Topo

Os perigos ocultos da ingestão de suplementos de proteína

Muitas pessoas tomam shakes de proteína para conseguir resultados mais rápidos na academia - Thinkstock
Muitas pessoas tomam shakes de proteína para conseguir resultados mais rápidos na academia Imagem: Thinkstock

07/04/2016 16h09

Em janeiro, fui parar no hospital devido a uma forte dor no abdômen, que me impedia de ficar em pé na postura correta.

Depois de um exame e de muita dor, o médico me disse que eu estava com cálculos renais, provavelmente causados pela ingestão desproporcionalmente alta de proteínas.
 
Meu corpo simplesmente não conseguiu processar tudo, e a proteína se transformou em depósitos calcificados nos rins. O episódio me levou a pensar nos meus anos de exercícios na academia.
 
Depois de muitos anos treinando, me transformei em uma das pessoas que se convencem de que, com seu rudimentar conhecimento de nutrição, acham que podem fazer com que seu corpo funcione de maneira mais eficiente e seus músculos fiquem maiores.
 
E, como qualquer um que já tenha feito isso sabe, a base desse processo é ingerir muita proteína.
 
A questão é: o que acontece quando uma pessoa começa a ingerir tanta proteína?
 
Consequências
A Agência de Normas Alimentares da Grã-Bretanha, por exemplo, recomenda que um adulto consuma até 55 gramas de proteína por dia.
 
Mas essa quantidade é apenas aproximada e varia dependendo da massa corporal, do gênero e do esforço físico da pessoa.
 
Por outro lado, um estudo da Universidade de Connecticut, nos Estados Unidos, descobriu que tomar proteína do soro de leite (um elemento básico para a maioria dos fanáticos por fitness) durante um período prolongado está relacionado a um risco maior de problemas renais.
 
E também pode ter um efeito negativo grave em outros aspectos da saúde, causando desidratação, fadiga e até aumentar o estresse do coração.
 
Músculos
Para que o corpo possa funcionar em um nível adequado, nutricionistas recomendam que obtenhamos nossas proteínas de forma natural, diretamente dos alimentos.
 
O principal problema é que os “vendedores de proteína” não têm nenhuma obrigação legal de apresentar a composição nutricional de seus produtos, já que eles são classificados como “suplementos” e não como “alimentos”.
 
Mas os rins correm perigo quando se trata de um produto responsável por uma grande proporção da ingestão diária recomendada --a maioria dos shakes de proteína têm cerca de 20 gramas de proteína por porção (alguns “construtores de músculos" têm mais de 50 gramas e mais de mil calorias).
 
Geralmente, os suplementos são tomados sem recomendação médica - Thinkstock - Thinkstock
Imagem: Thinkstock
 
A imprensa especializada em boa forma também tem parte da culpa. A especialista em treinamento pessoal Pola Pospieszalka disse à BBC que “as revistas de fitness apelam para vaidade, não se concentram na saúde”.
 
Pospieszalka está convencida de que podemos tirar todos os nutrientes de que precisamos de uma dieta equilibrada.
 
A personal trainer Jade Lindsay concorda, agregando que alguns de seus clientes em academias “desenvolveram até problemas nos ossos” após apelar para suplementos alimentares para conseguir o corpo sonhado em pouco tempo.
 
Responsabilidade
Nem todos os personal trainers são tão responsáveis no momento em que seus clientes buscam resultados rápidos.
 
Eu mesmo passei muito tempo na academia escutando sobre dietas malucas que recomendavam o consumo de mais de 200 gramas de proteína por dia.
 
Em meu esforço para conseguir ser musculoso, caí na armadilha. Spencer Nadolsky, ex-lutador e agora médico especializado em emagrecimento, diz que há "muita desinformação" nesse meio e que muitas vezes os personal trainers têm um conflito de interesse: ao mesmo tempo em que precisam orientar seus clientes, muitos são estimulados a vender produtos.
 
Este é um tema que preocupa Charlayne Hart, modelo e tetracampeã do mundo em fitness.
 
Ela disse que a maioria dos treinadores que aconselham o uso de suplementos “está tentando ganhar um dinheiro extra”, mas acredita que o problema está na forma como os suplementos são comercializados.
 
E, além dos personal trainers, "há também os promotores destas empresas (de suplementos) que tentam convencê-lo a ingeri-los para ganhar comissão”, disse Hart.
 
"Caí na armadilha das dietas de alta proteína sem saber muito sobre os efeitos no longo prazo que elas podem ter no corpo. Tive problemas graves de dor no estômago, cólon muito bloqueado e sofro de colite (inflamação do intestino grosso)."
 
O que está claro é que um aumento do consumo de proteína não é uma solução rápida para alcançar o corpo desejado. Pelo contrário, pode trazer riscos graves para a saúde.