estagiário era responsável por dois looks e por suas respectivas modelos. Era nossa obrigação nos certificar de que cada uma estaria ali no momento certo. E, acredite, essa tarefa não era tão fácil quanto parece. Kendall Jenner, por exemplo, era uma das mais difíceis. Ela só queria colocar a roupa no último minuto ou se queixava de que o look estava muito apertado, não deixando a gente fechá-lo até segundos antes de pisar na passarela. Um sufoco.

De volta ao Brasil

A experiência foi uma bênção e uma maldição ao mesmo tempo. Todo meu tempo lá foi maravilhoso e aprendi muito, mas ao mesmo tempo foi bastante traumático. Trabalhava muito, ficava até de madrugada e passei muitos finais de semana no ateliê. No término do meu estágio, disseram que eu seria contratado, mas não foi o que aconteceu.

Ainda tenho dificuldade de acreditar em tudo que vivi. Às vezes, tento entender como cheguei lá. Agora estou focado em usar meu aprendizado para abrir minha própria marca, prestar consultoria de estilo para confecções e desenvolver coleções em parcerias com outras marcas brasileiras.