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Carolina Ferraz fala da perda do irmão e do ativismo na luta contra a AIDS

Bárbara Tavares

Do UOL, em São Paulo

18/08/2017 04h00

Dona de uma elegância que parece ter nascido com ela, Carolina Ferraz, 49 anos, é conhecida pelas personagens sofisticadas que já interpretou nas novelas. Mas, para a atriz, não há papel mais chique que um daqueles que desempenha na vida real: o de ativista. Carolina é uma voz atuante na luta contra a AIDS no país.

A atriz já participou de campanhas promovidas pelo Ministério da Saúde, pelo Grupo de Apoio à Prevenção da AIDS (GAPA) e é uma apoiadora do amFAR – fundação internacional que auxilia financeiramente a pesquisa científica pela cura da doença. O envolvimento com a causa nasceu por um motivo doloroso: Carolina perdeu o irmão mais velho, Guilherme, contaminado pelo vírus, aos 29 anos, em 1994.

"Pouco se sabia sobre a doença na época", recorda a atriz. "Meu irmão sobreviveu por 7 anos em boas condições, ativo e tocando a vida. Acho que um dia se cansou de lutar e se entregou. Foi muito triste ver alguém que eu amava tanto se desintegrar na minha frente".

Ter acompanhado o sofrimento de Guilherme foi uma experiência que a transformou. "Fiquei mais complacente com o próximo. A maior lição que uma família que convive com essa doença aprende é, sem dúvida, a solidariedade".

"Vi de perto a exclusão e o preconceito"

Além do sofrimento do irmão, a atriz recorda que a família teve que aprender a conviver com o preconceito.

Nós tínhamos dinheiro e podíamos acompanhar a evolução das drogas para tratar a doença. Mas ainda assim, vivíamos um segredo. Era quase proibido falar abertamente sobre nosso convívio com uma pessoa soropositiva

"Vi de perto a exclusão e o preconceito. Vi também muitos doentes serem abandonados por todos, sem nenhum apoio emocional. Essa, para mim, foi a pior parte".

"Sou exagerada com as minhas filhas"

A atriz investe seu tempo em campanhas beneficentes e de conscientização, especialmente àquelas voltadas aos mais jovens. "Imagine o que é chegar para seu filho adolescente e dizer: 'filho, você contraiu uma doença muito séria que vai mudar sua vida. O mundo que você conhecia até hoje não existe mais. Você terá que tomar remédios para o resto da vida, se alimentar de uma determinada maneira e mudar seu comportamento sexual'".

Como mãe, a atriz diz que procura manter sempre o diálogo aberto com a filha Valentina, 22, e que assim será também quando a caçula Anna Izabel, 2, crescer.

"Como mãe sou meio exagerada. Digo a Valentina sempre que AIDS existe e que não é brincadeira. Tem que usar camisinha, sim! Tem que ter consciência”, explica. "Na nossa família temos informação e sou aberta para discutir qualquer assunto".