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Aborto e feminismo: o que pensa Manuela D'Ávila, pré-candidata a presidente

Manuela D"Ávila em 2013 - Sérgio Lima/Folhapress
Manuela D'Ávila em 2013 Imagem: Sérgio Lima/Folhapress

Marcos Candido

Do UOL, em São Paulo

11/11/2017 04h01

“Até me apavora essa pergunta”, rebate Manuela D’Ávila, deputada estadual gaúcha e ex-deputada federal, quando perguntada se evitaria o termo “feminista” durante a campanha nas eleições de 2018. Manuela foi oficializada como pré-candidata à presidência da república pelo PCdoB nesta quarta (8), na Câmara dos Deputados, em Brasília. “Uma feminista que concorre a eleição evitar os temas do feminismo seria uma contradição muito grande”, diz ao UOL.

Aborto

Na mesma semana em que ela voou para Brasília para anunciar a pré-candidatura, uma comissão na Câmara aprovou a PEC-181, que pode impedir o aborto até mesmo em casos de estupro. “Essa proposta [da PEC 181] serve para aumentar o ambiente de ódio e intolerância que agrave a crise. É uma agenda que precisa ter a página virada em 2018”, disse.

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Ela diz que o tema aborto será um dos pontos abordados em sua campanha. “Não existe nenhuma mulher que seja favorável ao aborto. Mas é um tema importante a ser debatido com as mulheres, por ser uma questão de saúde pública”, disse. “Todas nós sabemos que somos contra o aborto, mas que mulheres ricas não morrem quando o fazem, enquanto as mulheres pobres morrem”.

Nas últimas eleições, debates sobre a ampliação do direito ao aborto foram evitados pelos candidatos à presidência. Nos governos de Dilma Rousseff, cujo partido é aliado histórico do PCdoB, a discussão também foi evitada.

O termo feminista, para ela, não tem nada de ‘assustador’ para o eleitorado. “O que assusta a mulher é ainda ganhar menos do que o homem, não ter creche ou ter que enterrar o próprio filho em comunidades pobres”.

“Não sou uma outsider”

É a primeira vez, desde a redemocratização, que o PCdoB terá uma pré-candidata própria para o executivo -- e será a segunda candidatura à presidência em 95 anos de partido.

O ato foi visto por alguns petistas, como o senador Lindbergh Farias, como um possível distanciamento do PT, aliado que ainda pode anunciar a candidatura do ex-presidente Lula, condenado na Operação Lava Jato. Tanto a direção partidária do PCdoB quanto Manuela negou, durante a coletiva de imprensa na quarta (8), de que há uma ruptura para se distanciar da imagem do partido do ex-presidente.

Segundo Manuela, a candidatura solo tem como objetivo criar uma frente ampla para discutir, com movimentos sociais e diversos setores da sociedade, maneiras para se sair da crise econômica, política e a retomar o crescimento econômico.

“Não é uma frente partidária ou uma frente de coligação. Não é um debate eleitoral. É um debate sobre a nação e o que pode ser melhorado. Um diálogo entre os partidos e a sociedade”, disse. Ela diz que os temas propostos pretendem combater os números de violência no país e o desemprego, na casa dos 12% até o fim de setembro de 2017.

Lula, Alckmin, Ciro... Dória?

“Claro, essa frente também passa pelos partidos de esquerda. Eu sou de um partido de esquerda e me nego a fazer um papel de outsider. Aliás: nada mais insider do que um outsider”, disse. Questionado se se referia ao tom relacionado ao prefeito de São Paulo João Dória nas eleições de 2016, Manuela não confirmou. “O candidato do PSDB em 2018, acredito, será o [governador paulista Geraldo] Alckmin”, rebateu a pré-candidata.

Além de Alckmin, ela acredita que os principais nomes serão Lula e Ciro Gomes. O mesmo tom é atribuído a uma possível candidatura do apresentador Luciano Huck. Ainda não há um pronunciamento oficial se Dória será vice do governador paulista Geraldo Alckmin ou se terá candidatura própria.

Sobre o governo do presidente Michel Temer, ela defende um referendo com a população para perguntar se a reforma trabalhista, em vigor desde esta sexta (10), deve ser mantida ou não.

Trajetória

Manuela é militante política desde a adolescência. É formada em jornalismo. Aos 25, foi eleita deputada federal pelo PCdoB, pelo qual cumpriu dois mandatos e se tornou líder de bancada na Câmara. Hoje, com 36, é deputada estadual no Rio Grande do Sul.