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Exercícios para o cérebro podem ajudar a emagrecer, dizem médicos

O "neurofitness" consiste em exercitar o cérebro para aumentar a capacidade de alcançar objetivos - Thinkstock
O 'neurofitness' consiste em exercitar o cérebro para aumentar a capacidade de alcançar objetivos Imagem: Thinkstock

Por Rosana Faria de Freitas

Do UOL, em São Paulo

02/05/2013 07h00

O cenário não é novo nem raro, acometendo muitas pessoas no dia a dia: mesmo fazendo todo o esforço possível, a dieta e o exercício físico não são suficientes para baixar o ponteiro da balança. De acordo com o clínico geral e fisiologista do exercício, João Pinheiro, formado em medicina pela Universidade Federal do Pará, diversos fatores podem interferir no resultado. E é aí que entra o que ele chama de neurofitness ou neuróbica:“O indivíduo que está acima do peso usa a comida para driblar frustrações, angústias, estresse. E, nesses casos, muitas vezes é preciso fazer algo a mais. Alguns exercícios mentais ajudam a ultrapassar as barreiras para a perda de peso.”

A ‘malhação’ que mexe com a mente engloba desde manobras de equilíbrio até pulos e agachamentos (veja exemplos no fim do texto). São movimentos simples que estimulam o cérebro de alguma maneira, disparando comandos para as áreas neuronal e muscular. Indicada para todas as idades, a ideia é revigorar a habilidade cerebral e aumentar a capacidade de alcançar objetivos definidos. A modalidade dá uma força no emagrecimento e ainda minimiza problemas como insônia, perda de memória e distúrbios de atenção. “O recomendado é associar o neurofitness a alguma atividade física tradicional – dança de salão, musculação, esportes”, diz Pinheiro.

Conceito novo

Embora ainda não haja comprovação científica, especialistas acreditam que a prática pode funcionar. De acordo com o neurologista Leandro Teles, formado e especializado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), médico do Hospital Oswaldo Cruz (SP), o termo neurofitness é aplicado em duas situações distintas: exercícios mentais em prol da capacidade intelectual – de concentração, memória e estratégia, por exemplo; e atividade mental para perda de peso, redução de medidas e contorno corporal. “O primeiro item já foi bastante estudado e conta com embasamento científico, enquanto o segundo se baseia em um conceito relativamente novo e, por isso, carece de pesquisas. Mas é possível que seja eficaz, sim.”

Duas hipóteses, na opinião do neurologista, explicariam como a modalidade influencia na perda de peso. Para começar, ele diz, a atividade mental guiada leva a mudanças comportamentais que favorecem o emagrecimento. “O cérebro é que sente fome, faz as opções alimentares, seleciona as quantidades; e, na ginástica, define o tipo e a intensidade do exercício. Mais que isso, é a cabeça que se frustra com os resultados ruins, desanima, desiste. Nessa perspectiva, podemos dizer que um cérebro melhor treinado auxilia na perda de peso, melhorando as escolhas e o comprometimento com os resultados. Indivíduos que estabelecem metas progressivas são, de modo geral, mais bem sucedidos.”

Segundo Teles, alguns exercícios poderiam, teoricamente, mudar a relação do organismo com a atividade física e a alimentação, além de transformar a imagem corporal e a forma de se encarar os desafios. “O efeito é indireto: o cérebro auxilia a melhor administração dietética e esportiva e o peso é reduzido por essa modificação comportamental.”

Mudanças no organismo

A segunda hipótese que explica o sucesso do neurofitness é fisiológica: a atividade mental altera a secreção hormonal e origina uma nova ação metabólica mais favorável ao emagrecimento. “Isso tem algum embasamento científico: a produção de leptina e grelina, hormônios da saciedade, depende diretamente do estado emocional, do sono e de outros aspectos cerebrais.

Além disso, existem outras pontes entre exercício mental e alteração metabólica: pessoas ansiosas liberam mais cortisol, associado à redistribuição de gordura; a insônia crônica leva ao ganho de peso; a depressão altera o apetite”, observa Leandro Teles. O neurologista acredita que há pessoas sensíveis a este tipo de prática somada a medidas tradicionais, como dieta e exercício físico convencional, enquanto em outras não funcionaria.

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    Exercícios de equilíbrio e de coordenação motora ajudariam a treinar o cérebro para emagrecer

Suzete Motta, médica formada pela Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) com prática ortomolecular e formação em estética médica, concorda. “De qualquer forma, sabemos que o cérebro é o responsável por tudo. Para citar um exemplo, considere que o estresse aumenta o cortisol e altera o sono, fatores que influenciam na gordura corporal. Quer dizer, muitos aspectos estão relacionados.”

A médica explica que o cérebro humano é constituído por cerca de 100 milhões de células nervosas, os neurônios, que trazem uma característica especial: a neuroplasticidade, que nada mais é do que a capacidade de se modificarem e adaptarem sua estrutura e função em resposta às exigências externas e internas do organismo. “Toda demanda que desafie ou estimule o cérebro produz alterações anatômicas que geram sinapses, quer dizer, comunicação entre os neurônios. O mentalfitness, também chamado de neurofitness ou neuróbica, aciona tal mecanismo, resultando em melhora do desempenho cognitivo – raciocínio, memória, concentração – e controle do estresse e da ansiedade, que auxiliam na perda de peso”, conclui Suzete Motta.

Veja, agora, alguns exercícios da modalidade:

1. Aposte no equilíbrio
Este exercício é simples e pode ser feito em casa. Fique em pé sobre uma plataforma e eleve os braços na altura dos ombros. Após manter o equilíbrio, tire o pé esquerdo por alguns minutos e depois faça o mesmo com o pé direito. Repita dez vezes com cada pé.

2. Exercite sua coordenação motora
Que tal andar de costas na esteira? Na velocidade de 1 km/h, suba no aparelho de costas e caminhe. No início, você pode apoiar os braços nas laterais para se acostumar. Pratique por cinco minutos.

3. Responda aos comandos
Peça a ajuda de uma amiga para ordenar que você pule ou agache assim que ela fizer um sinal. Elaborem uma sequência de exercícios: quando ela levantar o braço esquerdo, por exemplo, você deve pular três vezes; quando ela abaixar o mesmo, você tem que agachar. Dedique-se a essa ‘aulinha’ por cinco minutos, no mínimo.

4. Brinque com objetos
Em casa, disponha cinco cadeiras em um ambiente e ande entre elas, primeiro de frente e depois voltando de costas. Na sequência, pegue uma bola e a conduza com o pé esquerdo passando pelas cadeiras, depois alterne e repita com o pé direito.