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"Drag mulher é tabu": depois de reality, ela virou drag queen profissional

Morana Evermore no palco - Divulgação
Morana Evermore no palco
Imagem: Divulgação

Helena Bertho

do UOL

20/11/2017 04h00

Estreia nesta segunda-feira (20), o reality show "Drag me As a Queen", do canal E!. No programa, a tradição das drag queens se inverte: ao invés de homens, as participantes são mulheres que aprendem a se montar e performar com três das mais experientes queens brasileiras. Apresentado pelas drags Rita Von Hunty, Penelope Jean e Ikaro Kadoshi, o reality foi gravado no início do ano e promete apresentar histórias de valorização e autoestima. 

Para a bancária Miriã Bueno, 26, participar do show significou muito mais. Com o que aprendeu lá, ela se tornou uma drag queen profissional e atua como DJ nas festas do interior paulista desde então. Ao UOL, ela contou como foi toda a experiência e a transformação que aconteceu em sua vida.

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Miriã é uma bancária tímida que sonhava um dia se montar
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Sonhava ser drag, mas não tinha coragem

"Desde 2014, quando conheci o programa Ru Paul's Drag Race, sou encantada pelo universo das drag queens. Foi algo que mudou meu jeito de ver o mundo e abriu minha mente. Lembro que via a TV emocionada pelas histórias de vida dos participantes e pensava: 'imagina se algum dia alguém me montar".

Mas eu achava que drag era coisa de homem. Até que fui em uma festa em São Paulo e vi várias mulheres montadas. Que surpresa! Então eu também podia? Passou a ser um sonho que eu guardava dentro de mim, sem coragem de realizar, porque era muito insegura. Tinha medo de que me achassem ridícula. 

Meu sonho ia virar realidade

Quando soube que o programa estava selecionando participantes e vi quem seriam as apresentadoras, me enchi de animação. Eram as minhas drags favoritas. Se elas me montassem, não havia chance de ficar ridícula.

Mandei logo minha história e falei o quanto queria ter a oportunidade de estar com meus ídolos para aprender a ser uma drag também. Quase explodi quando recebi o telefonema confirmando minha participação. Liguei para um amigo, que sempre me incentivou, e chorava no telefone. Foi um sonho!

Nasce Morana Evermore

Fui para São Paulo em fevereiro e já comecei a chorar quando vi as apresentadoras. Era muita felicidade de estar com elas, ao mesmo tempo em que explodia de ansiedade. Será que eu ficaria bonita? E se tudo desse errado?

Não deu. Foi maravilhoso. Vi Morana Evermore --meu nome artístico-- surgir e ficar linda. Quando a Penélope me montou, tive a sensação de que nascia de novo. Era como se fosse outra pessoa.

Tanto que eu, tímida que só, consegui performar e arrasar na apresentação. Foi demais. Saí de lá renovada, acreditando muito mais em mim e no meu potencial.

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Imagem: Divulgação
Só de existir, faço a diferença

Depois disso, minha vida mudou por completo. No dia seguinte eu já queria mais. Na minha cabeça, reinava o pensamento: 'agora que eu existo, preciso fazer a diferença'.

Por coincidência, soube de um curso de DJ que estava começando em uma cidade vizinha e me matriculei. Fiz até o final de junho e dali alguns meses, tive a primeira oportunidade de me montar.

Vale lembrar que sou do interior, onde é muito difícil ver drag queens, muito menos mulheres. Então a partir da primeira festa, do momento em que comecei, passei a receber mensagens todos os dias, de gente pedindo dicas ou compartilhando suas histórias. Percebi, que só de existir como Morana Evermore, posso fazer a diferença mesmo!

Ser drag me deixou mais confiante

Quando sou Morana, posso ser outra pessoa. Enquanto no dia a dia sou uma bancária tímida, ela, não: já chega chegando, falando, quer se comunicar, não tem vergonha. Em sua pele, sinto que posso tudo. Quando chega, o lugar é seu. Já a Miriã, quando chega, apenas observa.

Montada, me sinto ousada. A mais bonita do mundo. E isso acabou influenciando também quem eu sou sem o figurino. Aumentou minha confiança. Se antes eu só sonhava, hoje eu acredito e vou atrás. E quero que isso inspire cada vez mais pessoas.

Ser drag mulher é um tabu que quero quebrar

Tem gente que acha que drag é coisa de homem. Mas eu vejo diferente. É algo independente de ser homem ou mulher. Drag é drag. Para mim, é quase como um gênero. 

E isso é um ato político sim. Porque drag é luta, a gente está para representar pessoas que não se sentem tão seguras para colocar sua cara a tapa. Independente de gênero ou orientação sexual, o que queremos é respeito. Ser drag mulher é um tabu e espero que com meu trabalho, a visibilidade aumente.

No fim, estou ali, montada, para representar o que acredito. O que nós, drags, exigimos é só uma coisa: respeito.