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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Mesmo internados em hospital, estudantes vão fazer a prova do Enem este ano

Vivian Ortiz

Do UOL, em São Paulo

03/11/2017 04h15

Isadora Roberta Silva tem 16 anos e quer ser médica. Já Mariana Costa de Mello, 17, sonha em ser astrônoma. As duas estão em tratamento no GRAACC (Grupo de Apoio ao Adolescente e Criança com Câncer) e, mesmo assim, vão prestar dentro do próprio hospital a prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que este ano acontece nos dias 5 e 12 de novembro. A situação só é possível porque ambas participam de um projeto do GRAACC chamado Escola Móvel, que começou em 2000.

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A coordenadora Amalia Neide Covic explica que uma pesquisa interna realizada naquela época apontou que a maior parte das crianças ali internada não conseguia frequentar a escola, ou nem matriculadas estavam, por conta do tratamento. Além do tempo necessário para tomar a medicação, que pode levar horas, o paciente ainda sofre com os efeitos colaterais que o impossibilitam de seguir com a vida normalmente por aquele período de tempo.

Nascia, assim, o projeto que possui um atendimento individual e personalizado, seguindo a grade curricular da escola de origem do paciente para garantir que ele não fique defasado em relação aos colegas da mesma turma. "A ideia foi criar um serviço que ajudasse tanto o aluno quanto a escola, que não sabia como receber esse estudante quando ele retornava após o período de internação", explica Amália.

Enem no hospital

educação para crianças e jovens no GRAAC - Carine Wallauer/UOL - Carine Wallauer/UOL
Professores que trabalham no "Escola Móvel" do GRAACC
Imagem: Carine Wallauer/UOL

Prestar vestibular e, quem sabe, conseguir uma vaga em alguma universidade pública também é um sonho desses alunos/pacientes. Tanto que 27 deles vão participar do exame em 2017. E, como eles não estão em condições de saúde para ir até os locais de prova, é o Enem que irá até eles. Amália explica que existe uma preparação especial para receber um evento do tipo dentro da unidade hospitalar.

Este ano, os organizadores (INEP e Cesgranrio) vão enviar uma equipe de 67 pessoas para cuidar da realização da prova no GRAACC, justamente porque cada pessoa funciona como se fosse uma sala e tem o seu próprio fiscal, por exemplo. "Eles ainda têm a obrigação de mostrar o RG, assinar a lista de presença e respeitar o pessoal, como qualquer estudante prestando o exame. O tempo de prova também é o mesmo para todos, estejam internados ou não", explica a coordenadora.

A condição física de cada estudante que vai participar também é avaliada previamente pelos organizadores. "Descrevemos as necessidades do aluno --se precisa de isolamento ou fazer deitado em uma cama, por exemplo-- e ele é colocado para participar da prova em um local de acordo com sua limitação", conta.

Também tem lanchinho

Um dia antes, os locais que receberão os estudantes durante a prova --como consultórios e quartos-- são isolados e ali circula apenas o pessoal da organização do Enem. Sabe aquele lanche que o estudante costuma levar para comer durante o exame? No caso dos pacientes, ele é preparado previamente, de acordo com o que cada um pode consumir, e dado para o fiscal repassar ao estudante.

Segundo Amália, quem está internado sente a importância de fazer o exame no mesmo momento em que os amigos estão fazendo. "Já os pais ficam bastante emocionados e até tiram fotos quando os filhos terminam. É uma torcida grande para que se saiam muito bem e eles sempre nos surpreendem favoravelmente", diz Amália.

Esquemas parecidos em outros hospitais

O Hospital do Câncer de Barretos (SP) também terá um aluno prestando Enem este ano. Silveli Stuque Alves, uma das professoras do projeto "Classe Hospitalar" que funciona lá dentro, explica que existe uma classe multisseriada --abriga alunos de várias séries, sempre das 7h às 11h.

"O material de estudo segue o calendário da escola onde o paciente está matriculado oficialmente, sendo que o conteúdo é dado por três professora, além de uma docente voluntária de matemática, que ajuda os alunos do ensino médio, e uma professora de inglês, cedida duas vezes por semana por uma escola de idiomas", conta.

Outra instituição de renome, o INCA, também dispõe de uma classe hospitalar há 17 anos, de acordo com a assessoria de comunicação do hospital. Ela é conduzida por duas professoras da rede pública do Rio de Janeiro, que trabalham no Instituto acompanhando os alunos.