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Traição nem sempre é falta de amor ou significa o fim de um relacionamento

Getty Images
Imagem: Getty Images

Carolina Prado e Gabriela Guimarães

Colaboração para o UOL

18/10/2017 04h00

Descobrir que foi traído dói, e não é pouco. Mas há inúmeras motivações para que uma relação extraconjugal aconteça. E tentar entendê-las, mesmo com as emoções à flor da pele, pode ajudar a superar o trauma, aceitando ou não continuar com o relacionamento.

“Em geral, os casos extraconjugais não ocorrem porque acabou o amor, mas por motivos como vaidade, curiosidade, um antigo caso e uma atração física diferente”, fala o psicanalista e terapeuta de casal Luiz Hanns, autor do livro "A Equação do Casamento -- O Que Pode (Ou Não) Ser Mudado na Sua Relação" (Editora Paralela). O desejo de “dar o troco”, seja porque o parceiro traiu primeiro ou porque ele não age com respeito com seu par, também é comum, diz Hanns.

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“O amor não é zero ou cem, pode oscilar e se combinar com paixão, raiva, gratidão, admiração ou tédio. Em cinco, dez, 20 anos de relação, a maioria das pessoas sente desejo e atração por outras pessoas. Nem todos vão ter um caso, mas de 50% a 60% das pessoas em relacionamentos estáveis vão acabar traindo”, diz o psicanalista.

Aquela indiferença que “mata”

A falta de interesse do parceiro é uma das grandes motivações da traição. “A carência impulsiona a atração por outras pessoas”, explica o psicólogo clínico Fernando Savino.

Foi o que aconteceu com Ana*, 43 anos. Ela estava casada há 12 anos quando traiu o marido, com quem ainda está junto.

“Aqui em casa, sou como uma governanta, apenas. Meu marido não me procurou mais após um ano de nascimento do nosso filho. Alegava que fiquei gorda, diferente. Percebi que ele tinha um pouco de nojo. Entrei em depressão, tentei suicídio", conta ela.

"Um dia, fui ao show da minha banda preferida, sozinha. Um dos músicos veio conversar comigo. Ele me elogiava muito, mesmo eu estando mal arrumada, e me encantei”, diz. Ela ainda se relaciona com o outro rapaz à distância, mas os encontros presenciais só acontecem ocasionalmente.

Confiar ou não, eis a questão

A confiança, sem dúvida, fica abalada quando alguém descobre que foi traído, e a decisão entre continuar o relacionamento ou cair fora é, em geral, complicada. A analista de marketing digital Fernanda, 30 anos, acabou traindo a namorada depois de 1 ano e 2 meses de namoro.

“Um ex-namorado meu ficou solteiro, acabamos nos encontrando e ficamos. Eu namorava uma mulher, que estava nos Estados Unidos com a irmã, mas eu contei para ela assim que cheguei em casa. Ela ficou superchateada, não esperava, porque sempre nos demos muito bem. Mas foi uma fase complicada para mim. Eu precisava ter certeza de que gostava mesmo de mulher. No final, eu e ela voltamos, mas a confiança nunca mais foi a mesma e terminamos um tempo depois”, conta.

Colocar uma pedra ou não?

Seguir em frente com um relacionamento, mesmo sabendo da traição, nem sempre é um processo simples. “A maioria dos casais precisa passar por fases diversas: desabafar, expressar emoções, retomar o fio da meada da relação, tentando entender como se abriu um espaço para o caso extraconjugal, e compreender o que o caso significou (ou ainda significa para aquele que traiu)”, conta Luiz Hanns.

A velocidade com que o traído digere o assunto varia. A vendedora Karen, 27 anos, traiu o namorado após 1 ano de união. “Certo dia, nós discutimos porque ele saiu e não quis me levar. Daí já tinha um rapaz no meu pé, querendo ficar comigo e, nesse dia, o cara me chamou para sair. Estava com tanta raiva que aproveitei a oportunidade. Uma semana depois, essa traição ainda estava martelando na minha cabeça, até que eu contei tudo", conta.

Segundo ela, a primeira reação que ele teve foi perguntar se ela havia transado com o cara. " Eu disse que não, porque só foram uns beijos. mesmo. Daí, ele terminou comigo e não quis mais saber de mim. Fiquei atrás dele durante quatro dias, até que ele acabou me perdoando e voltamos. Hoje, estamos há nove anos juntos e ele confia muito em mim”.

Empenho dos dois lados

Segundo Luiz Hanns, para tentar resgatar a relação, novos acordos são realizados, como ter mais sinceridade, proximidade e conexão. “Não costuma funcionar um ficar na posição de vítima e outro na de vilão. Tampouco se trata de perdoar. A questão é superar o trauma e voltar a apostar na relação e arriscar se entregar novamente, mesmo que aos poucos e com algum temor”, explica. Claro, para que isso aconteça, é importante que a pessoa sinta que a relação valha a pena. De nada adianta gastar energia em algo que já não faz sentido, certo?

 

*O nome foi alterado para preservar a identidade da entrevistada.