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Mudança climática poderá alterar valor nutricional dos alimentos

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Imagem: iStock

Do UOL

21/08/2017 12h36

O aquecimento global causará impactos na produção de alimentos e, consequentemente, no consumo e na disponibilidade de empregos. Mas as más notícias relacionadas à mudança climática não param por aí.

Se nada for feito para conter o problema, os níveis de crescimento da emissão de dióxido de carbono na atmosfera afetarão seriamente o valor nutricional do trigo, arroz e outros alimentos-base, colocando milhões de pessoas ao redor do globo em risco de deficiência de proteína, segundo uma nova pesquisa publicada no periódico americano “Environmental Health Perspectives”.

“Essas descobertas são surpreendentes”, diz Samuel S. Myers, autor do estudo e cientista no departamento de saúde ambiental em Harvard. “Se nós voltássemos 15 anos atrás e tentássemos antecipar os impactos das emissões de CO2 na saúde humana, não conseguiríamos prever que nossa comida se tornaria menos nutritiva”, disse ele.

Se os níveis de CO2 continuarem a crescer como o previsto, as populações de 18 países poderão perder mais de 5% da quantidade de proteína da dieta até 2050, de acordo com o estudo. Há uma estimativa de que 76% da população mundial retira a maior parte do seu consumo diário de proteína das plantas.

Os cientistas descobriram que por trás das concentrações crescentes de CO2, o conteúdo proteico no arroz, no trigo, na cevada e nas batatas diminuíram algo em torno de 6 e 14%. O estudo estima que mais de 150 milhões de pessoas no mundo poderão sofrer essa perda nutricional, além das “centenas de milhões que já sofrem de deficiência proteica”, diz Myers.

Em um estudo publicado no periódico “GeoHealthfound”, Myers também mostrou que a quantidade de ferro nos alimentos também diminuirá. Essas deficiências nutricionais representam altos riscos para a saúde, segundo ele. “Isso pode matar pessoas”. A falta de proteína pode causar um crescimento retardado, desgaste muscular, fraqueza e fadiga, entre outras coisas. A deficiência de ferro resulta em altas taxas de mortalidade materna e neonatal, baixo QI e capacidade de trabalhar.

Para o cientista, essa descoberta expõe uma questão de desigualdade. “As pessoas que são responsáveis pela maior parte do aumento de emissão de CO2 não serão as mais afetadas. O mundo mais rico vai emitir o CO2 que coloca as pessoas mais pobres e risco”, disse Myers. “A população está estragando a saúde das futuras gerações por meio das emissões de CO2”.

A solução? Segundo o pesquisador, uma dieta mais diversa, plantações fortalecidas com ferro e zinco e menos sensíveis aos efeitos do CO2 e, em último caso, uma suplementação alimentar ajudariam a minimizar o problema. “Mas é mais fácil falar do que fazer”, diz Myers.