Topo

OPINIÃO: sobre os exageros e omissões a respeito do uso de agrotóxicos

Reginaldo Minaré

Coordenador da área de tecnologia da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil

14/06/2017 04h00

A produção agrícola ocupa posição de destaque na comunidade brasileira, garante os alimentos necessários à população doméstica, contribui com significativa parcela das exportações brasileiras e com a oferta de empregos no território nacional. A utilização dos produtos fitossanitários nas práticas agrícolas constitui ferramenta importante para proteger as lavouras das pragas e das plantas daninhas, proteção que é fundamental para garantir e melhorar a produção agrícola.

O uso de produtos fitossanitários não é uma particularidade da agricultura brasileira. Os agricultores dos Estados Unidos, do Japão, da Alemanha, da França, da Espanha, da Austrália, enfim os agricultores de todos os países do mundo lançam mão dos defensivos agrícolas para garantir a produção e a qualidade da mesma. No Brasil, o uso dos produtos fitossanitários é uma atividade regulamentada pelo Poder Público federal. Não se trata, portanto, de uma atividade proibida. O uso desses produtos deve seguir a recomendação aprovada pelo órgão oficial, que está na bula de cada produto, e as prescrições feitas por profissional habilitado.

Atualmente o agricultor, para sobreviver no mercado, precisa controlar seus custos de forma rigorosa. Os produtos fitossanitários são caros, representam item relevante na planilha de custos e não são utilizados de forma deliberada e descontrolada pelos agricultores. Usam quando necessário usar.

Cabe observar que o Poder Público Federal não elege um sistema de produção agrícola como sistema oficial. No Brasil, convivem de forma harmônica a prática da agricultura convencional e orgânica. A agricultura pode ser praticada utilizando insumos químicos, transgênicos ou biológicos.

Qualquer proposta destinada a eleger um modelo de produção agrícola em detrimento dos demais deve ser objeto de debate prévio, exaustivo, responsável e transparente, com a participação do Poder Público, da comunidade científica e da sociedade em geral, iniciando-se pela avaliação da viabilidade econômica da proposta.

Qualquer atuação isolada praticada por órgão de Governo ou mesmo por algum segmento da sociedade, no sentido de dificultar ou depreciar as práticas necessárias a um determinado modelo de produção, com o objetivo de promover, de forma velada, a adoção de modelo que considera mais adequado, deve ser de pronto rechaçada, visto que tal prática, quando desprovida do debate necessário e do adequado suporte científico flerta com a irresponsabilidade.

Não é exagero nem demagogia afirmar que a atual agricultura brasileira, de tão eficiente, pouco desperta na sociedade brasileira o interesse de compreender seus fundamentos e valorizá-la como instrumento estratégico para a população e para o Estado.

Quando vai comprar alimentos, o brasileiro encontra em todos os supermercados, feiras e açougues, alimento abundante, de boa qualidade e com bom preço. Seguramente, caso em algum momento configurar cenário diverso, campanhas contra a agricultura brasileira, como as que são produzidas abordando o uso de defensivos agrícolas teriam menos conteúdo ideológico, vertente de argumentação que é predominante nessas ações e sobrepõe a fundamentação científica, que dá mais trabalho e não tem apelo sensacionalista.

O Portal UOL publicou um especial sobre o uso de defensivos agrícolas, que está disponível no link: https://www.uol/estilo/especiais/veneno-invisivel.htm#veneno-invisivel. No início do trabalho, está o seguinte questionamento: “Dá para fugir dos agrotóxicos? Brasileiro consome 7 litros por ano sem perceber e país lidera o uso”. De fato, o especial não pode ser considerado uma matéria jornalista séria, mesmo quando credita a informação de consumo de 7 litros a um levantamento feito pela Fundação Oswaldo Cruz.

O Brasileiro nunca consumiu nem consome “7 litros de agrotóxicos” por ano. Os produtos são utilizados como em todos os lugares do mundo nas lavouras, nos campos de golfe e gramados esportivos, nos jardins, nas áreas urbanas para o controle de mosquitos, nas pastagens, nas lavouras de pinus, eucaliptos e seringueiras. Várias dessas atividades sequer estão ligadas à produção de alimentos.

Além disso, o Brasil não lidera o uso quando se analisa o uso de produtos por hectare. Países sem destaque na produção mundial de alimento como Holanda, Japão e Bélgica utilizam três vezes mais agrotóxico por hectare do que o Brasil. Em países como Alemanha, EUA, França e Inglaterra o consumo por hectare é semelhante ao do Brasil (Wagningen University; US – EPA). Ou seja, mesmo o Brasil sendo um dos principais produtores de alimento do mundo, está muito distante de liderar o uso de agrotóxico por área cultivada.

A comida que chega à mesa dos brasileiros é segura e de elevada qualidade. Trata-se de um tema que deve ser abordado de maneira séria.

Reginaldo Minaré, coordenador da área de tecnologia da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)