Topo

Perda familiar inspira Fernanda Gentil em ação social: "Me sinto heroína!"

Fernanda Gentil entre as crianças atendidas pelo projeto Caslu - Divulgação
Fernanda Gentil entre as crianças atendidas pelo projeto Caslu Imagem: Divulgação

Daniela Carasco

Do UOL

27/07/2017 04h00

A maternidade chegou à vida de Fernanda Gentil em um momento doloroso. Em 2011, a apresentadora do "Esporte Espetacular" perdeu uma das melhores amigas, sua tia Adriana, vítima de câncer. Como madrinha de Lucas, o filho de Adriana, Fernanda sentiu que deveria assumir o papel de figura materna na vida do menino, na época com 2 anos. "Ela nem precisou me deixar esse pedido. Através do olhar, entendi que tinha uma importante função na vida do Lucas", conta.

Além de ganhar um filho, Fernanda transformou o revés familiar em uma ação social, que hoje auxilia mais de 1.800 crianças. "Assim nasceu a Caslu", conta a apresentadora, que batizou a iniciativa com as sílabas invertidas do nome de Lucas. 

Junto com o ex-marido Matheus Braga e mais dois amigos -- Felipe Cantieri e Pratick Lopez --, Fernanda inaugurou o projeto em outubro de 2013. A Caslu ajuda instituições que cuidam de crianças e adolescentes dos mais variados perfis: órfãos, doentes, debilitados, sem lar.

Meu objetivo é ajudar quem enfrentou o mesmo que o Lucas, mas não teve a sorte dele, de encontrar amparo familiar"

"Brinco que meu filho tem pais separados, que nunca se casaram", explica Fernanda, que divide a criação do menino com o pai dele, Marcos.

O esforço é também uma maneira de estender os sonhos da mãe biológica de Lucas.

"A Adriana sempre desejou a maternidade e buscava se tornar uma pessoa melhor a cada dia", diz. "Tenho certeza de que ela teria sido uma mãezona. Faço isso por ela"

Mãezona gentil

A Caslu promove eventos beneficentes para ajudar outras instituições. O dinheiro empregado na realização de cada evento vem das camisetas vendidas no site do projeto. Cada uma custa R$ 70. No total, já foram comercializadas mais de 3.500 unidades, o suficiente para beneficiar 12 instituições.

"É importante dizer que nós não doamos dinheiro. A verba arrecadada é revertida em produtos e serviços necessários. Já fizemos até reformas", explica Fernanda.

Fernanda e os filhos Lucas e Gabriel - Divulgação - Divulgação
Fernanda e os filhos Lucas e Gabriel
Imagem: Divulgação

A primeira ação aconteceu no Natal de 2013, quando contribuíram para a festa de final de ano no INCA (Instituto Nacional de Câncer). Da fralda dos bebês ao bufê, passando por gincanas e entrega de presentes, tudo foi garantido pela Caslu. E, no fim, 400 crianças foram atendidas. "Começamos com o pé direito".

Desde então, Fernanda não precisa procurar instituições. Por meio das redes sociais e dos amigos, ela recebe inúmeras sugestões diariamente, que passam por uma avaliação criteriosa antes de serem de fato escolhidas. 

Dedicação diária 

O trabalho exige da apresentadora dedicação diária. "Todos os dias vou ao escritório da Caslu e trabalho por lá de três a quatro horas", conta. Além de responder aos e-mails e alimentar as redes sociais do projeto, ela recebe e despacha os pedidos de camiseta. Fora do escritório, atua diretamente nas ações, suprindo principalmente uma das maiores carências das crianças e dos adolescentes atendidos: a afetiva.

Fernanda percebeu ao longo dos quase quatro anos de trabalho uma necessidade muito maior de amparo emocional por parte dessas crianças e adolescentes.

Quando chego aos abrigos não me pedem nada material. Pedem um abraço, um colo, um beijo. A maior carência é a emocional”

Entre as situações inesquecíveis que viveu ao longo de 4 anos à frente da Caslu, sobram relatos emocionantes. Na saída de um evento na Fundação Santa Bárbara, do Rio, depois de uma manhã de atividades, ela foi agarrada nas pernas por três meninas, que tinham um pedido final em comum: "me leva para casa com você". 

"Como mãe, essa súplica falou direto com meu coração. Eu não tinha como levá-las e precisei passar um tempinho ali distraindo as três", recorda.

É impossível ir embora de um orfanato e ainda ficar chateada com uma discussão passada com uma amiga, com a namorada... Me faz rever qualquer problema"

Em uma outra ocasião, foi um menino, que durante uma oficina de arte a emocionou. Ele desenhou uma cena comum à sua realidade, mas bastante forte. Na paisagem retratada destacavam-se a arma de fogo e os respingos de sangue.

Fernanda em ação: projeto auxilia orfanatos, creches e hospitais - Divulgação - Divulgação
Fernanda em ação: projeto auxilia orfanatos, creches e hospitais
Imagem: Divulgação

"Chocada, perguntei o que era aquilo. Ele não pensou duas vezes para dizer: 'é o que eu vejo todos os dias'", conta Fernanda. "Notei que a imagem vinha cheia de sofrimento por parte dele. E aí bate uma espécie de frustração de não conseguir resolver aquilo. A minha solução foi sentar e conversar, dizer que ele já fazia parte de um processo de mudança, sendo um menino de bem. Vou como voluntária e acabo sendo um pouco heroína daquelas crianças".

Força para Lucas superar a saudade

Apesar de ser capaz de fazer coisas terríveis, o ser humano foi feito para ser incrível e a Caslu me mostrou isso. Investir seu tempo para ajudar quem precisa pode ser uma grande motivação de mudança pessoal e coletiva. Por isso, a gente quer picar as pessoas com o bichinho da boa ação, que é um caminho sem volta. Por mais clichê que possa parecer é verdade que quanto mais você dá, mais recebe em troca.”

Não à toa, vem ensinando aos filhos o valor da doação desde muito cedo. Lucas, hoje com sete anos, vai a todas as ações. Nunca faltou a nenhuma, desde a primeira.

É bonito ver meu filho interagindo com as crianças. Isso impactou muito na personalidade dele e também me transformou como mãe"

"Percebo até que as conversas sobre a Adriana mudaram. Antes da Caslu, ele sentia bastante a perda da mãe. Agora, agradece muito mais do que lamenta, está mais bem-resolvido. Esse contato deu força pra ele."

Até Gabriel, de apenas um ano, o filho caçula de Fernanda, já começa a se envolver pouco a pouco com a causa. Na próxima festa de aniversário, em agosto, os pedidos de presente serão substituídos pela venda da camiseta do projeto, em uma banquinha que será armada pela mãe dentro da festa. “Digo sempre que essas ajudas são para os nossos amigos que estão esperando por elas. Não tem como chegar em casa e fechar a porta achando que tudo o que vivemos na Caslu não vai interferir no nosso dia a dia.”

O trabalho, inclusive, é um dos fatores que a mantém muito próxima do ex-marido - eles se separaram há um ano e meio. Atualmente, Fernanda namora a jornalista Priscila Montandon. "Junto com o nosso filho Gabriel, o projeto que criamos é o laço mais puro e nobre que tenho com o Matheus."

Ajuda de Grazi, Sandy, Claudia Leitte

O combustível para seguir no caminho da solidariedade vem tanto das crianças que não querem deixá-los partir no fim de cada ação, quanto das dezenas de voluntários, que independente de qualquer problema pessoal fazem questão de dedicar seu tempo ao próximo. “São os personagens da vida que mais me inspiram”, diz Fernanda.

De mães que perderam os filhos até aquelas que precisam lidar com a dependência química dentro de casa, o que não falta é referência de voluntárias que só reforçam o seu desejo de alçar novos voos com a Caslu. Esse time, segundo ela, é reforçado ainda por nomes conhecidos do público.

A Grazi é uma madrinha. Faz doações de valores bastante representativos e é uma consumidora voraz das camisetas"

Na lista das personalidades que já contribuíram com o projeto, Fernanda cita ainda Sandy, Mariana Xavier, Alex Escobar, Felipe Andreoli, Ronaldo, Thiaguinho e Claudia Leitte.

Sua namorada, Priscila, também acaba de entrar para a lista de voluntários. "Ela é uma consumidora ativa das camisetas e já nos acompanhou em ações. Não tem como não se deixar levar". O trabalho, aliás, ajudou a fortalecer seus planos de aumentar a família. "Penso e adotar. Mas antes preciso me preparar psicológica, financeira e geograficamente", diz.

Para ajudar a Caslu acesse o site: mundocaslu.com.br