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Reforma trabalhista: como as férias picadas podem afetar o seu descanso

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Thiago Varella

Colaboração para o UOL

14/07/2017 04h16

Com a aprovação da reforma trabalhista no Senado e a sanção do presidente Michel Temer, as regras para as férias vão mudar daqui 120 dias. Agora o trabalhador poderá dividir os 30 dias corridos em até três períodos de descanso, sendo que a concessão das férias continua sendo definida pelos interesses do empregador. Nenhum período poderá ser menor do que cinco dias corridos e um deve ser maior do que 14 dias seguidos. Além disso, as férias não podem começar nos dois dias antes de um feriado ou do dia de descanso na semana.

Seja como for, para o médico Paulo Rebelo, vice-presidente da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), é importante que as férias não sejam divididas em períodos muito curtos. "Em poucos dias, como acontece em feriados ou, por exemplo, no Carnaval, ninguém consegue mudar muito a rotina e se desligar totalmente do trabalho”, explica.

Já segundo Ana Merzel, coordenadora do serviço de psicologia do Hospital Israelita Albert Einstein, o período mínimo de férias é subjetivo e varia de pessoa para pessoa. "Li em um artigo científico que o mínimo de férias deveria ser 20 dias. Na primeira semana, você estaria muito ligado e, na segunda, começaria a relaxar.”

E continua: "Mas tem gente que tira menos dias e consegue relaxar. E aí têm pessoas que preferem tirar férias mais quebradas, porque tem vários pequenos períodos de descanso. Para uns, por exemplo, 15 dias é o suficiente. Isso depende muito e muda de pessoa para pessoa", afirma.

No Reino Unido, a rede de resorts Club Med patrocinou um estudo sobre os efeitos das férias no nosso corpo, que foi publicado no fim do ano passado. De acordo com a pesquisa, a gente começa a se recuperar do trabalho no quinto dia de descanso, quando o estresse desaparece totalmente. É a partir daí que você começa a “recarregar as energias” para, depois, encarar mais uma longa jornada de trabalho. E é por isso que uma folga de alguns dias não são suficientes para que o organismo se recupere por completo.

Benefícios das férias no corpo começam a ser sentidos antes

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Segundo a pesquisa, os efeitos do período de descanso começam dias antes de seu início. No período chamado de pré-férias, seu corpo pode ainda estar no trabalho, mas sua cabeça já está pensando na folga e, por isso, a tendência é ficar mais feliz.

No entanto, com a carga de trabalho alta nos dias que antecedem as férias, o estresse pode aumentar, assim, reduzindo a imunidade e fazendo crescer os níveis de adrenalina e cortisol no corpo. Já enfrentou um forte resfriado nos primeiros dias de férias? Ou um cansaço intenso após uma viagem de avião logo no início do período de folga? Pois é, culpa dessa baixa na imunidade. 

Primeira semana de férias

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Agora vamos à parte boa. Já no primeiro dia, seu corpo começa a relaxar. No segundo dia, o cérebro começa a aumentar a dopamina, neurotransmissor ligado ao sentimento de prazer. No terceiro dia, a serotonina aumenta, diminuindo a pressão do sangue e melhorando a imunidade. No dia seguinte, o sono começa a se regularizar. E a partir do quinto dia, seu estresse desaparece do seu organismo e, enfim, seu corpo inicia o processo de recuperação.

Importância do descanso para a sua saúde

Longas ou curtas, o certo é que as férias são fundamentais para o organismo descansar e regular o tempo de sono. “O sujeito em vigília, que não dorme direito, tem maior atividade do cortisol que eleva a pressão arterial e os batimentos cardíacos”, explicou o médico José Francisco Kerr Saraiva, do Hospital e Maternidade Celso Pierro e professor de cardiologia da PUC Campinas. Segundo ele, o período de férias serve para descansar o corpo e a mente e regularizar as atividades do corpo no geral. “O indivíduo não tem hora para acordar, não tem a pressão do cotidiano e vira dono da agenda dele”, completou.

O problema é que nem todo mundo tira férias da mesma maneira. Para Saraiva, se no período de folga, o trabalhador desenvolve atividades físicas e exercícios e aproveita para colocar a saúde física em dia, isso é ótimo. No entanto, muita gente aproveita que vai ficar dias sem trabalhar para consumir mais bebidas alcoólicas, comer mal, dormir demais ou embalar as madrugadas. “Nesse caso, o indivíduo volta ao trabalho até pior do ponto de vista físico e isso pode ser um problema.” Portanto, se tirar as férias em períodos picados, é importante que descanse ainda mais nos dias de folga.

E para que as férias sejam bem aproveitadas e o descanso seja completo, é necessário se desligar completamente do trabalho. E isso não significa apenas deixar de pensar nos problemas deixados por lá. Para Ana Merzel, do Albert Einstein, é preciso se desconectar do e-mail e do celular corporativo.

“A gente precisa entender que não é imprescindível no trabalho. Se aparecer algum problema durante nossas férias, alguém vai resolver. De longe, a gente não vai conseguir fazer muita coisa. Se desligar de e-mail e celular é uma questão de disciplina do profissional”, explicou.

A volta ao trabalho

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Do mesmo jeito que entrar em férias muda nosso organismo, sair dela também altera o corpo. E você já começa a pensar no trabalho dias antes. Claro que, se você tiver descansado de fato durante seu período longe do trabalho, seu retorno vai ser tranquilo. Com um pouco daquela melancolia da volta que todo trabalhador sente em maior ou menor escala toda segunda-feira.

“O efeito pós-férias costuma durar cerca de uma semana. Na primeira semana, você está descansado, mas depois disso já entra no ritmo. A gente tem que começar a produzir logo e nosso corpo e nossa cabeça precisam responder a isso”, disse Merzel. De acordo com o estudo do Club Med, depois das férias, o trabalhador se sente relaxado, saudável e dorme melhor. O estresse só costuma aparecer depois de um mês.

Pessoas que tiram férias sofrem menos de depressão

Uma pesquisa publicada em 2012 pela Universidade Uppsala, na Suécia, mostra que se desligam do trabalho por este período têm menos problemas de depressão e melhoram a saúde mental até de quem está em volta delas. Os pesquisadores descobriram uma ligação entre férias e diminuição do número de antidepressivos.

Outro estudo mostra que, mesmo em períodos curtos, as férias melhoram a produtividade. Psicólogos da Universidade da Califórnia, em Santa Barbara, nos EUA, publicaram um estudo, em 2012, mostrando que pessoas que descansavam por um curto período apresentavam mais soluções criativas para um problema do que aquelas que não tiveram folga alguma.