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"Ver outros sentindo nossa dor foi emocionante", diz vítima de homofobia

João Pedro Schonarth e Bruno Banzato participaram de um ato contra intolerância - Reprodução/Facebook
João Pedro Schonarth e Bruno Banzato participaram de um ato contra intolerância Imagem: Reprodução/Facebook

Thamires Andrade

Do UOL

17/04/2017 15h59

Alvo de panfletos homofóbicos, o casal João Pedro Schonarth e Bruno Banzato participou de um protesto contra intolerância neste sábado (15), na praça Guanabara, no bairro Água Verde, em Curitiba. "Nossos amigos ficaram tristes quando souberam do que passamos e realizaram esse encontro para prestar solidariedade. Mais de 300 pessoas participaram. Foi muito bonito receber esse apoio, nos sentimos acolhidos", contou João Pedro em entrevista ao UOL.

Para João, ter essa receptividade por parte das pessoas do bairro, após um episódio tão negativo, foi muito valioso. "Muita gente veio falar com a gente. Dizer que somos bem-vindos, que se envergonhavam do que aconteceu e que o bairro não é daquele jeito".

O protesto foi realizado a uma quadra e meia da futura casa de João Pedro e Bruno. Ele contou que as pessoas fizeram uma roda com os dois no meio para aplaudi-los, além de terem feito uma caminhada até a frente da casa dos dois.

"Eu me arrepio só de lembrar. Ficamos devastados com o que aconteceu. Tentamos erguer a cabeça e lembrar que somos maiores do que tudo isso, que precisamos expor o preconceito para que ninguém mais passe por isso, mas é difícil. O carinho da família e dos amigos é importante para não nos sentirmos sozinhos".

Apesar desse início com o "pé esquerdo", João Pedro diz que essa primeira impressão do bairro não ficará. "Já imaginávamos que não era algo generalizado do bairro ou da rua. Sabíamos que era a opinião de uma pessoa que quis transformar um momento de felicidade em tristeza. Ela fez isso temporariamente, mas essa demonstração das pessoas só validou o que já imaginávamos: a sociedade não aceita esse comportamento. Muitos vizinhos disseram estar envergonhados”.

Panfletos com texto homofóbico foram jogados pela rua onde João Pedro vai morar - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Aceitação da comunidade LGBT

Para João Pedro, ver que outras pessoas que nem os conheciam também sentiram suas dores, foi muito emocionante. "Uma senhora me abraçou e chorou. Disse que se sentia envergonhada e triste de ver a gente passando por aquilo. É muito bom saber que as pessoas se comovem pelo que as outras sentem".

Ele acredita que a empatia fará com que a população LGBT deixe de ser marginalizada. “Quando as pessoas sentem as nossas dores, nós somos acolhidos de verdade. Ainda que já tenhamos avançado muito, a população LGBT ainda é excluída e passível a sofrer violências gratuitas a qualquer momento, como a que vivemos”.

“É importante mostrar que não toleramos mais essas atitudes. E que o ato em solidariedade a gente sirva de exemplo para outros lugares. É importante acolher as vítimas de homofobia. Precisamos que a homofobia vire crime, pois enquanto as pessoas não forem penalizadas pelo preconceito, elas se sentirão à vontade para agir dessa forma”.

Entenda o caso

Schonarth e Banzato foram surpreendidos por panfletos com mensagens homofóbicas espalhados pela vizinhança, inclusive divulgando o novo endereço do casal, em um bairro de Curitiba.

Os folhetos, ilustrados com fotos genéricas de casais gays, anunciam que a rua será mais "alegre" e que a visão do casal irá "inspirar e influenciar toda a vizinhança". Após a imagem de dois homens abraçados, o texto diz: "se fazem isso em público, imaginem o que fazem quando estão a sós, com os amigos mais próximos ou com as pessoas próximas a você". Ele termina identificando "o endereço da baixaria".

O casal fez um boletim de ocorrência e não desistirá de descobrir quem foi o responsável pelas ofensas. "Queremos que a justiça seja feita. Nós só estávamos realizando o nosso sonho. Construindo o nosso lar que iremos viver com o nosso futuro filho. Estamos em um processo de adoção há dois anos. Ninguém tem direito de chegar na minha vida e causar um estrago como essa pessoa tentou fazer. As ações têm consequências", disse João Pedro.