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Ex-engenheiro do Google contrata advogada que Trump quase nomeou

Sede da Google em Mountain View, na Califórnia - Marcio Jose Sanchez/AP
Sede da Google em Mountain View, na Califórnia
Imagem: Marcio Jose Sanchez/AP

Ellen Huet

do Bloomberg

24/08/2017 16h09

O engenheiro demitido pelo Google após criticar as políticas de diversidade da empresa por ignorarem as diferenças entre os sexos contratou a advogada especialista em direitos civis Harmeet Dhillon, amplamente citada meses atrás como candidata a um cargo de alto escalão no Departamento de Justiça dos EUA.

Dhillon confirmou na quarta-feira que está representando James Damore, que afirmou que planeja processar seu antigo empregador por causa da demissão. Ele gerou controvérsia neste mês com um memorando de 10 páginas no qual criticou fortemente o "viés esquerdista" do Google para criar uma "monocultura politicamente correta".

"Estamos envolvidos também com diversos outros funcionários ou ex-funcionários do Google que sofreram ações adversas de emprego no Google", disse Dhillon em comunicado. "Estamos analisando todos os possíveis caminhos legais para esses clientes e reunindo fatos sobre as condições de trabalho no Google, particularmente para aqueles cujos pontos de vista são incompatíveis com a ortodoxia política do Google."

Em comunicado divulgado na quarta-feira, o Google afirmou que mantém políticas sólidas contra retaliação, assédio e discriminação no ambiente de trabalho e que apoia fortemente "o direito dos googlers de se expressarem".

"Uma parte importante da nossa cultura é o debate ativo", disse Ty Sheppard, porta-voz da empresa, no comunicado enviado por e-mail. "Mas como em qualquer ambiente de trabalho, isso não significa que se possa fazer tudo."

Em março, Dhillon estava na lista final de candidatos do presidente dos EUA, Donald Trump, para comandar a Divisão de Direitos Civis do Departamento de Justiça, segundo reportagens da imprensa. O presidente acabou nomeando o advogado trabalhista Eric Dreiband em junho.

Dhillon assumiu outros casos que batem de frente com as tendências progressistas da Área da Baía de São Francisco. Em um dos processos, ela representa a Associação de Agentes de Fianças da Califórnia, que contesta uma ação coletiva que alega que o sistema de fianças de São Francisco discrimina os pobres que não podem pagar fianças enquanto aguardam julgamento em processos criminais.

Em outro, ela apresentou queixa contra a cidade de San José, Califórnia, em nome de apoiadores de Trump que acusam policiais de não evitarem que eles fossem espancados por manifestantes anti-Trump em um evento de campanha, em 2016.

Ela também representou grupos de estudantes republicanos da Universidade da Califórnia em Berkeley que lutavam para evitar o cancelamento de um discurso da comentarista conservadora Ann Coulter no campus, em abril, segundo reportagens da imprensa.

O memorando de Damore argumentou que a escassez de mulheres em cargos de tecnologia e liderança se deve a diferenças biológicas. O texto circulou amplamente dentro da empresa antes de vir a público, gerando um furor que ampliou a pressão sobre os executivos do Google para que adotassem uma postura mais definitiva.

Damore afirmou que os executivos do Google o haviam "envergonhado" pelas opiniões expressadas no memorando. O Google negou a acusação de Damore de que suas práticas de contratação são ilegais. A empresa afirmou que o demitiu por violar seu código de conduta e por promover "estereótipos de gênero prejudiciais em nosso ambiente de trabalho".