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Ela criou um robô feminista que luta pelas mulheres; conheça a Beta

Mariana, criadora da Beta, a robô feminista - Divulgação
Mariana, criadora da Beta, a robô feminista Imagem: Divulgação

Marcos Candido

Do UOL, em São Paulo

26/09/2017 04h00

Ela ajuda a mobilizar centenas de pessoas contra projetos de lei que ameaçam os direitos das mulheres na Câmara, no Senado e até no judiciário brasileiro. Não, não é garota da foto. Quer dizer, não exatamente...

A responsável pelo movimento é uma robô chamada Betânia, mas pode chamar só de Beta: uma robô feminista que luta via Facebook. Por trás de Betânia está Mariana Ribeiro (essa, sim, a da foto!) líder da equipe de programadores que deu o “tom de voz” à robô --cujas respostas são acompanhadas de emojis e hashtags-- e a "ensinou" sobre os direitos fundamentais das mulheres. 

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A robô mantém um perfil na rede social e responde, sozinha, a perguntas sobre o que é feminismo, machismo e revela até mesmo a música preferida (a propósito, é “Brincar de Viver” da Maria Bethânia). Quando uma pauta importante às mulheres está para ser debatida em Brasília, Beta envia mensagens a seus mais de 15 mil seguidores com instruções e estratégias para se posicionar contra. “Passo os dias monitorando”, explica a robô. “Dá um trabalhão”.

Na última quarta-feira (20), Beta ajudou a enviar os mais de 4.500 e-mails para pressionar deputados da comissão especial que vota a PEC 181/2015, apontado por especialistas como capaz de acabar com o aborto legalizado no país. A emenda pede a alteração de um dos trechos da Constituição, exigindo a proteção constitucional ao brasileiro "desde a concepção" --o que pode invalidar o Código Penal que permite interrupção da gravidez em casos de estupro, feto anencéfalo e quando há riscos para a mãe.

Batalha de robôs

Aprendendo a como programar, Mariana disputa espaço com um projeto no universo da programação, ainda tido como majoritariamente masculino.

Mesmo que historiadores apontem que o primeiro computador foi criado por uma mulher inglesa chamada Ada Lovelace no século 19, a histórica falta de incentivo e o apagamento das programadoras no campo da tecnologia reflete até mesmo na equipe de Mariana que, atualmente, conta com apenas duas mulheres.

Parte da equipe de Mariana (segunda, da esq. para dir.): grupo criou tom de voz simpático da robô cujo nome presta homenagem a cantora Maria Bethânia - Divulgação - Divulgação
Parte da equipe de Mariana (segunda, da esq. para dir.): grupo criou tom de voz simpático da robô cujo nome presta homenagem a cantora Maria Bethânia
Imagem: Divulgação

Robôs influenciam nas redes sociais

Para a coordenadora, a menor quantidade de mulheres no ativismo digital tem reflexos, e que você talvez nem desconfie. É o caso de robôs, escondidos por trás de perfis falsos, que repassaram mensagens de extrema-direita no Twitter e Facebook, que acredita-se terem sido a comando do governo russo.

Analistas observam que as mensagens ajudaram a eleger Donald Trump, simpático ao presidente russo Vladimir Putin, à presidência dos Estados Unidos no ano passado.

Beta opera de forma diferente: ela oferece aos seguidores uma série de atalhos automáticos para enviar e-mails e oferecer informações. Mariana explica que Betânia ajuda a aprimorar as respostas automáticas a partir de perguntas que são enviadas.

A intenção, diz, é instruir de forma cada vez mais didática durante as interações. “É o tipo de tecnologia usada para pautas conservadoras do qual boa parte do campo de direitos das mulheres estava desmunida”, diz.

A emenda que pode barrar o aborto será discutida novamente no dia 4 de outubro, na Câmara Federal, mas Mariana garante: Beta estará na linha de frente.