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Receituário digital quer acabar com erro causado por letra feia de médico

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Imagem: iStock

Thiago Varella

Colaboração para o UOL

10/10/2017 04h15Atualizada em 16/10/2017 12h03

A letra feia do seu médico pode colocar sua saúde em risco. Isso porque o farmacêutico pode não entender o "garrancho" e entregar o medicamento errado. Ou ainda, mesmo que o remédio esteja certo, você pode tomar uma superdosagem por não entender a recomendação.

No Brasil, não há dados nacionais que mostrem os problemas que os erros de prescrição podem causar. Uma lei nacional de 1973 exige que a receita seja escrita de maneira legível. O Código de Ética Médica também veda ao médico receitar, atestar ou emitir laudos de forma secreta ou ilegível. Além disso, alguns estados brasileiros, como o Mato Grosso do Sul, obrigam os médicos a digitar e imprimir as receitas.

Para o presidente do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (CRF-SP), Pedro Eduardo Menegasso, a maior vítima dos problemas com as receitas médicas são os pacientes. "Muitas vezes a farmácia não consegue decifrar. Isso causa erros e prejuízos para a saúde dos pacientes. O farmacêutico que não entende a receita precisa tirar a dúvida com o médico. Mas vários não deixam contato nas receitas. Eles se recusam a, por exemplo, deixar o telefone", afirmou. "Esse problema tem de ser resolvido no Brasil. É preciso uma regulamentação sobre esse assunto", completou. 

Receita digital

Uma das maneiras de resolver esse problema é a implantação do receituário digital. Uma das ferramentas disponíveis no Brasil é a Nexodata, criado pelo médico paulista Antonio Endrigo. A Nexodata trabalha em conjunto com diversos aplicativos de gestão de clínica e possibilita ao médico imprimir a receita ou enviá-la diretamente ao sistema da farmácia. Desta maneira, o paciente nem precisa de papel. Ele pode optar por receber a relação de medicamentos por SMS e solicitar os remédios no balcão da farmácia.

Ao digitar o CPF do paciente, o farmacêutico ou balconista já tem acesso aos medicamentos solicitados e às doses corretas, com segurança. A plataforma existe desde janeiro deste ano e, segundo Endrigo, já é utilizado por cerca de 15 mil médicos em todo o país.

"Os erros de prescrição são difíceis de serem computados. O paciente toma remédio porque está doente. Se a doença se agrava, dificilmente vai se considerar que a culpa é do remédio. É uma questão muito séria", disse. Para ele, as novas tecnologias ajudam a minimizar esse problema ao máximo.

Prescrição eletrônica diminui risco de fraudes

O oftalmologista Rubens Belfort Neto, professor afiliado da Escola Paulista de Medicina, já utiliza o sistema. Para ele, a prescrição eletrônica acaba com o risco de fraudes. "Com a receita em papel, qualquer um pode ir em uma papelaria e mandar fazer o bloco e o carimbo. Agora, com o receituário eletrônico, existe a assinatura digital do médico, certificada pelo Conselho Regional de Medicina. Isso dá uma segurança muito maior ao paciente", disse.

Um dos sistemas de gestão para clínicas que trabalha com a Nexodata integrado é o ClinicWeb. Segundo Márcio Dantas, diretor de tecnologia da Vitta, empresa que produz o sistema, aos poucos o Brasil vai se aproximando de outros países do mundo em relação ao uso da tecnologia nos consultórios.

"Em vários países do mundo já é possível fazer prescrição eletrônica. Sem nenhum papel o paciente pode conseguir o medicamento na farmácia. Hoje é possível retirar alguns medicamentos sem papel no Brasil. No entanto, medicamentos mais complexos, como os tarja preta, ainda precisam de papel", explicou.