"Não sinto vergonha", diz espanhol de 32 anos que mora com os pais

Arquivo pessoal
"Qual é o problema de meus pais me acolherem?", questiona Lorenzo Martínez, de 32 anos Imagem: Arquivo pessoal

ANELISE INFANTE

De Madri, para a BBC Brasil

29/09/2011 09h55

Por ter 32 anos e ainda morar com os pais, o espanhol Lorenzo Martínez já foi chamado de "filhinho de papai", de "Peter Pan" e costuma ouvir que é um bebê que não larga a saia da mãe. Mas ele rejeita esse tipo de apelido e acusações.

"Não acho que é algo do qual devo me envergonhar. O mercado de trabalho na Espanha está falido. Se não tenho outra forma de me manter, qual é o problema de meus pais me acolherem?", comentou Martinez à BBC Brasil.

Ex- estudante de Administração de Empresas e Economia, ele atualmente está cursando Direito. "Mas não gosto; entrei porque tinha de estudar alguma coisa."

Martínez diz que ainda não achou uma forma de se emancipar da família, mas que está em busca de um trabalho que lhe interesse.

"Quero uma coisa que me complete, mas não encontro. É um problema com o qual muita gente sofre. Não tem nada a ver com ser vagabundo e não querer nada com a vida", diz o espanhol, que mora com os pais Maria Luisa e Antonio, de 68 e 72 anos, e tem uma irmã casada.

Carro e bares

O espanhol conta que já buscou maneiras de se emancipar dos pais diversas vezes. Entre 2009 e 2010, fez trabalhos ocasionais para tentar juntar dinheiro para sair de casa. Mas a quantia economizada acabou sendo usada na compra de um carro novo e em casas noturnas.

"Aqui em Madri, o máximo que encontrei foi um estágio num escritório de advocacia que me pagava uma miséria por um trabalho de 12 horas por dia. Que opção temos nesse momento, em país com cinco milhões de desempregados?".

Indigência

O problema da falta de emancipação dos jovens e sua entrada tardia no mercado de trabalho preocupa a Comissão Sócio Econômica do Conselho Espanhol de Juventude.

O diretor do órgão, José Luis López Ibáñez, explicou à BBC Brasil que 42% dos jovens entre 22 e 34 anos que moram com os pais não recebem nenhum tipo de remuneração, seja salário ou contribuição governamental.

Se não contassem com a ajuda familiar, estariam na linha de indigência. Deste total, a metade está no grupo dos improdutivos: não estudam, nem trabalham.

A perspectiva para o futuro não aponta uma mudança de tendência. Segundo o Conselho de Juventude, uma de cada quatro pessoas entre 29 e 36 anos que se emancipou nos últimos 12 meses, voltou ao lar paterno por causa da crise.

Os preços de imóveis para compra e locação caíram no país. Mas a taxa de desemprego continua alta, acima de 20%, e, pelas estimativas da Prefeitura de Madri, o salário médio de um jovem teria que aumentar em mais de 300% para que ele pudesse comprar um imóvel na cidade, e 180% para alugar.

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