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Aumento do pênis é só uma das cirurgias íntimas procuradas por homens

Em 2015, 440 brasileiros entraram na faca para alongar o pênis - Getty Images
Em 2015, 440 brasileiros entraram na faca para alongar o pênis Imagem: Getty Images

Daniela Carasco

do UOL, em São Paulo

13/11/2017 04h00

Quando o assunto é cirurgia íntima, as mulheres saem na frente. O Brasil é recordista mundial da modalidade. A questão, porém, não se restringe ao universo feminino. A ditadura da beleza chegou nos homens, que se submetem cada vez mais a procedimentos cirúrgicos no pênis e testículos. A motivação? Estética, em sua maioria. Às vezes, correndo riscos.

Em 2015, 440 brasileiros "entraram na faca" para alongar o pênis. Os dados são do último levantamento da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps). Entre os outros procedimentos comuns estão ainda correção da curvatura peniana, lipoescultura da região pubiana, circuncisão por excesso de pele e adequação simétrica entre pênis, púbis e saco escrotal. No Reino Unido e nos EUA, o assunto da vez é o Scrotox, aplicação de Botox nos testículos que promete rejuvenescer a região íntima.

O urologista Paulo Egydio, doutor pela USP e referência na área de cirurgia íntima masculina, realiza, em média, 30 cirurgias íntimas masculinas por mês. Mais do que uma questão de tendência, ele acredita que o aumento tem a ver com uma maior exposição do tema, avanço da medicina e revelação de uma demanda até então reprimida.

As queixas, no consultório, vão muito além do número na fita métrica. “Eles demonstram incômodo com cicatrizes aparentes, excesso de gordura e pele, curvatura e assimetria”, diz o especialista. “Simetria, hoje, é considerada sinônimo de beleza e vale para o corpo todo.”

Eles desejam a cirurgia antes de perder a virgindade

Os pacientes que os procuram vão de adolescentes, a partir dos 16 anos, a idosos. Todos compartilham das mesmas reclamações estéticas. “Muitos vêm antes mesmo de começar a vida sexual”, conta. “O maior interesse na área genital durante a descoberta da sexualidade, associado a uma cobrança de performance, provoca esse quadro de insatisfação com a região íntima. Os meninos gays costumam ser ainda mais exigentes, assim como as mulheres, eles sofrem muito mais com os padrões.”

A pornografia, segundo Egydio, contribui para isso. Ela é usada como uma referência estética irreal, principalmente, quanto ao tamanho do pênis. Para o especialista, se pautar pela média brasileira dos 14 cm é uma bobagem e só alimenta frustrações. “Eles acabam medindo em casa de maneira errada e podem se frustrar. Os especialistas usam um método específico de medida, que começa bem no púbis, desconsiderando qualquer gordura que existe ali. Muitos chegam ao consultório e descobrem ter mais centímetros do que achavam.”

Aumenta, diminui, desentorta e até tira rugas

Quando o interesse é pelo aumento peniano, é realizada uma colocação de prótese. É possível ainda dar fim à curvatura muitas vezes causada pela Doença de Peyronie, reduzir a gordura do púbis com lipoaspiração, eliminar qualquer pele em excesso que possa provocar uma aparência desagradável e aumentar ou diminuir o volume do saco escrotal para deixá-lo proporcional.

Saindo da questão cirúrgica, o assunto da vez é o Scrotox. O procedimento de rejuvenescimento das partes íntimas dos homens tem dominado as manchetes internacionais. A técnica, usada apenas no exterior, promete deixar a pele dos testículos lisinha, reduzir a transpiração local e aumentar sutilmente o volume na cueca. Apesar de ser vendido como tendência entre americanos e ingleses, o procedimento ainda não desembarcou no Brasil. O motivo é um só: “não existem pesquisas urológicas que comprovam sua eficácia”, garante Egydio.

“O escroto é um músculo voluntário e o Botox, uma substância que tende a relaxar. Na teoria, ele poderia baixar os sacos escrotais, proporcionando aumento de volume. Só que não há evidências suficientes para afirmar isso. Embarcar em falsas expectativas só gera frustração.”

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Os riscos existem!

Apesar da crescente procura, o urologista Eduardo Berna Bertero, coordenador-geral do Departamento de Andrologia e Sexualidade Humana da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), alerta para os riscos de complicações implicadas nas cirurgias íntimas.

"Não são frequentes, mas podem acontecer. O pior dos casos é quando há rejeição à prótese, seguida de infecção. As chances são de 3% a 5%. E nesse caso, a prótese precisa ser retirada, deixando o paciente definitivamente impotente até uma nova tentativa", explica. Por isso, as cirurgias que atuam na deformidade só são indicadas em caso de prejuízo funcional, quando o paciente relata problemas no ato sexual.

Nos casos de Doença de Peyronie grave, o especialista alerta para um possível encurtamento do pênis, que não será recuperado nem mesmo após o endireitamento do falo. A mais tranquila, garante, é a lipoaspiração do púbis, quando feita por um bom cirurgião plástico.

Melhora a vida sexual?

Exclusivamente estéticas, nenhuma das cirurgias impacta na função erétil do paciente. Elas atuam precisamente na autoestima de quem se submete. “Confiantes com sua aparência, os pacientes acabam demonstrando uma melhora funcional. Muitos passam a transar mais de luz acesa e deixam as parceiras manusearem mais seu genital”, conta Egydio.

Antes de entrar na faca, porém, Egydio alerta que é preciso consultar um bom urologista. “Os homens precisam ter médicos de referência”, diz. O especialista não demonstra preocupações quanto a padrões estéticos, acha natural essa busca cada vez maior. O problema, diz, é que nem toda queixa tem fundamento. E só um médico será capaz de esclarecer esse ponto.

Para Eduardo, não é possível estabelecer um tamanho de pênis por encomenda. Existem limitações de canal cavernoso, uretra, nervos e vasos sanguíneos na região. E alerta: "Essa história de aumentar o órgão apenas por questões estéticas é perigosa. Trata-se de um tecido muito peculiar e sensível. Os homens precisam parar de achar que tamanho é sinônimo de virilidade."