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Treino intenso? Música pode deixar exercícios desgastantes mais agradáveis

Estudo sugere que ouvir música faz os treinos extenuantes parecerem mais fáceis - Thinkstock
Estudo sugere que ouvir música faz os treinos extenuantes parecerem mais fáceis Imagem: Thinkstock

Gretchen Reynolds

Do New York Times

14/11/2014 06h00

O exercício de alto impacto traz muitos benefícios à saúde, e uma desvantagem em particular: por ser fisicamente desgastante, acaba desestimulando muitas pessoas a começar ou manter um programa intensivo. Um novo estudo, porém, sugere que ouvir música faz os treinos extenuantes parecerem mais fáceis – e pode fazer as pessoas irem mais longe do que acreditam ser possível.

O treino pesado, especialmente na forma de treinos intervalados (exercícios aeróbicos combinados com movimentos de baixa e alta intensidade), tem despertado interesse em  muitos cientistas e esportistas nos últimos anos. Estudos já mostraram que sessões de 15 ou 20 minutos de treino intervalado melhoram a aptidão física e reduzem o risco de muitas doenças crônicas tanto quanto sessões muito mais longas de exercícios moderados e contínuos.

Mas, como vários que experimentaram esse tipo de exercício rapidamente aprenderam, esse tempo gasto, por mais curto que seja, é fatigante. Muitos consideram a experiência "aversiva", declarou Matthew Stork, estudante da Universidade McMaster em Hamilton, Ontário, que comandou o estudo, publicado na revista "Medicine & Science in Sports & Exercise".

Stork e seus colegas da McMaster, que conduziram estudos de treinos intervalados de alto impacto, se perguntaram se seria possível encontrar maneiras de modificar a percepção das pessoas sobre o pouco prazer gerado pelos exercícios. É impossível reduzir substancialmente a intensidade em si, ele sabia, sem reduzir os benefícios fisiológicos, mas talvez fosse possível alterar a sensação das pessoas quanto à dificuldade.

Ele e seus colegas pensaram imediatamente em música.

Muitos estudos anteriores descobriram que ouvir música altera as experiências das pessoas com o exercício, e a maioria dos praticantes relatam que escutar canções animadas faz a malhação parecer mais fácil e menos monótona.

Mas esses estudos geralmente envolviam exercícios padrão de resistência, como 30 minutos correndo ou pedalando continuamente. Poucos examinaram o efeito que a música poderia ter durante intervalos intensos, em parte porque muitos cientistas suspeitavam que esses treinamentos fossem desgastantes demais. O ruído fisiológico de músculos e pulmões, segundo muitos cientistas, abafaria a música, tornando qualquer efeito insignificante.

Mas Stork não se convenceu. Então, recrutou 20 voluntários adultos jovens e saudáveis, sem que nenhum deles já houvesse praticado o treino intervalado de alto impacto. Ele os trouxe para o laboratório e explicou o treinamento.

A sessão específica que os voluntários seguiram era bastante simples. Usando bicicletas ergométricas, eles completavam quatro séries de 30 segundos do que os pesquisadores classificam como uma pedalada "pesada", na maior intensidade que cada voluntário aguentasse. Cada série de 30 segundos era seguida por quatro minutos de tempo de recuperação, durante o qual os voluntários podiam pedalar suavemente ou descer da bicicleta e caminhar. Durante os intervalos pesados, os cientistas monitoravam a potência da pedalada e perguntavam aos voluntários como os exercícios lhes pareciam, e se eles estavam se divertindo ou não.

Após o treino, os voluntários se sentavam e ouviam suas músicas favoritas, que os pesquisadores baixaram da internet e usaram para criar listas personalizadas.

Então, cada voluntário retornava duas vezes ao laboratório, realizando duas outras sessões dos intervalos de alto impacto. Durante um dos intervalos, eles ouviam sua lista escolhida. No outro, não ouviam nada.

Depois, os pesquisadores compararam os níveis de potência dos participantes e os sentimentos relatados sobre a dificuldade dos treinos. Todos os voluntários relataram que os intervalos haviam sido difíceis. Na verdade, suas sensações sobre a dificuldade foram quase idênticas, ouvindo música ou não.

O interessante foi que sua potência havia sido substancialmente maior nos testes com a música. Eles estavam pedalando com muito mais força do que sem música, mas não classificaram esse esforço como mais desagradável. Sem a música, o treino foi avaliado como oito ou mais numa escala de zero a 10 em desconforto (com 10 sendo insuportável).

Com música, cada intervalo ainda pareceu aos participantes como um oito ou mais, mas eles estavam malhando muito mais forte durante cada série de 30 segundos. A intensidade aumentou, mas não o desconforto.

Questionados pelos cientistas no fim do experimento, todos os 20 voluntários disseram que, se fossem praticar o treino intervalado por conta própria após o estudo, definitivamente iriam ouvir música para ajudar com os exercícios.

Não ficou claro como a música afeta o desempenho e as percepções durante exercícios intensos, afirmou Stork, mas provavelmente envolve "reações a estímulos". O corpo responde ao ritmo da música com uma aceleração fisiológica que o prepara para as exigências dos intervalos.

As pessoas também podem procurar a música na esperança de ignorar as insistentes mensagens corporais de desconforto. Naturalmente, a música não consegue anular todas essas mensagens, apontou Stork. Mas ela pode silenciá-las e deixar o praticante mais aberto a enfrentar outra sessão de intervalos, suor e músicas.