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Inspiração pra fazer da atividade física um hábito


"Pensei em suicídio": caloura do Raul Gil perdeu 60 quilos e viveu drama

Depoimento a Thamires Andrade

Do UOL

16/01/2017 04h04

Depressão, síndrome do pânico e um princípio de derrame. A obesidade fez com que Jack Muller, 35, de Santos, litoral de São Paulo, precisasse passar por todas essas provações antes de decidir mudar de vida. A cantora, que foi caloura no programa do Raul Gil, chegou a pesar 120 quilos, e mal conseguia cantar duas músicas na sequência, pois não tinha fôlego.

Para emagrecer, Jack passou por uma cirurgia bariátrica e conta como conseguiu superar a depressão e não voltar a engordar depois do procedimento:

Sempre fui uma criança gordinha. Depois da separação dos meus pais passei a buscar conforto na comida e, quando menstruei na adolescência, entrei na obesidade de vez. Sofri muito bullying na escola e fui expulsa várias vezes. Não fazia a gordinha simpática: quem me xingava, dava porrada.

Aos 15 anos, entrei em depressão profunda e tive síndrome do pânico. Abria a porta para ir para escola e parecia que a rua estava se mexendo, tinha taquicardia. Cheguei a abandonar a escola por não conseguir sair de casa. Passei um ano dentro de casa: só comia e chorava! Pensei em suicídio várias vezes.

Meus pais não sabiam mais o que fazer comigo. Como meu sonho era gravar um CD, meu pai resolveu que gravaríamos um, só para me tirar de casa. Ele alugava o estúdio de madrugada, que tinha menos gente na rua e eu conseguia sair. Depois que gravamos, ele disse que eu precisava continuar saindo só que agora para cantar. Foi um longo processo até eu conseguir de casa, vencer a depressão e voltar a estudar.

Quando estava com 22 anos, cheguei a pesar 120 quilos e não tinha nem mais fôlego para cantar direito. Foi quando tive um princípio de derrame, minha pressão era altíssima. Estava trabalhando no salão de beleza da minha família e desmaiei do nada. Acordei com o lado direito todo dormente, já no hospital, e o médico disse que, daquele jeito, não chegaria aos 30, pois o próximo derrame eu podia ficar toda torta ou morrer. Isso me assustou.

Nesse meio tempo, consegui entrar no programa do Raul Gil para ser caloura. E foi por meio do programa que conheci meu marido, Thiago. Ele me assistiu, me gravou cantando e um dia foi ver nosso show para me conhecer. Ele gostou de mim gordinha. Nos casamos em 2004 e em abril de 2005 resolvi fazer a cirurgia de redução do estômago. Já pensava em fazer a cirurgia antes de conhecê-lo, mas depois que casamos, decidi fazer, pois nosso sonho era ter filhos e o médico tinha dito que eu não poderia ficar grávida com o meu peso. Era muito alto o risco de ter pré-eclâmpsia e morrer na gestação.

Dez meses depois da cirurgia, já tinha emagrecido 60 quilos. A balança chegou a marcar 60 e fiquei até com uma aparência esquelética. A cirurgia é um processo bem difícil, fico até com raiva de quem fala que emagreci pelo jeito mais fácil.

Fiquei um mês só com líquidos, depois mais 15 dias comendo coisas pastosas e, ainda assim, passei um ano comendo que nem passarinho. Se comia doce muito rápido, passava mal. Não foi fácil. Mas, no meu caso, a redução foi boa, pois tenho tendência a ser obesa e se só fizesse dieta ia ser muito mais difícil alcançar bons resultados. Por que quando você faz dieta, você passa fome, mas na redução, não, você emagrece por comer menos.

Muita gente que faz redução volta a engordar, pois acha que é só fazer a cirurgia que o problema acabou, mas não é verdade. O estômago é um músculo e ele dilata conforme a quantidade de coisa que você come. Notei que dois anos depois da cirurgia, o procedimento já não faz mais nada por mim, a manutenção do emagrecimento é totalmente minha responsabilidade.

É preciso ter consciência de que a cirurgia não é um milagre, mas sim, um empurrão, depois é a sua cabeça. Ou você muda de hábitos ou fica gordo. Continuo gostando de comer, minha cabeça não mudou, mas tenho consciência de que se comer daquele jeito, vou engordar novamente e tenho tanto medo de todos os problemas voltarem, que me controlo.

Hoje, me mantenho nos 70 e meu alerta é quando me peso e estou com 75 quilos. Aí, fecho a boca e não deixo perder o controle. Nunca fui muito de doce, gostava mais de pizza, fritura, salgadinho. Então, deixo essas coisas para o fim de semana e como mais verdura, legumes e frutas até para o intestino funcionar melhor. Também faço atividade física. Não sou uma rata de academia, nem musa fitness, mas vou na academia três vezes por semana e faço musculação e atividades aeróbicas, como bicicleta e esteira.

O emagrecimento salvou minha vida em todos os sentidos. Profissionalmente, posso viver da minha banda, Feel Good. Antes, cantava duas músicas e já estava sem fôlego e, hoje, passo quatro horas cantando e dançando sem parar. Minhas dores na coluna e joelho foram embora, fora a depressão. Minha autoestima também melhorou muito: hoje sou casada com um homem que me ama e sou mãe de duas crianças maravilhosas.