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Inspiração pra fazer da atividade física um hábito


Preenchedor promete aumentar bumbum sem o desconforto da cirurgia

Num país como o nosso, nascer sem um bumbum avantajado é garantia de insatisfação com o espelho - Thinkstock
Num país como o nosso, nascer sem um bumbum avantajado é garantia de insatisfação com o espelho Imagem: Thinkstock

Tatiana Pronin

Do UOL, em São Paulo

20/06/2013 07h00

Cara e ainda pouco conhecida entre os médicos, uma substância chamada hidrogel de poliamida promete atrair mulheres interessadas em ganhar volume nos glúteos, mas sem coragem de enfrentar o bisturi. Enquanto alguns especialistas defendem que a novidade é segura, outros recomendam cautela, pelo receio de reações a longo prazo.

Num país como o nosso, nascer sem um traseiro avantajado é, quase sempre, garantia de insatisfação com o espelho. Você pode até ter pouco seio, pneuzinhos a mais, celulite ou pernas finas - mas se tiver um bumbum farto  (ou mesmo modesto, mas redondinho e arrebitado), vai ter espaço cativo nas fantasias masculinas.

Cirurgiões plásticos brasileiros ficaram tão craques em colocar implantes de silicone no bumbum que são sempre chamados para dar aulas em outros países. Mas nem toda mulher tem coragem de se submeter à gluteoplastia. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, em 2011 foram feitos 21,5 mil procedimentos desse tipo, contra 149 mil cirurgias de aumento de mama.

Quem busca uma solução rápida para ganhar bumbum e tem medo de cirurgia já deve ter ouvido falar sobre produtos preenchedores. E o hidrogel de poliamida, vendido aqui com o o nome comercial de Aqualift, entra nessa categoria.Trata-se de uma substância composta por 98% de água e 2% de poliamida, uma molécula sintética que armazena esse líquido. 

EU FIZ

A microempresária Claudia Bellini, de 42 anos, fez uma aplicação de hidrogel de poliamida nos glúteos e diz ter ficado muito satisfeita com os resultados. Segundo ela, além de melhorar o volume, o procedimento "dá uma esticadinha, então a aparência da pele fica muito mais bonita". Ela diz que não sentiu dor alguma. "O único incômodo é ter que deitar de bruços por alguns dias, mas é muito tranquilo", conta.

Ela chama atenção para algo que é um efeito comum da injeção: nos primeiros dias, pelo inchaço, o volume fica um pouco maior que o definitivo, que se estabelece alguns dias depois. Ela diz que pretende repetir a aplicação no rosto, para diminuir as marcas de expressão nas laterais da boca.

Depois que o hidrogel é aplicado sob a pele com microcânulas, uma cápsula se forma em volta dela, o que adia sua absorção pelo organismo - no caso dos glúteos, a duração é de quatro a seis anos, segundo o fabricante. A mesma camada impede que a substância migre para outras regiões do corpo, causando deformações. O procedimento não exige internação, é feito com anestesia local, dura cerca de uma hora e a paciente pode voltar às atividades rotineiras no mesmo dia.

Segundo o cirurgião Wagner Montenegro, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, a substância oferece várias vantagens: "Não há efeitos colaterais, a única coisa que a paciente pode apresentar é edema leve e alguns hematomas na região da aplicação. Ambos desaparecem gradativamente em poucos dias", garante.

Além do aumento de glúteos, o cirurgião diz que o hidrogel proporciona bons resultados também para dar volume às coxas. "Essa era uma demanda para a qual  não havia uma boa solução, já que não existem próteses de silicone nem preenchedores para esse uso. O hidrogel cumpre muito bem essa função", atesta.

Quem já leu relatos sobre complicações com o PMMA (polimetilmetacrilato), substância que também já foi usada para aumento de glúteos, deve estar se perguntando se o hidrogel também não pode causar problemas parecidos: "Por ser um material biocompatível, o hidrogel não oferece riscos de rejeição, reações alérgicas ou incompatibilidade, portanto não há risco de necrose", responde Montenegro. O especialista esclarece que o PMMA é um preenchedor definitivo, à base de material acrílico, portanto não é indicado para grandes aplicações.

Origem

Desenvolvido na Ucrânia em 2004, o Aqualift é comercializado em alguns países da Europa, da Ásia e do Oriente Médio. No Brasil, foi registrado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em novembro de 2008 tanto para preenchimentos faciais quanto tanto corporais. Ele não é aprovado nos EUA.

O pós-operatório, no caso do hidrogel de poliamida, é mais simples que o de uma cirurgia de implante de silicone, já que não há cortes e nem necessidade de repouso.

Mas também exige cuidados: "É necessário que a paciente use cinta de compressão por dez dias e durma de bruços ou de lado por alguns dias. A prática de exercícios físicos também deve ser evitada por um período mínimo de 30 dias. Quanto à exposição solar, ela só é permitida após o desaparecimento total dos hematomas", descreve Montenegro.

A lista de contraindicações não é pequena e inclui pacientes com doenças inflamatórias ou infecciosas agudas e crônicas, doenças do tecido celular cutâneo e subcutâneo na área de aplicação ou problemas nos vasos sanguíneos no local da injeção, entre outras.

Preço salgado

Se o PMMA, condenado pelos médicos para uso em grandes quantidades, era uma opção barata para preencher o glúteo (e por isso tornou-se tão popular), o hidrogel de poliamida não deve ganhar tanto destaque por causa do preço, não muito convidativo.

Segundo o distribuidor no Brasil, a RejuveneMedical, cada 100 ml custa em torno de R$ 2.300. Considerando que para aumentar o bumbum é recomendado aplicar no mínimo 200 ml em cada lado,  é preciso desembolsar ao menos R$ 9.000, sem contar os honorários médicos, que variam de acordo com o profissional. O investimento, portanto, não difere muito de uma cirurgia plástica.

Críticas

Vários profissionais procurados pelo UOL não conhecem ou não têm experiência com o hidrogel de poliamida para atestar sua segurança e eficácia. A médica Joana D'Arc Diniz, diretora científica da Sociedade Brasileira de Medicina Estética, é um exemplo. Para ela, a única substância que ela recomendaria para grandes aplicações é o "'velho e seguro" ácido hialurônico, usado há muitos anos em preenchimentos faciais. 

O problema do ácido hialurônico, como explica o cirurgião plástico Eduardo Lange, também membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, é que o produto sai muito caro se usado em grandes quantidades, e os resultados desaparecem em pouco tempo, já que a substância é absorvida pelo organismo em questão de meses. Em termos de custo-benefício, portanto, não faria sentido usá-la para aumento de glúteos.

Para Lange, o fato de o hidrogel de poliamida não ter aprovação do FDA (Food and Drug Administration), órgão que regulamenta remédios nos EUA, é algo que deve ser levado em conta. "Se a substância leva cinco anos para ser absorvida, pode ser que só então apresente algum problema", pondera. Seriam necessários, segundo ele, estudos que comprovem a segurança a longo prazo.

O cirurgião é categórico na escolha do implante de silicone ou da lipoescultura para quem quer aumentar os glúteos. Na opinião dele, essas técnicas avançaram muito e, se realizadas por profissionais bem preparados, o risco de complicações é mínimo. Ele comenta que mesmo o enxerto de gordura (após a lipo), técnica que já foi muito criticada pela grande proporção absorvida, hoje tem resultados bem mais satisfatórios.  "Por que, então, optar pela injeção de uma substância estranha, cara e não duradoura?"