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Inspiração pra fazer da atividade física um hábito


'Me forçava a ser a gordinha engraçada para não sofrer bullying no colégio'

Lorena Assis chegou aos 120 kg quando resolveu emagrecer e perdeu 40 kg - Reprodução/Instagram/@enfimfit_
Lorena Assis chegou aos 120 kg quando resolveu emagrecer e perdeu 40 kg Imagem: Reprodução/Instagram/@enfimfit_

Juliana Vaz

Colaboração para o UOL

14/09/2017 04h15

"Sempre fui 'grande'. Além de gorda, eu era mais alta que as crianças da minha idade e aos dez anos as pessoas achavam que eu tinha 14 anos e não deveria sequer estar brincando mais. O olhar de julgamento sobre minha forma física começou aí e só aumentou conforme eu crescia.

Eu sempre adorei comer e não havia regras de alimentação em casa. Acabava descontando a irritação de ser julgada na comida. Eu insistia em demonstrar que não me importava com a opinião alheia, ora comia ainda mais, ora deixava o prato de lado e terminava a refeição escondida mais tarde.

Na adolescência, sem perceber, criei a estratégia de me enturmar com aqueles que praticavam bullying para me proteger de possíveis ataques. Para ser parte da turma me tornei a personagem da 'gordinha engraçada', aquela que sempre está fazendo piadas. Afinal, ser gorda e chata, me tornaria alvo fácil de bullying e seria a excluída. 

Essa bermuda era minha preferida. Foi a única que encontrei mais "moderna" e que cabia em mim. E sabe o número dela? 52  - Reprodução/Instagram/@enfimfit_ - Reprodução/Instagram/@enfimfit_
Essa bermuda era minha preferida. Foi a única que encontrei mais "moderna" e que cabia em mim. E sabe o número dela? 52
Imagem: Reprodução/Instagram/@enfimfit_
Eu me escondia nesse papel sem notar. Em casa, descontava a raiva e a tristeza nos meus pais sob qualquer menção deles sobre me exercitar ou emagrecer. Eu buscava resultados rápidos e tentava dietas milagrosas por semanas. Ficava sem comer, era radical e cortava alimentos do cardápio, sofria com tonturas e dores de cabeça. Até via algum resultado, porém engordava o dobro na semana seguinte.

Quando iniciei o curso de administração na universidade, em 2013, passei a morar durante a semana de aulas sozinha o que piorou consideravelmente minha alimentação. Massa, salgados e refrigerante eram fixos no cardápio.

Em setembro de 2015, no meu aniversário de 21 anos, fui jantar com meus pais e algumas amigas. Tiramos várias fotos e ao vê-las vi, de fato, pela primeira vez o tamanho que estava. Percebi que havia desistido de me cuidar há tempos.

Eu olhava no espelho e chorava com a imagem que via. Não me pesava há anos. Foram muitos dias assim, até que decidi tomar as rédeas da situação.


Como já tinha uma matricula na academia, me comprometi comigo mesma em ir até lá e ao menos caminhar, todos os dias, e a diminuir a quantidade de industrializados que ingeria. Em meio a essas pequenas mudanças, me consultei com um nutrólogo. A balança marcou 120 kg, peso correspondente ao grau de obesidade III e corria o risco de ter diabetes em poucos meses. Foi um choque de ver esse número.

Fazia intermináveis 30 minutos de caminhada na esteira e lidava com a fome, a raiva e a ansiedade me agarrando à meta de perder 40 kg. O primeiro mês foi infernal e pensei em desistir muitas vezes. Mas eu transformava esses sentimentos em energia e fazia o máximo para treinar duas vezes por dia, prática que mantenho até hoje.

Foquei em perder 10 kg por vez. Três meses depois, já tinha 20 kg a menos, roupas mais largas e muita diferença no espelho. Mas o corpo muda mais rápido que a cabeça e me perguntava por que embarquei nessa jornada, quais eram as minhas qualidades, se eu só sabia ser divertida quando era gorda, porque estava me sentindo muito mau humorada. Entendi, por fim, que precisava deixar a mágoa e a raiva das situações e preconceitos que vivi. Os sentimentos negativos tinham que ficar para trás para focar no futuro.

Aos 100 kg, criei o Instagram por conta da vontade de desistir. Ele era um diário de fotos para registrar cada passo dado e ver minha evolução. No primeiro semestre de 2016, cheguei a 88 kg. Fiz novos amigos ao longo do ano, pessoas que também treinavam na mesma academia e criamos um laço de motivação. Acabei conhecendo meu namorado nesse grupo.

Procurei um personal trainer e mudamos o foco dos treinos para a força e peso, o que foi essencial para evitar a flacidez. Por volta de julho de 2016, a balança marcou 80 kg! Foi muito suor e dedicação: fazia boxe duas vezes por semana, treinos funcionais e bastante musculação. Algo surpreendente também foi eliminar as celulites das pernas, braços e barriga, é incrível como basta se alimentar melhor e fazer exercícios para ver diferença.

Desde o começo de 2017 alcancei 80 kg; tenho 1,80 m. Em julho desse ano, comecei a correr e fiz minha primeira prova. Completei 5 quilômetros em 36 minutos, um tempo ótimo para quem há 2 anos mal conseguia andar rápido sem ficar ofegante.

Hoje, aos 23 anos, sei que a Lorena de verdade é divertida e bem-humorada por natureza e que aquela tristeza fazia parte da infelicidade que sentia. Sou mais alegre, aberta e comunicativa. Hoje vivo animada."