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Você usa adoçante? Melhor manter a moderação

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Imagem: iStock

Luciana Mastrorosa

Colaboração para o UOL, em Buenos Aires

20/10/2017 08h38

Os adoçantes artificiais vêm sendo usados há anos para diminuir as calorias dos alimentos, mas seu efeito no emagrecimento é controverso. Peter Rogers, da Universidade de Bristol, no Reino Unido, apresentou dados animadores no 21º Congresso Internacional de Nutrição, em Buenos Aires, Argentina.

Estudos com ratos e humanos apontaram que o uso de adoçantes em substituição ao açúcar, especialmente em bebidas, poderia, de fato, levar a uma ingestão calórica reduzida, ajudando, assim, na perda de peso. A vantagem das bebidas com adoçantes seriam comparáveis até à ingestão de água, pois teriam o bônus de ajudar a reduzir o desejo por doces. E, se consumidas antes das refeições, poderiam contribuir também para uma maior saciedade, levando à menor ingestão de comida.

Os resultados apresentados por Rogers no Congresso seriam ótimos, não fosse o fato de que, em julho deste ano, Meghan Azad e equipe, do Canadá, apresentaram outro artigo científico, afirmando que não há evidências suficientes que suportem os apregoados benefícios no consumo de adoçantes com objetivo de emagrecer.

E mais: de acordo com esse estudo, a longo prazo, o consumo rotineiro dessas substâncias poderia estar associado não só a um risco cardiovascular aumentado, como ao risco de... ganho de peso!

Rogers criticou o artigo durante sua palestra, dizendo que a quantidade usada era muito acima do consumo normal. Mas não mencionou que Azad rebateu publicamente essas críticas e que afirmou, entre outras coisas, tratar-se de algo potencialmente irresponsável dizer que bebidas com adoçantes seriam melhores para a saúde do que água.

Um ponto a favor aos adoçantes, como explicou France Bellisle, da Universidade de Paris é que eles, de fato, podem contribuir para reduzir o desejo por doces, com a vantagem da redução calórica. “A vontade de comer doce vai diminuindo gradativamente ao longo da vida, mas alguns adultos continuam a ter um desejo muito forte por esse tipo de sabor”, diz ela. Assim, nesses casos, as bebidas adoçadas seriam até mais interessantes para colaborar com a perda de peso, pois substituem o açúcar.

Tabela adoçantes - Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes. Adaptado de: Food and Drug Administration, 2015; CUPPARI, Lilian et al., 2015; ROSS et al, 2016. - Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes. Adaptado de: Food and Drug Administration, 2015; CUPPARI, Lilian et al., 2015; ROSS et al, 2016.
Imagem: Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes. Adaptado de: Food and Drug Administration, 2015; CUPPARI, Lilian et al., 2015; ROSS et al, 2016.

E agora, tomar ou não?

Para entender melhor esse cenário, O UOL conversou com a nutricionista Ana Paula Gines Geraldo, professora da Universidade Federal de Santa Catarina e doutora pela Universidade de São Paulo com pesquisa sobre adoçantes.

“São necessários mais estudos para que sejam realmente comprovados os benefícios do uso de adoçantes”, diz. Mas sentencia: “Adoçante como única estratégia não funciona”.

Ana Paula explica que, até recentemente, os benefícios e indicações do consumo de adoçantes estavam muito claros, tanto no controle da glicemia quanto na manutenção do peso corporal. Só que, a partir de um certo ponto, foram descobertos receptores para o gosto doce no intestino, e isso motivou cientistas do mundo todo a estudar o impacto dos adoçantes na microbiota, muitos deles ainda sendo desenvolvidos. Os primeiros resultados já começaram a aparecer, alguns com resultados destoantes do cenário anterior, como no caso do artigo de Azad.

Não adianta adoçante sem mudar o estilo de vida. A questão, como aponta Ana Paula em seu doutorado, é que, em geral, os consumidores desse tipo de produto estão em guerra com a balança e acabam enxergando nos edulcorantes uma esperança para reduzir o peso, sem alterar outros aspectos do estilo de vida.

“É aquela pessoa que vai na lanchonete, pede o hambúrguer e a batata frita, e toma um refrigerante diet. Não adianta nada”.

Além disso, há pessoas que acabam consumindo adoçantes, ou produtos elaborados com eles, em grande quantidade, o que não é o mais adequado.

Mesmo sendo seguros para consumo, existe um limite, a IDA – Ingestão diária adequada – para cada tipo de produto. “O recomendável é estar sempre bem abaixo da IDA”, diz Ana Paula.

“Se você come tudo diet, acaba não sabendo o quanto está consumindo, porque os rótulos não informam a quantidade exata do adoçante, só o tipo utilizado”.

A recomendação mais segura até agora para quem faz uso desses produtos continua sendo o equilíbrio.

“Dentro de tudo o que estudei, acho que os diabéticos se beneficiam sim do consumo de adoçantes”, afirma Ana Paula. No caso de emagrecimento ou manutenção do peso, o ideal é que ele seja consumido na menor quantidade possível, dentro do contexto de um estilo de vida saudável e uma dieta que realmente leve à perda de peso.