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"Muito chocada": mulher agredida por segurança do Metrô de SP quer justiça

Amanda Serra e Denise de Almeida

Do UOL, em São Paulo

21/12/2017 17h43

Após ser agredida por um segurança do Metrô de São Paulo, Juliana Silva, 35, prestou depoimento na Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom), na Barra Funda, e fez exame corpo de delito nesta quinta-feira (21). Sua companheira, Marta dos Santos, 30, e o vendedor Diego Rodrigo Lima, 31, agredido ao tentar defender a vítima, também deram suas versões.

“Segundo um dos funcionários do Delpom, o segurança está em processo de demissão e também disseram que ele não atua mais na empresa. Mas agora, ele alega que cuspi na cara dele no momento da discussão, o que não é verdade. Dá para ver no vídeo, quero que as imagens sejam analisadas e tudo se esclareça. Eu e a Marta não fizemos nada contra ele para sermos tratadas dessa maneira. Nem com sacola estava na hora”, diz Juliana. Procurado, o Metrô reafirmou que o funcionário, que é concursado, está afastado enquanto as investigações internas ocorrem.

“Ainda estou muito chocada com tudo isso, com medo, porque você não sabe o que a pessoa pode fazer; ele tem acesso aos meus dados. Foi surreal, não esperava que isso aconteceria comigo. E ele já mostrou que é violento. Mas espero que a justiça seja feita e que isso sirva de exemplo para que não aconteça mais, porque sabemos que cenas iguais às minhas são comuns e diárias no metrô", diz Juliana. 

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O rapaz alto e de camisa azul que aparece no vídeo é Diego e ele também trabalha como ambulante no transporte público de São Paulo. Ele teria sido atingido por um golpe de cassetete ao defender a colega. "Assim que vi a discussão, entrei na frente e disse para o segurança: 'você não pode agredi-la, pode imobilizá-la caso esteja acontecendo algo errado, ou tenha flagrado algo, mas bater, não'. Ele me perguntou: ‘Quem é você? Por que está se metendo? Conheço sua laia'", relata o rapaz, que perdeu o emprego como segurança de escolta há um ano e desde então tem trabalhado como "marreteiro". 

Os agredidos têm seis meses para representar criminalmente contra o agressor. Foram solicitadas as imagens das câmeras de monitoramento da estação. “Vou continuar trabalhando, porque não tem como parar, não temos emprego formal. Mas vamos se será possível continuar como ambulante. Pretendo entrar com o processo criminal, mas preciso de um advogado para conseguir conduzir o caso”, afirma a vendedora.

Vale destacar que a venda de produtos dentro do sistema de transporte metropolitano é irregular, mas não ilegal: ou seja, um ambulante que esteja vendendo itens no Metrô não está cometendo um crime.

Segundo o Metrô informou à reportagem, o procedimento que os seguranças devem adotar ao flagrar o comércio irregular é retirar o vendedor e apreender a mercadoria, e não agir com violência.

Entenda o caso

De acordo com Juliana, ela, seu filho de 18 anos e Marta pegaram o metrô na estação Patriarca, pois iam ao Shopping Tatuapé retirar panetones. Ela se sentou em um banco no trem, enquanto sua esposa ficou ao lado, sentada no chão, separando alguns papéis.

Conhecidas na Linha 3-Vermelha, onde trabalham diariamente, vendendo chocolates e itens como fones de ouvido e spinners, elas foram abordadas na estação Guilhermina-Esperança -- dois seguranças entraram no vagão e questionaram se elas estavam com mercadorias. Ao verem que as duas estavam no trem apenas como passageiras, exigiram que Marta se levantasse do chão. Ela acatou a ordem, mas continuou separando papéis de sua carteira. Eles exigiram que ela os recolhesse do chão e “parasse de sujar o metrô”. Marta avisou que faria isso antes de descer do vagão.

“Mas aí eles a arrastaram e a retiraram do vagão à força, na estação seguinte”, conta Juliana ao UOL, que entrou na frente para defender sua parceira e acabou sendo agredida. “Me coloquei na frente e falei que ele estava agredindo uma mulher, que não podia fazer isso. Ele não gostou e me bateu. Também ameaçou uma outra pessoa que estava filmando e um cara [Diego] que entrou para nos defender. Para esse rapaz, além do golpe de cassetete, ele disse - ‘não acabou agora não, te encontro na rua’”, relata. O segurança usava uma mochila, o que indicaria que ele não estaria trabalhando no momento do ocorrido.

Segurança desaconselhou a registrar ocorrência

Ainda de acordo com Juliana, ela e Marta foram abordadas por uma outra segurança da estação logo após o ocorrido. “Ela quis saber se estávamos bem, mas nos desaconselhou a fazer um Boletim de Ocorrência, pois segundo ela, o agressor está com ‘problemas psiquiátricos’ e a ocorrência não daria em nada. Mas aí eu pergunto, como alguém louco trabalha no meio das pessoas?”, questiona a vendedora, que logo depois se dirigiu para Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom), na Barra Funda, onde ficou até as 4 horas da manhã. De lá, foi encaminhada para o exame de corpo de delito.