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O peso está na cabeça? Hipnose pode facilitar o emagrecimento

Getty Images
Imagem: Getty Images

Gabriela Guimarães e Marina Oliveira

Colaboração para o UOL

01/05/2017 04h00

Que tal mudar o pensamento de maneira indolor e, dessa forma, facilitar o processo de emagrecimento, que pode ser bem árduo? Em consultórios, profissionais de psicoterapia usam a hipnose, que trabalha o inconsciente, para ajudar o paciente a mudar sua relação com a comida.

Durante o processo, o neocórtex, responsável pela nossa consciência, é privado das informações fornecidas pelo sistema límbico, que processa a memória e os sinais do corpo -- como a dor --, além de controlar reações como fome e prazer. Sem referências, a consciência se torna mais vulnerável às sugestões do hipnotizador.

“É quando o profissional sugere ao paciente mudanças de sensações, percepções, pensamentos e comportamentos que são importantes para ele, de acordo com a queixa”, explica psicóloga Luciana Kotaka, pós-graduada em Obesidade e Transtornos Alimentares pela PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e hipnoterapeuta.

O terapeuta pode pedir, por exemplo, que o paciente se veja satisfeito após comer apenas um pedaço de chocolate. Ou que se imagine praticando exercício físico e sentindo prazer com a atividade. “Todo pensamento leva a um comportamento, que, com a repetição, se torna um hábito. Nós somos produto do que pensamos. A hipnose apenas facilita a mudança de pensamento”, explica a psicóloga Vânia Calazans, participante do Grupo de Estudos de Hipnose da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

A arquiteta Letícia Abrahão, 32, procurou a hipnose com o objetivo de tratar a ansiedade, que a levava a comer muito, especialmente doces. Ao longo de dez sessões semanais, ela emagreceu 13 quilos. “Nunca tive problemas para emagrecer, mas sempre recuperava o que tinha perdido. Com o tratamento, consegui me colocar no controle das minhas ações, entendi que sou capaz de me segurar diante da comida. Hoje, eu como com consciência”, diz.

Não é milagre

A técnica apenas trata algumas causas do ganho de peso, como a tendência a compensar as emoções na comida. Mas é preciso haver desejo real de mudar aliado à uma boa alimentação e à atividade física regular para fazer os ponteiros da balança caírem. “A hipnoterapia só funciona em pacientes que estejam motivados e que confiem no hipnoterapeuta. Fora dessas condições, não será bem-sucedida”, diz o psiquiatra Fernando Portela Câmara, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

“A hipnose fortalece as minhas tomadas de decisão e me deixa mais conectada com os meus propósitos. Eu consigo ter mais foco nos meus objetivos e melhorar a minha autoestima”, diz a triatleta Luca Glaser, 26 anos, que chegou ao tratamento por indicação da nutricionista e emagreceu cinco quilos em dois meses.

Para alcançar resultados positivos, é fundamental que o paciente continue aplicando o que foi trabalhado na hipnose. “Se eu uso uma técnica para o paciente ter a sensação de saciedade, por exemplo, ele tem que respeitar o corpo ao perceber que está satisfeito, em todas as refeições. Se a cada vez que for se alimentar ele forçar e comer um pouco mais, todo o trabalho da hipnose será perdido”, diz a psicóloga.

Como é a sessão

Não se usa mais pêndulo para hipnotizar alguém. O estado de hipnose é induzido por meio da voz do profissional. As palavras são ditas de forma suave e, quanto mais detalhada a descrição da cena, melhor para prender a atenção do paciente e reduzir o grau de inibição.

Em uma técnica que leva o paciente a se visualizar inserindo um balão de saciedade no estômago, o profissional faz com que a pessoa se transporte mentalmente para um centro cirúrgico, descrevendo sons e cheiros que são comuns nesses locais. O profissional avisa que o balão ocupará uma boa parte do estômago, o que fará o paciente ingerir menos comida do que o habitual. Embora o paciente saiba que aquela cirurgia não é real, uma nova percepção pode ser criada a partir daí, conforme explicam as especialistas.

Uma pessoa hipnotizada não dorme, mas entra em um estado profundo de relaxamento. “Nós nos auto-hipnotizamos no dia a dia sem nem perceber. Por exemplo, quando chegamos a um destino dirigindo e não sabemos como percorremos o caminho até lá”, diz Vânia. Por isso, aquele medo de nunca mais “voltar” de uma sessão de hipnose não faz sentido. “O paciente não vai para lugar algum, ele está ali mentalmente e fisicamente, o tempo todo”, diz a psicóloga Adriana de Araújo, autora do livro “Emagreça Sem Medo” (Editora Laços).

A técnica é contraindicada para pacientes obsessivos, pessoas com transtorno de pensamentos paranoicos e estados de confusão mental.