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BBB: por que Lucas noivo soltinho é menos ofensivo do que Jéssica solteira

Lucas e Jessica, no "BBB 18": mesmo sem estar comprometida, a personal trainer é muito mais julgada do que ele - Reprodução/TV Globo
Lucas e Jessica, no "BBB 18": mesmo sem estar comprometida, a personal trainer é muito mais julgada do que ele Imagem: Reprodução/TV Globo

Heloísa Noronha

Colaboração para o UOL

03/02/2018 04h00

Lucas, um dos atuais participantes do “Big Brother Brasil” (Globo), é noivo e, no entanto, não economiza na paquera com duas das colegas de confinamento: Jaqueline e Jéssica. A personal trainer de Santa Catarina é o alvo mais recorrente e, embora seja solteira, ao contrário do ‘brother’, é para ela que tem sobrado, nas redes sociais, as piores críticas. São xingamentos como vagabunda, oferecida e safada, para ficar só nos mais light, e majoritariamente ditos por outras mulheres.

Volta e meia, em situações do tipo, a tendência do público é tornar a mulher a vilã da história e relativizar o comportamento masculino. Por que isso acontece? Eis algumas explicações.

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Há uma crença geral de que as mulheres são responsáveis pela manutenção da família e, portanto, dos relacionamentos

“Na função de guardiãs, tentam interferir nos acontecimentos e demonstrar como é que funcionam certas regras sociais”, afirma Oswaldo Martins Rodrigues Jr., psicólogo, terapeuta
sexual e diretor do Inpasex (Instituto Paulista de Sexualidade Humana). A esculhambação pública de Jéssica seria, então, uma forma de proteger a família e mostrar como se faz quando alguém não segue certas normas.

O homem ainda é visto como um ser que não consegue controlar os seus impulsos

Em contrapartida, a mulher deve saber administrar os dela para manter a “família” em ordem. Ou seja, se Lucas sucumbir aos encantos de Jéssica, não fará nada além do previsto para um macho diante de uma moça “oferecida”.

“Homens podem ser cantados e recusar. E, se são comprometidos, a responsabilidade pela traição é deles. Só deles”, diz Mônica Bayeh, psicóloga clínica e psicoterapeuta.

O prazer feminino continua sendo um tabu

Mesmo após tantas conquistas importantes no quesito liberdade, as ideias sobre a sexualidade da mulher ainda continuam presas a conceitos antigos e ultrapassados.

“Mulheres como Jaqueline e Jéssica, que têm a coragem de colocar o próprio desejo em evidência, são julgadas e condenadas pelas outras, pois se tornam uma espécie de ameaça coletiva”, diz Araceli Albino, psicanalista e presidente do Sinpesp (Sindicato dos Psicanalistas do Estado de São Paulo). Isso incomoda, pois mexe com os desejos sexuais reprimidos das outras pessoas. Para mantê-los recalcados, nada melhor do que boas doses de puritanismo.

Uma mulher livre incomoda muita gente

“Por mais evidente que seja a evolução dos costumes, da porta para dentro, muitas famílias ainda criam os meninos para conquistar e as meninas para serem conquistadas”, diz a psicóloga Ellen Moraes Senra, especialista em terapia cognitivo-comportamental.

O público também costuma projetar suas questões em artistas e participantes de reality shows: assim, Jéssica, Jaqueline e Lucas podem representar algo que as pessoas são, temem ou gostariam de ser.

Há muita hipocrisia por aí

Para Ellen, o comportamento de Jéssica e Jaqueline é tido como “feio” porque as pessoas têm medo de admitir que são falhas e, para disfarçar isso, apontam o dedo umas para as outras.

“Na prática, é difícil alguém terminar um relacionamento e só depois ficar com alguém por quem está interessado. As pessoas experimentam antes, sim, para saber se vai dar certo. E vale lembrar que para um relacionamento chegar ao fim é necessário muito mais do que uma terceira pessoa envolvida”, fala Ellen.