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8 perguntas e respostas sobre como a ciência vê a cura gay

17.set.2017 - Homem levanta a bandeira símbolo da causa LGBTQ durante o Rock in Rio  - Leo Correa/AP Photo
17.set.2017 - Homem levanta a bandeira símbolo da causa LGBTQ durante o Rock in Rio
Imagem: Leo Correa/AP Photo

Do UOL, em São Paulo

23/09/2017 04h10

A liminar concedida pelo juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, da 14ª Vara do Distrito Federal, causou polêmica ao permitir que psicólogos ofereçam terapias de "reversão sexual" para pacientes gays, sem qualquer censura ou autorização do CFP (Conselho Federal de Psicologia).

O UOL esclarece como a ciência vê esse tema:

1 - A homossexualidade é considerada uma doença?

Não. Desde 1973, a Associação Americana de Psiquiatria excluiu a homossexualidade da lista de doenças listadas no DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais).

A OMS (Organização Mundial da Saúde) só tomou a mesma decisão em 1990, enquanto o CFP (Conselho Federal de Psicologia) proibiu os tratamentos desde 1999.

Com a despatologização, o termo homossexualismo foi abandonado, já que o sufixo -ismo é muito usado para nomear doenças.

2 - Se não é doença, o que é?

Uma orientação sexual. Uma série de estudos mostraram que a homossexualidade não passa de uma variação de comportamento comum entre os seres humanos e que não implica em uma diferenciação que pode ser revertida com intervenção médica.

3 - E por que homossexuais procuram ajuda profissional?

Principalmente por causa do preconceito. Por crescer em uma sociedade heteronormativa, os homossexuais passam por um processo difícil de aceitar sua orientação sexual e assumir ela para a família e os amigos. Sem contar que ainda precisam lidar com o preconceito da sociedade em que vivem.

4 - O que fez os psiquiatras não considerarem a homossexualidade um distúrbio?

A classe médica desconsiderou a homossexualidade como distúrbio por dois motivos: uma série de estudos científicos e pela luta dos ativistas LGBT.

Em 1948, o biólogo norte-americano Alfred Kinsey publicou um estudo sobre o comportamento sexual do homem e tratou a homossexualidade como uma possibilidade, não como patologia. Em 1957, a psicóloga Evelyn Hooker também publicou um estudo em que comparou 30 homossexuais com 30 heterossexuais e não identificou qualquer distúrbio psicológico no grupo gay.

5 - E como se sabe que ser gay não é uma escolha?

Isso é demonstrado também por uma série de estudos comportamentais e biológicos. Um deles feito pelo neurocientista Simon LeVay encontrou uma evidência biológica de que os homens gays já nascem com essa orientação por conta de uma diferença na região do hipotálamo.

Um outro estudo citado pela APA (Associação Americana de Psiquiatria) avaliou 3.261 gêmeos com idades entre 34 e 43 anos e revelou que "análises quantitativas mostraram uma variação do comportamento atípico do gênero durante a infância e que a orientação sexual dos adultos é em parte devida à genética".

Outra evidência observada pelo cientista belga Jacques Balthazat é que a exposição a certos hormônios durante o desenvolvimento fetal tem um papel importante na orientação sexual. O estudo concluiu que homossexuais foram expostos a atípicas condições endócrinas durante a gestação.

A Associação Americana de Psiquiatria diz que "a opinião preponderante da comunidade científica é que há um forte componente biológico na orientação sexual, e que interação genética, hormonal e fatores ambientais interagem na orientação de uma pessoa".

6 - Um especialista, como um psicólogo, pode ajudar a fazer com que um homossexual vire heterossexual?

O papel do psicólogo não é “curar”, mas, sim, ajudar o paciente a buscar qualidade de vida em todos os aspectos, inclusive sexual. Após a decisão do juiz brasileiro, o CFP (Conselho Federal de Psicologia) soltou uma declaração, dizendo que a homossexualidade não deve ser tratada.

7 - E o que provou que a cura gay não funcionava?

Os principais tratamentos focavam na apresentação de uma série de estímulos homoeróticos e, ao mesmo tempo, administração de substâncias que provocassem enjoos e nojo. Outras terapias, também violentas, eram administração de hormônios e eletroconvulsoterapia.

No entanto, uma série de estudos científicos desqualificou "esses tratamentos" por não terem material clínico suficiente de modificação na orientação sexual. Sem contar que uma série de estudos antropológicos também comprovavam que existiam gays entre outros povos, como gregos e indígenas. E esse comportamento era encarado com naturalidade entre esses povos.

8 - Quais as consequências de um “tratamento de reorientação sexual”?

Esse tipo de “tratamento” pode causar frustrações não só para o paciente, mas para seus familiares. Além de comprometer a saúde mental por aumentar o risco de depressão, suicídio e ansiedade.

Fontes: Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório de Transtorno de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do IPq (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas); Carla Zeglio, diretora e psicoterapeuta sexual do INPASEX; Christian Dunker, psicanalista e professor titular do Instituto de Psicologia da USP; Edith Modesto, psicanalista e fundadora do GPH (Grupo de Pais de Homossexuais).