Papa afirma que uso de preservativo é aceitável em 'certos casos'

21/11/2010 11h53

BERLIM - O Papa Bento XVI afirma que o uso de preservativos é aceitável "em certos casos", especialmente para reduzir o risco de infecção do HIV, em um livro de entrevistas que será lançado na terça-feira, em uma aparente suavização de sua postura a respeito do tema.

Na série de entrevistas que será publicada na Alemanha, país natal do pontífice de 83 anos, Bento XVI é questionado quando a Igreja Católica não fundamentalmente contrária ao uso da camisinha.

"Com certeza (a igreja) não vê (o preservativo) como uma solução real e moral", responde o Papa.

"Em certos casos, quando a intenção é reduzir o risco de infecção, pode ser, no entanto, um primeiro passo para abrir o caminho a uma sexualidade mais humana", completou o líder de 1,1 bilhão de católicos do planeta.

O livro, que tem como título "Light of the World: The Pope, the Church and the Signs of the Times" (Luz do Mundo: O Papa, a Igreja e os Sinais do Tempo), é baseado em 20 horas de entrevistas conduzidas pelo jornalista alemão Peter Seewald.

Até o momento, o Vaticano proíbe o uso de qualquer forma de contracepção - aceita apenas a abstenção -, mesmo como forma de evitar doenças sexualmente transmissíveis.

Bento XVI provocou revolta internacional em março de 2009 durante uma visita à África, continente devastado pela Aids, ao afirmar à imprensa que a doença era uma tragédia que não podia ser combatida com a distribuição de preservativos, que na opinião dele até agravava o problema.

Para ilustrar sua aparente mudança de posição, Bento XVI ofereceu o exemplo de uma prostituta usar um preservativo.

"Pode ser justificado em casos individuais, por exemplo, quando uma prostituta utiliza um preservativo, onde isto pode ser... um pouco de responsabilidade, para desenvolver o entendimento de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se deseja", afirmou Bento XVI no livro.

"Mas não é a maneira correta de lidar com o horror da infecção pelo HIV".

Bento XVI reiterou que o uso do preservativo por si só não resolveria o problema do HIV. "Deve acontecer muito mais", disse.

"Tornar-se simplesmente fixado na questão dos preservativos torna a sexualidade mais banal e esta é exatamente a razão pela qual tantas pessoas não encontram mais a sexualidade como uma expressão do seu amor, mas como um tipo de droga auto-administrada."

Além dos preservativos, o livro, que deve ser traduzido para 18 línguas, aborda muitas outras questões sensíveis, incluindo os escândalos de pedofilia, o celibato e a ordenação feminina.

Com relação ao escândalo de pedofilia que abalou a Alemanha, terra natal de Bento XVI, assim como outros países ao redor do mundo, o Papa disse que estava "profundamente chocado".

Bento XVI também cogita a possibilidade de um diálogo "sincero" com o Islã, acrescentando que as declarações polêmicas que deu sobre o assunto foram uma tentativa de um discurso acadêmico, e não de uma palestra política.

Em setembro de 2006, durante um discurso em Regensburg, o Papa provocou revolta em alguns setores da comunidade muçulmana por questionar a base racional do Islã e associá-lo à violência.

O novo livro é a primeira série de entrevistas com o pontífice desde que o então cardeal Joseph Ratzinger tornou-se Papa, em abril de 2005.

Seewald fez mais de 90 perguntas sobre três temas principais durante as conversas, realizadas de 26 a 31 de julho na residência de verão do Papa, Castel Gandolfo.

O pontífice também aborda o caso do bispo que negou o Holocausto, Roger Williamson, o perigo de uma divisão na Igreja e a possibilidade de um Concílio Vaticano III sobre as reformas da Igreja.

Ex-comunista, Seewald tornou-se católico após conhecer o então cardeal Ratzinger, com quem produziu dois volumes anteriores de entrevistas.

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