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Após 15 anos, mulher supera preconceito e engravida com óvulo doado

Segundo o Conselho Federal de Medicina, a doadora tem de ter até 35 anos e estar em tratamento de reprodução assistida - Getty Images
Segundo o Conselho Federal de Medicina, a doadora tem de ter até 35 anos e estar em tratamento de reprodução assistida Imagem: Getty Images

Adriana Nogueira

Do UOL

10/10/2017 04h00

A comerciante Carla*, 39 anos, casou-se aos 18 e, até os 23, tentou engravidar, sem sucesso. “Passei por muitos médicos e ouvia deles que sofria de infertilidade sem causa aparente.” Diante do diagnóstico, recorreu a FIV (Fertilização in Vitro) para tentar ser mãe.

“Fiz três FIVs e nunca peguei um exame positivo de gravidez. Fiquei tão arrasada, que cheguei a não querer sair de casa. Meu casamento quase acabou. Só quem passou por isso sabe a dor que é”, conta Carla. O desgaste fez com que ela deixasse as tentativas de lado por dez anos. “Eu me sentia a pior mulher do mundo.”

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Óvulos doados

Foi só há cerca de dois anos que ela resolveu procurar ajuda médica novamente. Depois de novos exames, o veredicto: poucos óvulos e com baixa qualidade. “A médica falou que uma saída seria fazer a fertilização com óvulos de outra mulher [entenda a ovodoação abaixo], mas, no início, não aceitei. Queria que meu filho se parecesse comigo.”

O marido de Carla também ficou resistente, a princípio. “Só comecei a mudar de pensamento quando encontrei uma página no Facebook que reunia receptoras de óvulos. Abri a cabeça conversando com elas.”

Casal manteve segredo

Na clínica de reprodução assistida que procurou, Carla recebeu três fichas com potenciais doadoras. “Todas tinham características físicas em comum comigo e com meu marido. Mas escolhi pela idade: sabia que, quanto mais jovem ela fosse, mais chance eu teria de engravidar.”

Feita a escolha, Carla teve dois embriões –óvulos da doadora fecundados com o esperma do marido– implantados e, logo na primeira tentativa, o resultado deu positivo. “Foi o dia mais lindo da minha vida. Peço a Deus que abençoe a doadora. Ela me deu a possibilidade de ser mãe”, fala ela, que é mãe de um menino, hoje com um ano.

Carla e o marido não contaram para ninguém o recurso que utilizaram para ter o filho. “Eu só aceitei depois de me informar muito, por isso sei que a maioria das pessoas não entenderia. Para a gente, a ovodoação, hoje, é só um detalhe.”

Como funciona a doação de óvulos

Segundo norma do CFM (Conselho Federal de Medicina), só podem ser doadoras de óvulos mulheres que tenham até 35 anos e que, no período do ato, estejam em fase de tratamento de reprodução assistida. O processo de doação é anônimo.

Em geral, as ovodoadoras são mulheres cujos maridos têm problema de fertilidade ou que querem congelar óvulos, seja para terem filhos mais tarde ou porque estão fazendo algum tratamento de saúde que pode causar infertilidade, como quimioterapia.

Antes de fazer a doação, elas tomam injeções subcutâneas para induzir a ovulação. Isso para que, em vez do normal de um óvulo por mês, liberem de 12 a 15. A coleta dos óvulos é feita por meio de punção com agulha, com a mulher anestesiada.

“Para cada oito óvulos colhidos há uma previsão de se conseguir dois embriões com qualidade para engravidar”, explica Thais Domingues, médica especialista em reprodução humana da Huntington Medicina Reprodutiva, clínica de São Paulo.

Depois da coleta, os óvulos são fertilizados com o esperma do pai, e os embriões implantados na mãe. “Por meio de um cateter se transfere para o útero os embriões. Em geral, a mulher não precisa de anestesia. É como se fosse um exame de papanicolau.”

* Nome trocado a pedido da entrevistada.